|
agosto 1, 2017
Helena Trindade no CAHO, Rio de Janeiro
Helena Trindade abre a individual “Domínio Lacunar”, a partir de arquivos do Centro Municipal de Artes Helio Oiticica
A convite do Centro Municipal de Artes Helio Oiticica – CMAHO –, a artista Helena Trindade vai abrir, no local, no dia 5 de agosto, sábado, às 12h, a exposição Domínio Lacunar. Com curadoria de Glória Ferreira, a mostra foi pensada e executada especialmente para esse espaço a partir dos documentos do arquivo do CMAHO.
Para a artista, todo arquivo é um recorte onde as ideias de completude e de objetividade não se aplicam. Daí o nome “Domínio Lacunar”. Helena Trindade se apropria dos arquivos do CMAHO e ocupa as duas galerias do pavimento térreo com instalações construídas com catálogos e cópias de documentos que registram as atividades do local. Com eles, a artista constrói pequenas caixas que, enquanto módulos de apelo táctil e visual, estruturam os trabalhos apresentados. Ocas, no entanto, mostram fotos e escritos de uma forma fragmentária que demanda do espectador sua “investigação” e sua leitura singular. Reunidos de maneira mais ou menos aleatória, imagens e texto deflagram encontros poéticos. Aliás, um traço marcante nas exposições de Helena é a presença da imagem e da escrita, que ela modifica e dispõe de uma maneira própria, segundo sua pesquisa de vinte e dois anos em Poesia Visual.
“Para Helena Trindade, a abordagem do espaço onde vai expor é fundamental na concepção da própria exposição, quer pela história do lugar, de suas vivências e simbolismos. Assim são suas instalações no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, com um conjunto de cópias do arquivo desta instituição”, explica a curadora.
Na primeira galeria, são apresentados dois trabalhos que fazem referência à obra de Helio Oiticica, artista carioca que completaria 80 anos este ano. São eles: Bólide AHO e Coluna AHO (AHO querendo dizer “a Helio Oiticica”). O primeiro consiste numa caixa que, construída com a imagem de uma maquete de um Penetrável de Helio Oiticica, é coberta com a mesma tela vazada branca utilizada no estudo do artista. Já Coluna AHO, que se estende do piso ao teto, foi construída com pequenas caixas dos documentos das exposições de Helio Oiticica no CMAHO. Ela faz referência aos Bólides, Ninhos, Tropicália, Magic Square e outras obras de Helio, onde a artista vislumbra a ideia de caixa. A coluna também é pontuada por elementos de cores primárias, uma alusão ao gosto de Oiticica pela obra de Mondrian.
Na segunda sala, Helena apresenta os trabalhos Cata-clismo e Maquinária. O primeiro é construído com catálogos do CMAHO que se “derramam” verticalmente uns sobre os outros e que privilegiam imagens de quadrados, caixas e cubos de autoria de vários artistas. Maquinária é elaborado com documentos, a partir de 2014, transformados em pequenas caixas. São clippings de imprensa, fotos, esquemas de montagem, listas de materiais de produção, convites de exposições, seminários, debates, defesas de tese, agenda de visitas de escolas, entre outros materiais. “Eles compõe uma espécie de ‘escrita do tempo’, onde as pessoas poderão (re)conhecer uma infinidade de atividades desenvolvidas pelo lugar”, diz Helena.
Para a artista, todo arquivo é não-todo, lacunar, sendo esta a condição de possibilidade de sua renovação. “Essa ambiguidade me leva a identificar lacunas nas caixas ocas, porém plenas de informações, nos espaços vazios que pontuam as instalações, na abertura para a interpretação singular de cada visitante, no conjunto fragmentado que determina a maneira sempre parcial e indireta como é apresentado e percebido”, finaliza a artista.
Helena Trindade vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua produção compreende instalações,objetos, vídeo, poesia visual, fotografia, design gráfico e projetos site-specific. Seu trabalho se identifica com a forte tradição brasileira em Poesia Visual. Ele se concentra na materialidade da linguagem, na tensão entre o enunciável e o visível. Desde 1994, a artista tem sido convidada a desenvolver projetos para algumas das mais prestigiadas instituições, sendo que entre as nacionais figuram: SESC, Paço Imperial, Oi Futuro Centro de Arte e Tecnologia, Casa de Cultura Laura Alvim, FUNARTE, Museu da República, Centro de Arte Helio Oiticica, Centro Cultural São Paulo, Espaço Cultural Sérgio Porto e Instituto FEBRABAN de Educação. Helena atuou, ainda, nas seguintes instituições internacionais: City University of New York, École d’Art d’Avignon durante o Ano do Brasil na França, Universidade de Coimbra, University of Hawaii, Metrospace da Prefeitura de East Leasing-Michigan, Fundação Potuguesa das Comunicações de Lisboa e Art Radio da Universidade de Maryland, entre outras.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ, iniciou livre formação artística na EAV Parque Lage, onde participou dos núcleos de Escultura, Desenho, Gravura, Teórico e de Aprofundamento em Pintura. Em Nova York, cursou Gravura na Art Students League, Teorias da Arte Contemporânea na School of Visual Arts e na New York University. Em 2003, concluiu Mestrado em Linguagens Visuais na Escola de Belas Artes da UFRJ, sob a orientação de Gloria Ferreira, com destaque para a qualidade do trabalho plástico apresentado na dissertação “Campo minado”. Já apresentou exposições no Brasil e no exterior.