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julho 14, 2017
André Penteado na Zipper, São Paulo
Em sua primeira individual na Zipper Galeria, o artista André Penteado investiga as reminiscências e os desdobramentos visuais da delegação que desembarcou no Rio de Janeiro no início do século 19 com a meta de instituir a Academia Imperial de Belas Artes, primeira instituição oficial de ensino de artes no país. A exposição Missão Francesa tem texto crítico assinado por Moacir dos Anjos e apresenta um recorte da produção incluída em fotolivro homônimo do artista, também lançado neste mês. A mostra na Zipper fica em cartaz até 16 de agosto.
A nova série é a segunda fase do projeto “Rastros, Traços e Vestígios”, em que o artista pretende retratar cinco temas da história brasileira. Já concluiu dois – Cabanagem (2014) e Missão Francesa (2017) – e tem um em andamento – Farroupilha, previsto para o próximo ano. “Não sou historiador e não pretendo explicar os processos. Minha intenção é gerar uma sensação do presente a partir de vestígios do passado”, reflete.
O artista, no entanto, afirma haver um paralelo entre historiadores e fotógrafos: “Ambos partem da realidade, mas suas construções são sempre ideológicas”. Em uma dessas construções, ele questiona a importação de matrizes para sanar questões nacionais. “No Brasil, ainda hoje vinga o ideário de que a importação de modelos podem resolver nossos problemas”, ele afirma.
Em seu método próprio de investigação, André se aproxima do trabalho arqueológico. “Eu junto as imagens e busco uma conexão entre elas, experimentando relações, em tentativas e erros, para formar alguma coerência narrativa”. Esta abordagem “técnica” fica evidente nos aspectos formais dos trabalhos. Produzidas com tripé e uso de flash, as fotografias remetem às máquinas automáticas. São duras, estruturadas, cruas – o que, propositalmente, transmite a racionalidade com que o artista confronta a realidade. “Os temas são complexos e envolvem muita paixão. Eu busco o oposto no meu trabalho. É quase uma fotografia forense”, analisa.
Trabalhos da mesma série estão também na mostra coletiva Antilogias, em cartaz na Pinacoteca do Estado até sete de agosto. Ainda neste mês, o artista realiza uma exposição individual sobre a Missão Francesa no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, que abriga a mais importante coleção sobre o período. Na Zipper, “Missão Francesa” fica em cartaz até 16 de agosto.
Sobre o artista
A obra de André Penteado (São Paulo, 1970) se baseia na ideia de que a fotografia, dada a sua banalidade no mundo de hoje, é uma das mais interessantes e complexas mídias para o desenvolvimento de trabalhos de arte. Produzindo desde 1998, o artista já realizou nove exposições individuais e participou de mais de vinte coletiva no Brasil, Argentina, Espanha e Inglaterra, onde viveu por sete anos. Em 2013, venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com o trabalho O Suicídio de meu pai; em 2014, teve seu projeto Tudo está relacionado selecionado para o Rumos Itaú Cultural 2013-2014. Tem quatro fotolivros publicados: O suicídio de meu pai (2014), Cabanagem (2015), Não estou sozinho (2016) e Missão Francesa (2017).
Texto crítico
Crítico de arte, pesquisador e curador, Moacir dos Anjos foi curador do pavilhão brasileiro (Artur Barrio) na 54ª Bienal de Veneza (2011), curador da 29ª Bienal de São Paulo (2010), co-curador da 6ª Bienal do Mercosul, Porto Aelgre (2007), e curador do 30º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna (2007), em São Paulo. Foi curador da mostra coletiva Cães sem Plumas (2014), no MAMAM e de exposições retrospectivas dos trabalhos de Cao Guimarães (2013), no Itaú Cultural, e de Jac Leirner (2011), na Estação Pinacoteca, ambas em São Paulo. Publica regularmente em revistas acadêmicas e catálogos de exposição. É autor, entre outros, dos livros Local/Global. Arte em Trânsito (Zahar, 2005) e ArteBra Crítica. Moacir dos Anjos (Automátia, 2010), além de editor de Pertença, Caderno_SESC_Videobrasil 8, São Paulo (SESC/Videobrasil, 2012).