|
agosto 2, 2017
Retroperformance na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Mostra reúne materiais de arquivo raros e inéditos de 14 artistas do eixo Rio-São Paulo
A Caixa Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 5 de agosto a 8 de outubro de 2017, a exposição Retroperformance, que abarca a surpreendente produção artística da década de 1980 de alguns dos nomes mais representativos da performance do eixo Rio-São Paulo em vídeos, fotografias, filipetas, jornais, cartazes, cadernos, croquis e storyboards. Com curadoria de Grasiele Sousa, Lucio Agra, Joanna Barros e Samira Br, do grupo Brasil Performance, a mostra conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
A abertura, no dia 5 de agosto (sábado), às 15h, será marcada por um debate com os curadores, seguida de uma apresentação de performances ao vivo com os artistas Guto Lacaz, Otávio Donsaci, Ricardo Basbaum, Alexandre Dacosta, Mauricio Ruiz e Alex Hamburger.
Na seleção dos trabalhos expostos, constam arquivos raros e alguns ainda inéditos de de nomes como Lenora de Barros, Aimberê Cesar, Renato Cohen, Otávio Donasci, Guto Lacaz; das duplas Alex Hamburger e Márcia X, Lucila Meirelles e José Roberto Aguilar, Dupla Especializada (Ricardo Basbaum e Alexandre Dacosta) e do coletivo 3NÓS3 (Mário Ramiro, Rafael França e Hudnilson Jr). Para o time de curadores, “esses artistas tensionavam o limite, se rebelavam e usavam todos os recursos disponíveis naquela época, inclusive a performance, para fazer da sua vida, arte”.
Essa indistinção entre obra e documentação aparece em diversos artistas da época, quando casas noturnas promoviam atrações com bandas de garagem acompanhadas de performances de pintores, atores e bailarinos que partiam para alguma coisa diferente do que sempre se fazia. Estátuas eram ensacadas, triciclos invadiam concertos musicais, e mesmo os circuitos mais “caretas” – as livrarias e poucas galerias de arte – eram literalmente invadidos por “Interversões”, “Videocriaturas” (Otávio Donasci), “Eletroperformances” (Guto Lacaz), praticantes de “Zen-Nudismo” (Aimberê Cesar) e outras comunidades de poetas, músicos e “malucos” em geral. “Era possível performar na rua, na praia, no bar, na boate, mas também na galeria, no teatro, no cinema, no show”, acrescentam.
Em um dos destaques, “Ícones do Gênero Humano” (1988), de Márcia X e colaboração de Alex Hamburger, há todos os elementos presentes numa exposição profissional de artes visuais como galeria, iluminação, convites, divulgação, coquetel, livro de assinaturas, mas o que se consideraria “mais importante” não está presente: a obra. Os artistas tornam nítido que a “obra” é tudo ali e não somente o que se “vê” na galeria. É, de certo modo, a aparição da herança conceitual presente num ato de performance: performance dos artistas, do público, da galeria, dos objetos e das pessoas, é a situação pondo-se à prova dela mesma. “O garçom performa. Os convites performam”.
Com um distanciamento de quase 40 anos, o conjunto de obras de “Retroperformance” resgata esse espírito de “do it yourself”, quando as soluções técnicas de registro de performance em suportes como Betamax e VHS, a divulgação das mostras com lambe-lambes e filipetas e, sobretudo, a produção dos trabalhos, eram feitas pelos próprios artistas ou pelos grupos a que se associavam. “Naquele momento de urgência criativa, lançava-se mão dos recursos técnicos disponíveis, por isso o que se vê na mostra são recortes e fragmentos ‘low-tech’ de algo cujo frescor original é irrecuperável”, arrematam os curadores.
Como parte da programação, a mostra apresenta, no dia 23 de setembro (sábado), às 14h, a oficina “Retroperformance”, voltada para artistas e interessados na linguagem da performance. A atividade, ministrada pela curadora Grasiele Sousa, é gratuita, e as inscrições devem ser realizadas pelo e-mail oficina@espacoliquido.com.br.