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agosto 15, 2017
Tão diferentes, tão atraentes na Carbono, São Paulo
A Carbono Galeria inaugura no dia 16 de agosto de 2017, durante a “Semana de Arte”, a exposição Tão diferentes, tão atraentes, com curadoria de Paulo Miyada e participação de 10 artistas.
A mostra reúne obras de Adriano Costa, Ana Prata, Beto Shwafaty, Daniel Senise, Jac Leirner, Janina McQuoid, Leda Catunda, Lucia Koch, Pedro França e Tiago Mestre, produzidas especialmente para a exposição a partir da proposição apresentada por Miyada, que aborda a questão de como obras de arte podem ser confundidas com objetos, a partir de uma funcionalidade.
Sobre a exposição, o curador escreve: “A chave, aqui, é enfatizar a relação inversa: que o que vale para as obras de arte valerá para os objetos cotidianos, em igual ou maior medida. A proposta em Tão diferentes, tão atraentes é comissionar e apresentar obras de arte que são também objetos e que, como obras e como objetos, têm a expectativa de estar futuramente na casa de alguém, subsistir em ambiente doméstico, seja lá o que tal ambiente tenha se tornado hoje. “
As obras, no total 13, passam a fazer parte do acervo de edições da Carbono, que conta hoje com diversos trabalhos de importantes e conceituados artistas. O coletivo escolhido pelo curador, traz artistas da geração 80, como Jac Leirner, Daniel Senise e Leda Catunda, de reconhecimento internacional, como também artistas jovens que estão despontando na cena artística brasileira, como o Pedro França e a Janina McQuoid.
“Os artistas foram convidados em função de seu interesse recorrente por aspectos da arte compartilhados com os do habitar: seja o design como disciplina e condensação de modelos para a vida, seja o ornamento e a decoração como pensamento imagético (cultural e identitário) realizado no espaço social ou, ainda, o flerte com a possibilidade de uso efetivo pelo espectador/usuário.” Comenta Paulo Miyada.
“Se, por um lado, esse desejo fez com que muitos trabalhos se aproximassem de arquétipos de mobiliários e ornamentos – azulejos, bibelôs, cortinas, bancos, luminárias, maçanetas… –, por outro, é fácil constatar que seus projetos provocam algum tipo de hiato que os distanciam de esquemas plausíveis para a indústria atual.”
Paulo Miyada - Curador e pesquisador de arte contemporânea. Possui mestrado em História da Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP), SP, pela qual também é graduado.
É curador do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, onde coordena o Núcleo de Pesquisa e Curadoria e colaborou com diversas exposições, entre elas “Tomie Ohtake 100-101” (2015), “Nelson Felix: Verso” (2013) “Paulo Bruscky: Banco de Ideias” (2012) e o programa “Arte Atual” (desde 2013). Também no Instituto, co-coordena o programa de cursos da Escola Entrópica, em que é professor.
Foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e integrou a equipe curatorial do “Rumos Artes Visuais” do Itaú Cultural (2011-2013) e da edição retrospectiva desse programa realizada em 2014. Foi curador adjunto do 34º Panorama da Arte Brasileira: “Da pedra, da terra, daqui”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP (2016).
Foi curador das mostras coletivas “A parte que não te pertence”, Wiesbaden, Alemanha (Kunsthaus Wiesbaden, 2014), “A parte que não te pertence”, Madri, Espanha (Galeira Maisterravalbuena, 2014), “Boletim”, São Paulo, SP (Galeria Millan, 2013), “É preciso confrontar as imagens vagas com os gestos claros” e “Em direto” (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2011 e 2012), entre outras.
Destaques
Beto Schwafaty por Paulo Miyada
Na produção artística de Beto Schwafaty, a palavra “produção” soa imprecisa – melhor seria, pesquisa, raciocínio ou demonstração artística. Isso porque sua prática concerne modos de cruzar investigações históricas com interesses críticos presentes em novos dispositivos espaciais (desde objetos apropriados até mobiliários e instalações construídos). Tais investigações constantemente passam pelos campos da política, do poder, da utopia, do urbanismo, da arquitetura, da arte, do design e, especialmente, por suas intersecções.
Dispositivo Anti Ego apresenta-se no espaço como um espelho redondo de escala e altura ideais para que os passantes o utilizem para observarem a si mesmos. Associado ao espelho, porém, estão um motor e um sensor de presença. Conforme o corpo do passante aproxima-se da distância adequada para melhor visualizar-se, o sensor ativa o motor que rotaciona o espelho e, assim, dissolve a feição ali refletida. Como o nome da peça indica, ela faz da negação da reflexão um artifício de resistência tão difundido ao impulso narcisista de nossa época.
Leda Catunda por Paulo Miyada
Leda Catunda trabalha junto aos objetos, materiais e signos que consumimos para delinear nossa identidade, gosto e imagem. Por consequência, seu campo de referência multiplicou-se de modo exponencial nas últimas décadas, até a presente situação em que a constituição da imagem individual consolidou-se como maior catal izador de energias, recursos e tempo de uma enorme parcela da população global. Velocidade, pluralidade e repetição tornaram-se, portanto, assuntos inescapáveis para a reflexão da artista. Como contramedida capaz de refrear os estímulos circundantes e organizá-los segundo certa ordem plástica, Leda Catunda aposta no desenho. É a definição de linhas e campos cromáticos que opera como linguagem estruturante de seus trabalhos, sejam eles eminentemente pictóricos ou objetuais.
Casais consiste um conjunto de azulejos de tamanho padrão, que podem ser instalados em múltiplos arranjos. O desenho de linhas vermelhas unifica em um mesmo traço diversas cenas associadas a romance e amor, segundo os buscadores online de imagens. Estereótipos de felicidade conjugal justapõem-se como um painel de modelos de felicidade a ser perseguido, ou, pelo menos, reproduzido para tirar novas fotos que poderão somar-se ao oceano de imagens diferentes, porém iguais, que abastecem as redes sociais.
Daniel Senise por Paulo Miyada
A produção de Daniel Senise opera cortes, montagens e imbricações de substâncias carregadas de múltiplos níveis de significação. Há os rastros impressos pelo tempo, as formas atribuídas pelo desenho e as profundidades (ou planaridades) inferidas pelos sistemas de representação - tudo colapsado em uma mesma construção. Assim, ver uma de suas obras implica não apenas olhar, mas também decifrar, rememorar, especular e, ao mesmo tempo, confundir e esquecer.
Luminária Parque Lage foi moldada em bronze a partir de um longo galho coletado no parque a que se refere o título da obra. Assim, a matéria orgânica adquire outra duração, outro peso, outro lugar. Em seus braços, uma lâmpada aplica-se em arranjo móvel, que pode ser rearranjado para alturas maiores ou menores, equilíbrios mais ou menos estáveis.
Banco Ed. Lugano também remove uma matéria sujeita à ação do tempo e a cristaliza em novo corpo, para sustentar outros corpos. Os tacos de madeira marchetados em padronagem geométrica, removidos de um apartamento no edifício homônimo, reestruturam-se como assento de um banco. Em ambos os objetos, coloca-se embaralham-se as vidas passadas e os desígnios futuros dos objetos.