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agosto 10, 2017
Tomie Ohtake na Nara Roelser, São Paulo
Nesta exposição de Tomie Ohtake na Galeria Nara Roesler, o curador Paulo Miyada traz mais uma chave para alcançar o pensamento plástico da consagrada artista brasileira. Focada em pinturas da década de 70, acrescida de algumas gravuras, a mostra inclui parte dos cadernos da pintora - muito pouco conhecidos, mesmo no circuito das artes -, nos quais pequenas colagens revelam como se iniciava a experimentação pictórica de Tomie.
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Os delicados estudos eram feitos a partir de um procedimento singular: rasgar, cortar e colar recortes de papéis comuns do dia-a-dia, como revistas, convites, jornais, folhetos etc. "Prestar atenção nessa processualidade de Tomie Ohtake é ganhar acesso aos vínculos de sua pintura com o acaso, a gestualidade e a ousadia cromática", assinala o curador.
Miyada aponta que os diminutos estudos são um recurso consistente e recorrente na obra da artista até meados da década de 1980. "As composições encontradas serviam de roteiro para pinturas e gravuras que experimentavam diferentes escalas e combinações cromáticas. É como se a prancheta com papéis recortados fosse uma zona de mineração de formas e encontros de cores", observa o curador.
Em suas composições da década de 60, Tomie rasgava os pedaços de papel para criar a gênese de suas pinturas. "As figuras, no caso, assemelham-se a formas geométricas simples, porém de contornos tremeluzentes; guardam a memória de terem sido rasgadas com a ponta dos dedos", ressalta o curador. Já na década de 1970, quando as pinturas começaram a lidar com formas de contornos mais nítidos, os estudos também se transformaram, pois a artista passou a utilizar a tesoura - e nunca régua e estilete - para cortar os papéis. "Era uma forma de lidar com a instantaneidade do gesto e impregnar todo o processo de pintura com seu equilíbrio entre acaso e controle".
Miyada destaca ainda que essas composições dos anos 1970 ficaram mais densas, o branco (a folha em branco) foi tomado por áreas de cor, às vezes sugerindo paisagens. "As texturas da pintura, surpreendentemente, muitas vezes nascem na própria colagem, apropriadas de materiais fotográficos diversos. A paleta cromática também se expande, num corpo a corpo com o cromatismo de uma época que flertava com a psicodelia", completa.
In Tomie Ohtake: On the Tips of the Fingers at Galeria Nara Roesler | São Paulo, curator Paulo Miyada provides yet another key to grasping the plastic thinking of this acclaimed Brazilian artist. Comprising of paintings from the 1970s, as well as a few engravings, the exhibition also features some of the painter’s sketchbooks – which are little known, even within the art circuit – containing small collages that allow a glimpse into the genesis of Ohtake’s pictorial experimentation process.
These delicate studies follow a unique process: tearing out, cutting up and pasting together cutouts from everyday media such as magazines, invitations, news dailies, leaflets etc. “To pay attention to Tomie Ohtake’s process is to gain access to her paintings’ connections with chance, gestures and chromatic boldness,” the curator remarks. Miyada points out that these minuscule studies are a consistent and recurrent resource in the artist’s oeuvre up until the mid-1980s. “These found compositions worked as a script for paintings and engravings that experimented with different scales and color combinations. It is as though the clipboard with cutouts was a mining area for shapes and color combinations,” the curator notes.
In her 1960s compositions, Ohtake would tear up pieces of paper as a starting point for her paintings. “The figures here resemble simple geometric shapes, but their outlines are shimmering; they contain the memory of having been torn with the tips of the fingers,” Miyada says.
Later, in the 1970s, when the paintings began to deal with shapes that had clearer-cut contours, the studies also morphed as the artist began to use scissors – never a ruler or a utility knife – to cut up the paper. “It was a way of dealing with the instantaneousness of the gesture and of balancing out chance and control throughout the entire painting process.”
Miyada also highlights that these 1970s compositions grew denser; the whiteness (the blank sheet) was encroached by areas of color, occasionally suggesting landscapes. “The textures in the paintings often surprisingly emerge from the collage itself, appropriated from assorted photographic materials. The color palette also expands, meeting face to face the chromaticism of an age that flirted with psychedelia,” he concludes.