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julho 17, 2017
Leonardo Mouramateus na Sem Título Arte, Fortaleza
Primeira exposição individual de Leonardo Mouramateus. Abertura dia 18 de julho, às 19 horas, na Sem Título Arte
Leonardo Mouramateus - Embaralhando os planos: o cinema de Mouramateus, Sem Título Arte, Fortaleza, CE - 19/07/2017 a 18/08/2017
Expor o cinema de Leonardo Mouramateus nas paredes da galeria é antes de tudo produzir o diálogo entre o cinema e as artes visuais. Fazer do espaço expositivo lugar de encontros para as múltiplas formas do cinema se deixar ver. Afinal, o cinema, que tem por marco inicial o século 19, não nasceu na sala escura. Foi a indústria cinematográfica que padronizou não apenas as salas de exibição como dispositivo arquitetônico mas, sobretudo, impôs a experiência cinema, definindo assim um modo industrial de sentir o mundo.
Nos primeiros cinemas, até a virada do século 20, não havia uma forma padronizada de exibição, nem mesmo um modelo de produção. O quinetoscópio, aparelho criado por Thomas Edson, exibia cinema em visores únicos e individuais que eram projetados em loop e por trás de uma pequena tela. O loop, esse modo de exibição em tempo continuo, sem pausa, e em múltiplas metragens, não entrou na sala da indústria. O intervalo entre as sessões dos filmes passou a ser um modo dominante para a operação comercial.
O cinema de padrão industrial criou uma tipologia de longa-metragem e um modo de fruição em sala fechada e escura, com projeção que não se deixa ver, uma tela como aparato de rebatimento virtualizado e a constituição de um mundo aparte, uma ilha de ilusões óticas e sonoras. Os filmes de artistas, os cinemas experimentais, por sua vez, chamaram para si as múltiplas experiências que as imagens em movimento e som possibilitam. Sem métrica nem forma, é no campo das experiências de artistas que imagem e som viram matéria de reinvenção.
As múltiplas telas, os vários projetores, as projeções frontais ou por trás, as imagens em fusões, superposições, em janelas simultâneas fundaram os primeiros cinemas e dão a ver seus rasgos estéticos na produção contemporânea.
O que se inscreve em Embaralhando os planos, a primeira exposição individual reunindo trabalhos de Leonardo Mouramateus, é uma forma de fissurar seus filmes em planos. Decompor e afastar suas partes para traçar outros cruzamentos possíveis. É um método de leitura do seu mundo-cinema, de suas insistências: a presença de sua própria voz; a disputa dos corpos; a embriaguez dos retratos; a ocupação do território; sua inserção na cena como um quase-comentário. É ainda um modo de colocar em diálogo através da remontagem os filmes entre si, fazendo roçar um pedaço no outro. Como no cinema aberto do início das imagens em movimento, quando os filmes chegavam aos pedaços, em rolos de fitas separados, a exposição como gesto do projecionista a embaralhar seus planos.
No cinema de Leonardo Mouramateus, o mundo jorra seus detritos nas entranhas do morar, na árvore mutilada, na destruição do espaço urbano, entre os cães que ocupam as ruas. Mas a festa empurra esse mundo para dimensões paralelas. Entre corpos que lutam e dançam e as montanhas da destruição que faz cenário, Mouramateus encontra pistas para permanecer em si inventando, se colocando na frente da tela metálica e desnuda do outdoor, que diz muito do seu próprio cinema. É esse cinema que luta e dança, como uma mesma linha de força, que trapaceia a ordem do mundo nos rostos de seus personagens, que Leonardo Mouramateus desloca tudo quanto teima imobilizar-se e que produz nos corpos regimes de pulsação.
Leonardo Mouramateus (1991, Brasil) é artista e realizador de dezenas de curtas-metragens. Os filmes “Mauro e Caiena” (2013) e “A Festa e os Cães” (2015) são vencedores do festival “Cinéma du Réel”, França. Mouramateus vive hoje em Lisboa e seus trabalhos foram expostos em museus tais como Centro Georges Pompidou, em Paris, e Museu de Arte de São Paulo. Em 2015, a Cinemateca Francesa apresentou uma retrospectiva da obra fílmica do realizador cearense. Ele integra o coletivo Praia à Noite. "Antonio, Um, Dois, Três” (2017), inédito no Brasil, marca sua estreia em longas-metragens.
Os Filmes
História de uma pena;
A festa e os cães;
Vando vulgo vedita;
Fui à guerra e não te chamei;
Lição de esqui;
Lagoa Remix;
Estrela distante;
Completo Estranho;
Mauro em Caiena;
Charizard;
Europa.