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julho 19, 2017
Voragem na Amparo 60, Recife
Nova exposição da galeria, com curadoria de Eder Chiodetto, discute o apagamento das pessoas que vivem à margem
A Galeria Amparo 60 recebe, a partir do próximo dia 22 de julho, a sua segunda exposição coletiva deste ano, intitulada Voragem, em sua nova casa no Edifício Califórnia. A mostra, que tem curadoria de Eder Chiodetto, reúne tanto artistas que fazem parte do casting (Bárbara Wagner e Benjamin de Búrca, Gilvan Barreto, José Paulo, Lourival Cuquinha, Paulo Bruscky e Isabella Stampanoni), como outros convidados especialmente para essa ocasião (André Hauck, Ivan Grilo, Jonathas de Andrade).
Chiodetto conta que já havia trabalhado em outras exposições cujos artistas participantes refletiam sobre a relação entre o poder institucionalizado e as pessoas mais desassistidas. Mas o atual momento vivido no Brasil foi o impulso para conceber Voragem para a Amparo 60. O nome da mostra remete aos redemoinhos que se formam nas águas, arrastando tudo para baixo, de forma truculenta. “O nome Voragem vem justamente desses ciclos de movimentos à direita, à esquerda, instantes de maior liberdade civil e tolerância racial, religiosa, comportamental e outros momentos de refluxos que levam parte dessas conquistas para trás sob a sombra do obscurantismo”, explica o curador.
O ponto de partida foi a obra Postcards from Brazil, de Gilvan Barreto, que ganhou recentemente o Prêmio Pierre Verger. A obra mapeia as belezas naturais que serviram de cenário para crimes da ditadura militar e toda a sua violência institucionalizada, a tortura e o desaparecimento de corpos. "Gilvan trabalha de modo contundente a forma dissimulada com a qual os brasileiros lidam com o passado, especialmente com os assassinatos cometidos durante o período da ditadura militar. A série propõe imagens muito bem articuladas, capazes de expor as feridas do mal estar histórico que continuamente voltam a cobrar uma tomada de posição, uma coerência, uma reflexão sem concessões", diz Chiodetto.
Partindo da ideia de apagamento, ocultação e esquecimento, o curador foi em busca de artistas cujos trabalhos trouxessem esse debate social e político. Esses corpos que não importam, que são esquecidos e marginalizados, estão presentes na mostra, ainda que não apareçam diretamente. Os trabalhos reunidos apontam que, apesar deles não encontrarem legitimação social, de serem excluídos, eles não desaparecem.
“Ao ocultar os corpos o silêncio ficou ensurdecedor. O grupo de trabalhos é muito incômodo. Não se trata de uma exposição contemplativa, é um barril de pólvora com o pavio aceso e alguns coquetéis molotov à espreita. Falamos do ocaso da política, do diálogo, da mediação, da temperança”, reflete Chiodetto.
AMPARO 60 CALIFÓRNIA
Desde março, a Galeria Amparo 60 funciona na sobreloja do Edifício Califórnia. A estreia do novo espaço aconteceu com a exposição coletiva Evoé, que reuniu obras dos mais de 30 artistas do casting e ficou em cartaz até o fim de junho. A galerista Lúcia Costa Santos acredita que esse novo espaço consegue integrá-la ainda mais à cidade e aos mais diversos públicos. “Teremos um espaço mais enxuto, porém com um maior diálogo com a cidade, num ponto onde circulam mais pessoas. O projeto arquitetônico é mais moderno e prático, facilitando o funcionamento diário da galeria. Estamos agregando cultura e arte num espaço interessante do Recife”, diz.