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agosto 9, 2017
Dan Graham na Nara Roelser, São Paulo
“Assim como a arte está internalizada na sociedade, a arquitetura que a expõe é definida pelas necessidades da sociedade como um todo e pela arte enquanto necessidade institucional. A arte enquanto instituição produz significados e posições que regulam e contêm a experiência subjetiva das pessoas situadas no interior de suas fronteiras”
– Dan Graham, “Arte em Relação à Arquitetura / Arquitetura em Relação à Arte”, Artforum, 1979
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A Galeria Nara Roesler | São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira individual de Dan Graham (n. Urbana, IL, EUA, 1942) em seu espaço. A mostra exibirá Wave Form I (2016), obra criada especialmente para a ocasião, além de seis maquetes Sem Título (2011-2016) e o vídeo Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005). Paralelamente à exposição, a Galeria Nara Roesler, em colaboração com o MIS , apresentará dois vídeos emblemáticos de Dan Graham: Rock My Religion (1983-1984) e Don’t Trust Anyone Over 30 (2004). As sessões acontecerão no auditório do MIS - Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, no domingo, 13 de agosto de 2017, às 16h, sendo seguidas de mesa-redonda com Marta Bogéa, Agnaldo Farias e Solange Farkas, que conduzirão um debate sobre a obra do artista.
Apresentada no mundo todo, a série Pavillions de Graham é representativa de seu envolvimento crítico com os parâmetros visuais e cognitivos da linguagem arquitetônica dentro e fora das instituições de arte. A exposição contribui para elucidar a obra do artista, que desde a década de 1960 realiza experimentos multimídia envolvendo performances, vídeos e arquitetura, no sentido de refletir não apenas sobre as instituições de arte e seu contexto comercial, como também sobre as implicações sociais das estruturas de consumo, representação e comunicação.
Ao despontar na cena artística nova-iorquina durante a década de 1960, Graham detectou, na prática dos artistas minimalistas, uma semelhança com o funcionalismo na arquitetura, já que ambas as correntes acreditavam na forma “objetiva” e “negavam o significado conotativo e social e o contexto de obras de arte ou arquiteturas circundantes”. Desde 1976, o artista produz Pavilhões (Pavillions) de vidro e espelhos que aliam a materialidade objetiva da arte ao seu significado conotativo. “De início, o espectador poderá enxergar a estrutura e os materiais em termos puramente estéticos; após passar algum tempo naquele espaço … os aspectos psicológicos e sociais dos materiais e da estrutura se tornarão evidentes”, o artista descreve. Graham cria uma experiência subjetiva para o espectador, que é levado a participar de um jogo de exclusão e inclusão psicológica no qual, ao invés de observar obras de arte ou produtos, torna-se ele próprio o objeto do olhar do outro. A utilização de vidro e espelhos para modificar a experiência dos espectadores encontra um corolário em espaços públicos, como certas áreas de aeroportos internacionais e alas de maternidade, onde esses materiais são usados como divisórias e delimitadores. Como afirma o artista, “nos contextos artísticos, muitas vezes somente os efeitos estéticos do vidro e dos espelhos são notados; ao passo que, fora do contexto expositivo, esses mesmos materiais são empregados para controlar a realidade social de uma pessoa ou grupo de pessoas”.
Graham é um escritor prolífico e muitos de seus textos abordam questões de classe, gênero, cultura popular e história da sociedade. Para o curador Bennet Simpson, Rock My Religion (1983-1984), juntamente com os escritos do artista sobre as “ramificações ideológicas da música punk, fez de Graham um precursor daquilo que, nos círculos acadêmicos, começava a ser chamado de ‘estudos culturais’.” O documentário Rock My Religion é uma colagem de música, textos e imagens em vídeo que relaciona a história de grupos religiosos dos Estados Unidos ao desenvolvimento do rock’n’roll. A obra cria uma genealogia cultural que começa com os Shakers, um antigo grupo religioso que pregava o celibato e o trabalho e que se reunia uma vez por semana para realizar rituais religiosos nos quais os fiéis giravam e dançavam até entrar num estado hipnótico. As coincidências entre o movimento do rock e os Shakers vão além do fato de ambos incorporarem o transe a suas práticas. Como escreve Graham, “Na década de 1950, surgiu uma nova classe, uma geração cujo dever não era produzir, e sim consumir; eram os ‘adolescentes’. Libertos da ética do trabalho, para não fazerem aumentar o desemprego no pós-guerra, e da ética puritana do trabalho, sua filosofia era a diversão. Sua religião era o rock’n’roll. O rock inverteu os valores da religião americana tradicional.” Rock My Religion destaca o surgimento da cultura do rock como um marco no desenvolvimento de uma cultura adolescente guiada pelo mercado e surgida no contexto do pós-guerra.
Muitas das obras de Graham escondem uma análise semiótica, abordando os símbolos e sua interpretação na sociedade contemporânea. O título de Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) faz referência à placa do nome de uma loja no shopping center retratado no vídeo. Produzida por Graham no Banff Center, Canadá, a compilação de 8 minutos registra atividades cotidianas filmadas no shopping center ao longo de quase 20 anos. O curta mostra grama sintética, filhotes de onça domesticados, um chafariz decorativo numa praça de alimentação e garotos brincando em piscinas. A obra chama a atenção para a abundância de símbolos de consumo, lazer e entretenimento colocados na paisagem construída do shopping, em grande medida composto de vidro e paredes espelhadas, superfícies e divisórias. O vídeo ecoa os textos de Graham sobre espaços públicos, numa crítica ao ecossistema comercial capitalista criado pela linguagem visual e estrutural do shopping center, uma estrutura corporativa capitalista. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) aborda a pergunta que, segundo Graham, está implícita em toda obra arquitetônica: “qual é a relação da arte e da arquitetura e seu efeito sociopolítico em seu ambiente imediato?”
Just as art is internalized within society, the architecture that displays it is defined by the needs of society at large, and by art as an institutional need. Art as an institution produces ideological meanings and positions that regulate and contain the subjective experience of people placed inside its boundaries.
— Dan Graham, “Art in Relation to Architecture / Architecture in Relation to Art,” Artforum, 1979
Galeria Nara Roesler | São Paulo is pleased to present a solo exhibition of Dan Graham’s works (b. Urbana, IL, USA, 1942), on view August 12 through November 4, 2017. The first exhibition of Graham’s work at Galeria Nara Roesler features Pavilion (2016), a new work created specifically for the occasion, in addition to six untitled maquettes (2011–2016) and the video work Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986–2005). Parallel to the exhibition, the Museum of Image and Sound will screen two of the artist’s emblematic video works: Rock My Religion (1982–1984) and Don’t Trust Anyone Over 30 (2004). Presented in collaboration with Galeria Nara Roesler, the screenings will take place at the museum on Sunday, August 13, at 4pm, followed by a roundtable with Marta Bogéa, Agnldo Farias and Solange Farkas, who will engage in a discussion about Graham’s works, also at the Museum.
Exhibited across the globe, Dan Graham’s pavilions are emblematic of his critical engagement with the visual and cognitive parameters of architectural language within and outside of art institutions. This exhibition provides insight into the oeuvre of an artist who has, since the 1960s, engaged in multimedia experiments in performance, video, and architecture as means to reflect not only on the art institution and its commercial context, but also on the social implication of structures of consumption, representation, and communication.
Emerging in the New York art scene in the 1960s, Graham detected in the approach of Minimal artists a similarity with Functionalism in architecture, insofar as both believed in “objective” form and, as the artist wrote in the essay “Art in Relation to Architecture / Architecture in Relation to Art,” “denied the connotative, social meaning and the context of other, surrounding art or architecture.” Since 1976, Graham has been producing glass and mirror pavilions, which bridge the gap between the objective materiality of art and its connotative significance. As described by the artist, “a first effect for the spectator might be to see the structure and materials in purely aesthetic terms; after a time in the space … the psychological and social aspects of the materials and structure would become evident.” Graham creates a subjective experience for the viewer, who is led to participate in a game of psychological exclusion and inclusion wherein he does not observe artworks or commodities, but instead is himself an object of the gaze. The use of glass and mirrors to modify the experience of viewers finds a corollary in public spaces such as those found in international airports and maternity wards, where these materials are used as partitions and delimitations. As the artist points out, “within the art context it is often only the aesthetic effects of glass and mirror which are noticed, whereas outside the exhibition frame, these same materials are employed to control a person or a group’s social reality.”
A prolific writer, Graham has often focused on issues such as class, gender, popular culture, and social history in his texts. In fact, curator Bennett Simpson believes that Rock My Religion (1982–1984), along with the artist’s writings about the “ideological ramifications of punk music,” positioned Graham as a precursor to what in academic circles was becoming known as ‘cultural studies.’ A documentary collage of music, texts, and film footage, Rock my Religion contrasts the history of religious groups in the United States with the development of rock ’n’ roll. The piece creates a cultural genealogy that begins with the Shakers, an early religious group that promoted celibacy and labor, convening once a week to perform religious rituals in which worshipers rocked and reeled into a hypnotic state. The connection between the rock movement and the Shakers goes beyond the mutual incorporation of trances into their practices. Graham writes, “In the 1950s a new class emerged, a generation whose task was not to produce but to consume; this was the ‘teenager.’ Freed from the work ethic so as not to add to postwar unemployment and liberated from the Puritan work ethic, their philosophy was fun. Their religion was rock ’n’ roll. Rock turned the values of traditional American religion on their head.” Rock My Religion highlights the emergence of Rock culture as a signpost for the development of a market-driven teenage culture that emerged in the postwar context.
Don’t Trust Anyone Over 30 (2004) shares with Rock My Religion the capacity to pierce the American dream in its consideration of an individualistic youth-culture, which conspires with mainstream media and delights in a market of mass consumption. Conceived as a live puppet show and written by Graham, the work was enacted in collaboration with puppet master Phillip Huber and set designer Laurent Bergen, with live music by Japanther, theme by Rodney Graham, and video projections by Tony Oursler. The multimedia work depicts the story of Neil Sky, the youngest-ever President of the United States, who rises to power by dosing Congress with LSD and lowering the voting age to 14. Sky’s platform consists of free dope, free love, and re-education of everyone over 30 through imprisonment in concentration camps. The multimedia theatrical setup that Graham employs to convey the narrative indicates the artist’s interest in systems of communication and rituals of gathering as sociopolitical instruments. Similar to Graham’s pavilions, the Brechtian Gesamtkunstwerk deconstructs the entertainment aspect of the media forms employed, while considering theater symbolically as a vehicle that at once restricts and releases the partition between audience and art.
A semiotic analysis often underlies Dan Graham’s work, which approaches symbols and their interpretation in contemporary society. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986–2005), produced by Graham at the Banff Centre, Canada, captures humdrum activity at the West Edmonton Mall spanning almost 20 years. The eight-minute compilation shows a synthetic grass garden, domesticated jaguar cubs, an ornamental fountain within a food court, and pools crowded with children. The short video, whose title refers to a store in the mall, draws attention to the plethora of symbols of consumption, leisure, and entertainment placed within the mall’s built landscape, which is largely composed of glass and mirrored walls, surfaces and enclosures. The work embodies Graham’s texts on public spaces in its critique of a capitalist commercial ecosystem created through the visual and structural language of the shopping mall, a corporate capitalist structure. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) touches on the question that, according to Graham, is implicit in every architectural work: “What is art and architecture’s relation to and sociopolitical effect on their immediate environment?”