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julho 25, 2017
Lia Chaia na Vermelho, São Paulo
A Galeria Vermelho apresenta Pulso, individual de Lia Chaia, de 25 de julho a 26 de agosto de 2017. Paralelamente, a Sala Antonio de projeção exibe a Mostra Lia Chaia, com um conjunto de 18 vídeos de Chaia.
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A produção de Lia Chaia, iniciada no final da década de 1990, é pontuada por sua constante experimentação em diferentes séries de trabalhos realizados nos mais variados suportes, mantendo em si um diálogo contínuo entre o corpo humano e suas relações com o entorno, em especial com a cidade. Suas experimentações com o próprio corpo iniciam-se ainda na faculdade de artes, quando começa a utilizar sua constituição em diversas performances, fotografias e vídeos. O corpo e a cidade – o natural e o construído –, na obra de Chaia, vivem em atrito e fusão. Esse amálgama é por vezes sereno e por outras revolto.
Lia Chaia
Em Pulso, sua sétima individual na Vermelho, Lia Chaia ressalta sua reflexão sobre o corpo humano, em especial, sob duas óticas: a situação do corpo frente às pressões originadas pela sociedade e o afastamento gradativo da relação homem- natureza. Embora tais tensões perpassem todos os trabalhos, a artista detém-se agora nas especificidades que compõem o organismo humano como sinal da vitalidade, enfatizando o aspecto pulsante do corpo.
Assim, em Pôster (2017), Lia Chaia parte de mapas de anatomia humana típicas de livros de medicina, nos quais o corpo é padronizado e estruturado dentro de uma fisiologia esquemática, e interfere sobre eles com elementos que lembram células sanguíneas ou órgãos humanos. As “células” escapam o traçado dos mapas, refletindo o imponderável da compreensão da morfologia humana.
Em Articulações (2017), as mesmas partículas sanguíneas surgem por cima de telas de nylon cinza, delimitando perímetros que evocam corpos humanos. Há aí um jogo de inversões; os glóbulos e plaquetas que se mantém no interior do corpo, percorrendo seu perímetro e estrutura se tornam superfície, e as telas de nylon (conhecidas como fachadeiras), comumente usadas para proteger edificações em construção - como peles - se tornam estrutura. A série faz referência ao corpo humano fragilizado e mutável da contemporaneidade.
Cabeças (2017) são cubos sobrepostos a bases que simulam o porte de Chaia. Os cubos, com seus emaranhados de cabos e fios elétricos, rompem com a perfeição esperada da forma geométrica. Os cabos pendentes sugerem veias expostas que escorrem até o chão.
O vídeo Faces (2016) enquadra um humano multifacetado. O recurso das máscaras que se sucedem aponta para o estado que é ao mesmo tempo alheado e atento na sociedade atual. Com Faces Lia Chaia volta a colocar o próprio corpo em performance para a câmera de vídeo e, junto a Mostra Lia Chaia 2000-2016, na Sala Antonio, a Vermelho exibe 19 vídeos de Chaia durante Pulso.
Pele (2017) é uma ação registrada em fotografia que situa o corpo no cenário da metrópole. No embate entre o urbano e o natural, a sobrevivência depende da permanência e proteção da pele feita do natural. Ou da capacidade e insistência em trocar a própria pele para suportar tal embate.
Em Camuflagem (2017), duas fotografias apresentam corpos fundidos com a paisagem natural. As imagens combinam o humano com o ambiente natural em uma unidade orgânica.
Ainda compõem a exposição as obras Tiras (2017) e Setas trançadas (2017), que tratam da circulação em um ambiente hibrido, natural e urbano ao mesmo tempo, assim como na instalação sonora Assobio (2017). No áudio, um som corriqueiro de rua marca um caminhar despretensioso. Trata-se de instalação que se esparrama pelo espaço da galeria.
Mostra Lia Chaia
A produção em vídeo de Lia Chaia inicia-se durante seus anos como estudante de artes plásticas na Fundação Armando Alvares Penteado, FAAP, (São Paulo, Brasil) e segue até hoje como uma constante em sua produção. Do robusto corpo de trabalhos da artista nessa mídia, a Vermelho apresenta aqui um recorte de 18 obras em sequência cronológica.
O uso da mídia por Chaia remonta ao inicio da videoarte no Brasil entre fins de 1960 e inicio dos anos 1970, quando o acesso a câmeras portáteis se iniciou no país com câmeras Portapak que eram trazidas do exterior. Essas câmeras eram alimentadas por baterias e podiam ser carregadas por apenas uma pessoa, ao contrário dos equipamentos então utilizados pela televisão, que eram grandes e, portanto, tinham sua mobilidade reduzida. A portabilidade introduzida pela Portapak permitia gravações externas a estúdios e, assim, permitiam menos planejamentos e mais experimentações. As câmeras também permitiam registro de performances contestadoras em situações privadas em um contexto aonde a ditadura militar e a censura predominavam.
A câmera de Lia Chaia é também testemunha das experiências com o (próprio) corpo realizadas pela artista. Seus planos são predominantemente estáticos e, ou, sequenciais, e reforçam a experiência vivida na situação registrada como dado principal dos trabalhos, tendo como antagonistas constantes sua própria constituição e o entorno. Corpo e entorno se traduzem em natureza e construção, primitivo e engenharia; uma oposição que está presente no próprio fazer, em um confronto entre Lia Chaia e o aparelho de gravar.
Ao confrontar os trabalhos cronologicamente, podemos perceber as influencias do rápido avanço tecnológico das filmadoras na produção de Chaia. Com o desenvolvimento dos equipamentos, a artista introduz preocupações formais na elaboração de seus planos, como podemos observar em 2010, com Glam, e em 2013 com Piscina e com Aleph. Em Aleph, temos a primeira ação não realizada pela própria artista registrada em um de seus vídeos. Dessa vez Chaia permanece por trás da câmera, gravando a ação executada por Fabíola Salles sob sua direção.
Lia Chaia em 2015 produz o vídeo Para GB, uma homenagem a Geraldo de Barros. Ali, Chaia retoma seu corpo como instrumento em uma ação registrada em contexto privado, aproximando-se da poética do homenageado e reaproximando-se de um dado primitivo de sua produção.
Bolas, de 2016, retoma outra característica da obra de Lia, registrando seu percurso pela cidade durante uma performance, como notou Priscyla Gomes em seu texto sobre a exposição É como dançar sobre a artquitetura, realizada por Chaia no Instituto Tomie Ohtake em 2016: “O vídeo Bolas (2016), registra o percurso do corpo da artista agigantado pelo acúmulo de bolas, remetendo a ações cômicas de um clown e devolvendo ao corpo-pedestre certa espontaneidade, humor e proteção.”
EXPOSIÇÃO
Lia Chaia – Pulso (salas 1 e 2)
Lia Chaia – Mostra Lia Chaia 2000-2016 (Sala Antonio)
Programa
Big Bang – 2000 / 2’45’’
Um.bigo – 2001 / 59’47’’
Ressonâncias – 2001 / 10’19’’
Desenho-corpo – 2001 / 49’51’’
Com a sorte dos que gozam – 2001 / 2’18’’
Circulando pinheiros – 2002 / 2’13’’
Cidade pictórica – 2003 / 33’52’’
Comendo paisagens – 2005 / 29’26’’
Minhocão – 2006 / 18’07’’
Ascensão – 2008 / 2’59’’
Argola – 2008 / 3’10’’
Rodopio – 2009 / 5’03’’
Skeleton Dance – 2010 / 5’23’’
Glam – 2010 / 10’14’’
Piscina – 2013 / 6’50’’
Aleph – 2013 / 2’53’’
Para GB – 2015 / 8’55’’
Bolas – 2016 / 4’14’’
Classificação: Livre
Capacidade: 30 Lugares
Galeria Vermelho is presenting Pulso [Pulse], a solo show by Lia Chaia, from July 25 through August 26, 2017. In parallel with this, the Sala Antonio screening room is showing Mostra Lia Chaia [Lia Chaia Screening], with a selection of 18 videos by Chaia.
Lia Chaia’s production, begun in the late 1990s, has involved constant experimentation in various series of works made in a wide range of media, maintaining a continuous dialogue between the human body and its relationships with its surroundings, especially with the city. Her experiments with her own body began when she was still a student of art, when she started using it in various performances, photographs and videos. In Chaia’s work, the body and the city – the natural and the constructed – live in a relation of clashing and fusion. This amalgam is sometimes serene, sometimes turbulent.
Lia Chaia
In Pulso, her seventh solo show at Galeria Vermelho, Lia Chaia highlights her reflection about the human body from two viewpoints: the situation of the body in relation to the pressures arising from society, and the gradual distancing in the human-nature relationship. Although these tensions have pervaded all her works, the artist is now focusing on the specificities that compose the human organism as a sign of vitality, emphasizing the body’s pulsing aspect.
Thus, in Pôster [Poster] (2017), Lia Chaia bases her work on the human anatomy charts typically found in medical books, in which the body is standardized and structured within a schematic physiology, and interferes on them with elements that resemble blood cells or human organs. The “cells” escape from the outlines of the charted bodies, reflecting the unfathomable aspects of the understanding of human morphology.
In Articulações [Articulations] (2017), the same blood particles arise on gray nylon screens, delimiting parameters that evoke human bodies. In a game of inversions, the globules and platelets normally confined to the body’s interior, running through its perimeter and structure, become a surface, and the nylon screens, normally used to envelop buildings under construction – like skins – become a structure. The series makes reference to the human body in its fragilized and mutating state in contemporaneity.
Cabeças [Heads] (2017) are cubes set atop bases that simulate Chaia’s height. The cubes, with their tangles of electrical wires and cables, rupture the expected perfection of the suggested geometric form. The hanging cables refer to exposed veins running down to the floor.
The video Faces (2016) features a multifaced human. The successive appearance of masks points to the simultaneously unaware and attentive state found in current society. With Faces Lia Chaia returns to placing her own body in the performance for the video camera and, together with the screening entitled Mostra Lia Chaia, in Sala Antonio, Galeria Vermelho is showing 19 videos by Chaia during Pulso.
Pele [Skin] (2017) is an action recorded in photography that situates the body within the scenario of the metropolis. In the clashing between the urban and the natural, survival depends on the permanence and protection of the skin made from the natural - or on the ability and insistence to exchange one’s own skin in order to endure that clashing.
In Camuflagem [Camouflage] (2017), two photographs present bodies fused with the natural landscape. The images combine the human with the natural environment in an organic unit.
The exhibition also features the artworks Tiras [Strips] (2017) and Setas trançadas [Braided Arrows] (2017), which deal with circulation in a hybrid, simultaneously natural and urban environment, as is also found in the sound installation Assobio [Whistle] (2017). In the audio, an everyday sound heard in the street marks an unpretentious walk. It is an installation that spreads through the space of the gallery.
Mostra Lia Chaia
Lia Chaia’s video production began during her years as an art student at Fundação Armando Alvares Penteado, FAAP, (São Paulo, Brazil) and has continued until today as a constant in her production. From the robust body of works by the artist in this media, Galeria Vermelho is presenting here a selection of 18 video works in chronological order
Chaia’s use of this media goes back to the beginning of video art in Brazil between the late 1960s and early 1970s, when access to portable cameras began in this country with the Portapak cameras that were brought from abroad. These were battery-powered cameras that could be carried by a single person, unlike the cameras used up to then by television, which were large and, therefore, had reduced mobility. The portability introduced by the Portapak allowed for recordings to be made outside of studios and therefore with less planning, thus permitting more experimentation. The cameras also allowed for the recording of contestation performance videos filmed in private situations within a context ruled by oppressive censoring and a military dictatorship.
Lia Chaia’s camera also witness experiments the artist carries out with the body (her own). She shoots her scenes with predominantly static and/or sequential takes that reinforce the experience lived within the situation recorded as a main content of the works, always with her own constitution in clashing with the surroundings. Body and surroundings are translated into nature and construction, the primitive and the engineered – an opposition that is present in her own artistic practice, in a confrontation between Lia Chaia and the recording device.
By comparing the works chronologically, we can perceive the influences of the rapid technological advance of the video cameras in Chaia’s production. With the development of the devices, the artist has introduced formal concerns in the elaboration of her footage, as we can observe in 2010, with Glam and in 2013 with Piscina [Pool] and Aleph. With Aleph, we have the first action not realized by the artist herself in one of her videos. This time Chaia remains behind the camera, recording the action executed by Fabíola Salles under her direction.
In 2015, Lia Chaia produced the video Para GB [For GB], an homage to Geraldo de Barros. There, Chaia once again takes her body as an instrument in an action recorded in a private context, approaching the poetics of the honored artist and re-approaching a primitive element of her production.
Bolas [Balls], from 2016, assumes another characteristic of Lia’s artwork, recording her walk through the city during a performance, as noted by Priscyla Gomes in her text on the exhibition É como dançar sobre a artquitetura, held by Chaia at Instituto Tomie Ohtake in 2016: “The video Bolas records the path of the artist’s body greatly enlarged by the accumulation of balls, referring to the comic actions of a clown and lending the body-pedestrian a certain spontaneity, humor and protection.”
EXHIBITION
Lia Chaia – Pulso (rooms 1 and 2)
Lia Chaia – Lia Chaia Video Screening (Sala Antonio)
Program
Big Bang – 2000 / 2’45’’
Um.bigo – 2001 / 59’47’’
Ressonâncias – 2001 / 10’19’’
Desenho-corpo – 2001 / 49’51’’
Com a sorte dos que gozam – 2001 / 2’18’’
Circulando pinheiros – 2002 / 2’13’’
Cidade pictórica – 2003 / 33’52’’
Comendo paisagens – 2005 / 29’26’’
Minhocão – 2006 / 18’07’’
Ascensão – 2008 / 2’59’’
Argola – 2008 / 3’10’’
Rodopio – 2009 / 5’03’’
Skeleton Dance – 2010 / 5’23’’
Glam – 2010 / 10’14’’
Piscina – 2013 / 6’50’’
Aleph – 2013 / 2’53’’
Para GB – 2015 / 8’55’’
Bolas – 2016 / 4’14’’
Rating: All ages
Seating capacity: 30