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agosto 17, 2017
Gabriel Lima no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Ao mesmo tempo em que se envolve e resiste às limitações da experiência empírica, Gabriel Lima direciona seu trabalho em busca da representação da consciência. Proximate Drivers é sua segunda exposição no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel e apresenta onze pinturas a óleo. Estes trabalhos etéreos incorporam a abordagem dinâmica e exploratória de sua prática com imagens que variam de pessoas a animais distintos, de paisagens surrealistas a abstrações puras.
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O coeso corpo de obras incluído aqui instiga uma leitura singular. Através de sua maneira fragmentada de representação, Lima encoraja reconstruções visuais e conceituais, questionando a relevância da pintura dentro e além dos limites do espaço expositivo. Inspirado em parte pelo seu interesse pelas complexidades sócio-geográficas do Brasil – como a urbanização maciça somada à dominação corporativa das terras rurais –, Lima continua a longa tradição na pintura de analisar a relação do homem com a natureza.
As mulheres retratadas por Lima trazem expressões dúbias, que traduzem vulnerabilidades e forças universais, transmitindo um senso compartilhado de resolução. O que elas estão olhando? Elas estão se protegendo, procurando algo, realizando algum tipo de trabalho? Ou talvez estejam simplesmente observando. Ou aguardando. A ênfase do artista sobre seus estados íntimos sugere tanto um sentimento de deslocamento quanto uma presença transcendente.
Talvez o senso de deslocamento dessas mulheres se deva às paisagens que as acompanham. As pinturas de paisagem intercalam os retratos, sugerindo que as personagens devem achar seu caminho através desses ambientes. No entanto, ao invés de espaços habitáveis, esses trabalhos desmontam o tempo com representações difusas que ora sugerem cenários idílicos do pré-Antropoceno, ora se revelam como terrenos devastados ou de outro mundo. Em várias dessas paisagens um sol à distância parece se pôr, embora não haja linha do horizonte além da qual possa ir. A profundidade expansiva que Lima cria ao longo das telas é abruptamente achatada pela inclusão de uma forma preta e fantasmagórica – com um tom pesado, mas de forma leve, a natureza contraditória desse elemento consegue desmanchar e expandir a tela ao mesmo tempo.
Em uma das maiores obras da exposição, uma capivara flutua sobre uma composição abstrata. Apesar de seu habitat natural ser as savanas e florestas, as capivaras se adaptaram para viver nas margens dos rios altamente poluídos de São Paulo. Em vez de ditar como os espectadores devem entender a presença desse animal – como símbolo de destruição ambiental ou de sobrevivência inesperada – as possibilidades de interpretação são deixadas em aberto. Este espaço intersticial dentro do qual nos encontramos enquanto examinamos as pinturas de Lima é a essência de sua obra.
Como John Berger escreve na primeira passagem de Modos de Ver: “[É] o ato de ver que estabelece o nosso lugar no mundo circundante. Explicamos esse mundo com palavras, mas as palavras nunca podem desfazer o fato de estarmos por ele circundados. A relação entre o que vemos e o que sabemos nunca fica estabelecida.” Aceitar a declaração de Berger é aceitar o potencial inerente de um espaço tão indefinível. Lima está fazendo exatamente isso – empurrando a pintura além das questões do olhar ou ver para perguntar sobre o ser.
Gabriel Lima nasceu em São Paulo em 1984. Vive e trabalha em Nova York. Graduou-se em Belas Artes na Cooper Union (Nova York, 2007-2010) e fez Mestrado em Pintura na Royal College of Arts (Londres, 2011-2013). Suas exposições individuais incluem: life, vest; coffee, tray, Kai Matsumiya (Nova York, 2016); Hanoi, Hanoi, Galeria Múrias Centeno (Lisboa, 2015); Autêntico, Union Pacific (Londres, 2015); Us And Them Forever Bound Up In Here And Now, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); world interior, Galeria Múrias Centeno (Porto, 2014). Entre as coletivas recentes, destacam-se: A Terceira Mão, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2017); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental (Basel, 2015); Jac Leirner, Albert Baronian Project Space (Bruxelas, 2015); Ex Materia, Berthold Pott (Colônia, 2015).
Simultaneously engaging with and resisting the constraints of lived experience, Gabriel Lima employs his paints in the pursuit of a representation of consciousness. Proximate drivers is his second exhibition at Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão and features eleven recent paintings in oil. Populated with images ranging from distinct people and animals, to surrealistic landscapes and pure abstractions, these ethereal paintings embody Lima’s dynamic and exploratory approach to his practice.
The cohesive body of works included here defy a singular reading. Through his fractured manner of depiction, Lima encourages various visual and conceptual reconstructions that supersede existing paradigms, while questioning the relevance of painting within and beyond the confines of the exhibition space. Inspired in part by his interest in the socio-geographical complexities of Brazil—such as massive urbanization in conjunction with corporate domination of rural lands—Lima continues the long-standing tradition in painting of analyzing man’s relationship to nature.
The women depicted in Lima’s portraits have dubious expressions, rendered in such a way as to portray essential and universal vulnerabilities and strengths and conveying a shared sense of resolve. What are they looking at? Are they protecting themselves, searching for something, performing some sort of labor? Or perhaps they are simply observing. Or waiting. Lima’s emphasis on their interior states suggests both a sense of displacement as well as a transcendent presence.
Perhaps their sense of displacement is due to the fact that the accompanying landscapes—through which one imagines these figures must negotiate their way forward—offer little salvation. Rather than portray an inhabitable space, these paintings collapse time with their depictions of environments that for a brief moment may read as halcyon pre-Anthropocene settings, before revealing themselves as post-industrial, or other-worldly, wastelands. In several of these landscapes a sun in the distance appears at first to be setting, though there is no horizon line beyond which it can fall. The expansive depth Lima creates throughout these canvases is abruptly flattened by the inclusion of a black ghost-like form that appears throughout the works on view. Heavy in tone, but light in form, the self-contradictory nature of this motif at once breaks down and expands the canvas.
In one of the biggest works in the show, a capybara is depicted over an abstract composition. Despite their natural habitat of savannas and forests, capybaras have adapted to live on the shores of São Paulo’s highly polluted rivers. Rather than dictating how viewers understand the presence of this animal—as symbolic of environmental destruction or unexpected survival—the possibilities for interpretation are left open. This interstitial space within which one finds oneself while examining Lima’s paintings is the essence of his practice.
As John Berger writes in the opening passage of Ways of Seeing: “It is seeing which establishes our place in the surrounding world; we explain that world with words, but words can never undo the fact that we are surrounded by it. The relation between what we see and what we know is never settled.” To accept Berger’s statement is to accept the potential that lies within such an indefinable space. Lima is doing just that—pushing painting beyond matters of looking and seeing in order to pose questions of being.
Gabriel Lima was born in São Paulo in 1984. He lives and works in New York. He graduated in Fine Arts from Cooper Union (New York, 2007-2010) e has a Master’s degree in Painting from Royal College of Arts (London, 2011-2013). His recent solo exhibitions include: life, vest; coffee, tray, Kai Matsumiya (New York, 2016); Hanoi, Hanoi, Galeria Múrias Centeno (Lisbon, 2015); Autêntico, Union Pacific (London, 2015); Us And Them Forever Bound Up In Here And Now, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); world interior, Galeria Múrias Centeno (Porto, 2014). His participations in group shows have most notably included: The Third Hand, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2017); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental (Basel, 2015); Jac Leirner, Albert Baronian Project Space (Brussels, 2015); Ex Materia, Berthold Pott (Cologne, 2015).