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julho 11, 2017
Tiago Mestre na Millan, São Paulo
Escultura, instalação e vídeo compõem o conjunto de 60 obras do artista português radicado em São Paulo desde 2010
Artista português que vem ganhando destaque na cena artística brasileira, Tiago Mestre expõe, entre 12 de julho e 12 de agosto, pela primeira vez na Galeria Millan. A mostra Noite. Inextinguível, inexprimível noite. empresta seu título do poema “Lugar II” do poeta português Herberto Helder (1930-2015) e reúne um conjunto de cerca de 60 obras que exploram a questão da forma e do mito do projeto moderno, no âmbito da escultura. Materiais como argila, bronze e gesso dão corpo a obras que se posicionam numa constante negociação entre projeto e imprevisibilidade, entre programa e liberdade expressiva.
O conjunto de obras inclui esculturas de diferentes escalas, vídeo, intervenções na arquitetura da galeria e uma grande instalação (elemento paisagístico que organiza toda a exposição). Estes trabalhos remetem aos primeiros intentos humanos de assimilar o natural dentro de um pensamento projetual, mapeando o processo de assimilação da paisagem a partir do intelecto. “A ideia de projeto como pano de fundo, como orquestração de um sistema”, explica Mestre. Outra obra, de caráter mais arquitetônico, será realizada no corredor da galeria, onde Mestre redefinirá o percurso expositivo habitual.
Cada uma das esculturas parece evidenciar um fazer sumário, claramente manual, como se estivesse inacabada ou em estado de puro devir, deixando, muitas das vezes, uma filiação ambígua quanto à sua natureza disciplinar. O uso da cor surge pontualmente, não tanto como sistema, mas antes como recurso que acentua, corrige ou esclarece questões pontuais do trabalho. Essa indefinição semântica, ou transversalidade programática é um dos eixos do trabalho. A problematização da capacidade performática de cada uma das obras é tornada evidente (senão parodiada) em situações como a da escultura de dois morros (obra que a dois tempos é escultura paisagística e nicho para outras obras menores).
O vídeo, que se apresentará no andar superior da galeria, coloca-se como uma espécie de síntese geral da mosta. A imaterialidade deste suporte contrasta de maneira decisiva com o lado predominantemente objetual dos restantes trabalhos. Nele assistimos a uma transmutação lenta, silenciosa e interminável de formas geométricas e orgânicas, numa referência “apática” ao mito da arquitetura brasileira, à sua relação singular com a natureza e a paisagem.
Embora alguns dos procedimentos da arquitetura estejam envolvidos em seu processo — a exemplo dos croquis e as maquetes de estudo — o olhar de Mestre volta-se mais para a percepção da experiência dos corpos no espaço, sejam eles naturais, escultóricos, ou arquitetônicos. Parece ser essa intimidade entre natureza, espaço e forma, que a presente mostra de Mestre propõe desvelar.
Tiago Mestre (Beja, Portugal, 1978) formou-se em Arquitetura, pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa (2001) e fez mestrado na FAU/USP (2016), estudou pintura no Ar.co e participou do Programa Independente de Estudos de Artes Visuais da Maumaus, Lisboa, Portugal. Realizou diversas exposições individuais sendo as mais recentes: Fundação, com texto de Jacopo Crivelli Visconti, Paço das Artes, São Paulo, Brasil (2016); La Californie, com texto de Bruno Mendonça, Centro Cultural São Paulo, Brasil (2016); Asa Nisi Masa, Galeria Central, São Paulo, Brasil (2015); All the Things You Are, com curadoria de Marina Coelho, Kunsthalle, São Paulo, Brasil (2014); Speech, curadoria de Paulo Miyada, Galeria Virgílio, São Paulo, Brasil (2013) e Specific Sunset, Wiels Residency Projects, Bruxelas, Bélgica (2009). Exposições coletivas incluem Completely something else, curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, Point Centre for Contemporary Art, Nicosia, Chipre (2016); Festival Arte Atual – Coisas sem Nomes, curadoria de Paulo Miyada, Inst. Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil (2015); Escape, curadoria de Jurgen Bock, Lund’s Konsthall, Suécia (2011); O dia mais longo do ano, curadoria de Pedro Calapez e Marta Mestre, Teatro de Almada, Almada, Portugal (2010), Liquid Archives, curadoria de Anna Schneider, Platform3, Munique, Alemanha (2009) e XV Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, Portugal (2009).