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julho 2, 2017
Almandrade na Arte k2o, Brasília
Esta primeira mostra individual do artista Almandrade, representado pela galeria Gabinete de Arte k2o, reúne uma seleção do seu trabalho elaborado em mais de quatro décadas de utilização do objeto de arte para estimular o pensamento e provocar a reflexão, segundo critérios fundamentados na racionalidade, na materialidade e, não por acaso, na economia de dados, sem deixar que conceitos se sobreponham ao fazer artístico. O artista compromete-se com a pesquisa de linguagens artísticas que envolve artes plásticas, poesia e conceitos.
A mostra reúne obras em diversas linguagens e suportes como pinturas, desenhos, gravuras, instalação e poemas visuais, além de objetos e esculturas em grande dimensão para o espaço urbano. Dentre as esculturas algumas inéditas, realizadas a partir de maquetes dos anos 80 até agora nunca executadas em grande formato no qual foram concebidas.
Em seu percurso, destaca-se a passagem pelo concretismo e pela arte conceitual, nos anos 70, o que contribuiu fortemente com a incessante busca de uma linguagem singular, limpa, de vocabulário gráfico sintético. Seu trabalho sempre se diferenciou da arte produzida na Bahia, aproximando-se mais do Neo Concreto e da Poesia Visual na herança de Lygia Pape e Hélio Oiticica, entre outros.
Sua obra, tanto pictórica, quanto linguística, se impõe como um lugar de reflexão, solitário e à margem do cenário cultural brasileiro. Após ensaios figurativos, no início da década de 70, sua pesquisa plástica se direcionou para o concretismo e a arte conceitual. Como poeta, mantém contato com a poesia concreta e o poema/processo, produzindo poemas visuais. É um dos principais nomes da poesia visual e experimental no Brasil. Desenhos em preto-e-branco, objetos e projetos de instalações, essencialmente cerebrais, calcados de modo primoroso de tratar questões práticas e conceituais, marcam a produção do artista na segunda metade da década de 70. Redescobre a cor nos anos 80, quando suas obras - sejam pinturas ou objetos e esculturas -, ganham uma dimensão lúdica, sem perder a coerência e a capacidade de divertir com inteligência.
É um escultor que trabalha com a cor e com o espaço e um pintor que medita sobre a forma, o traço e a cor no plano da tela. A arte de Almandrade dialoga com certas referências da modernidade, transita entre o construtivo, a arte conceitual e a poesia visual, mantendo uma coerência com os diversos suportes até a palavra e reinventando novas leituras.
Como dizia Décio Pignatari “Almandrade capricha nas miniaturas de suas criaturas, cuja nudez implica mudez, límpido limpamento do olho artístico, já cansado da fantástica história da arte deste século interminável, deste milênio infinito.” (1995). Século que já é passado. A coerência e o rigor do artista em lidar com diferentes suportes, incluindo a palavra (poesia), fazem de Almandrade, um pensador que se utiliza desses suportes para produzir reflexões.
Que ninguém duvide: a economia de elementos e de dados não se dá por acaso, é uma opção estética, inteiramente coerente com sua tendência à síntese, ao traço essencial, ao quase vestígio. Um nada, cuja gênese reside na totalidade absoluta. Assim também é sua poesia. Wilson Rocha, em 2000 já indicava que “Simplificar as formas e geometrizar a vida parece ser a vontade de Almandrade, artista dos mais representativos para a arte contextual da Bahia no momento. Suas investigações apontam para a epistemologia da construtividade, onde as formas geram um saber, uma arquitetura de signos ou um poder de experimentação. A apreensão do espaço é uma instância e também uma educação, demonstram uma intencionalidade e fundamenta no encontro linha/espaço determinações lógicas, geométricas, representações e imagéticas. Ele acredita que uma obra se constitui da relação desses elementos com o espaço e o observador”.
Almandrade, artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta. Participou de várias mostras coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São Paulo; "Em Busca da Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo; IV Salão Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo); II Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras (Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I Salão Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais, multimeios e projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos criadores do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista "Semiótica" em 1974. Realizou cerca de vinte exposições individuais em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo entre 1975 e 1997; escreveu em vários jornais e revistas especializados sobre arte, arquitetura e urbanismo. Prêmios nos concursos de projetos para obras de artes plásticas do Museu de Arte Moderna da Bahia, 1981/82. Prêmio Fundarte no XXXIX Salão de Artes Plásticas de Pernambuco em 1986. Editou os livretos de poesias e/ou trabalhos visuais: "O Sacrifício do Sentido", "Obscuridades do Riso", "Poemas", "Suor Noturno" e Arquitetura de Algodão". Prêmio Copene de cultura e arte, 1997. Tem trabalhos em vários acervos particulares e públicos, como: Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu Nacional de Belas Artes, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Museu de Arte Moderna de Recife e Pinacoteca Municipal de São Paulo.