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junho 28, 2017
Miguel Rio Branco no MASP, São Paulo
A mostra exibe, pela primeira vez em São Paulo, um conjunto significativo da famosa série fotográfica realizada nos anos 1970, no bairro do Maciel, em Salvador.
A exposição integra o eixo de exposições em torno da temática de Histórias da sexualidade ao longo de 2017, no Museu.
O MASP apresenta, a partir de 29 de junho, Miguel Rio Branco: nada levarei qundo morrer, segunda exposição de Miguel Rio Branco (Las Palmas, Espanha, 1946) no Museu, quase 40 anos após sua primeira individual, Negativo Sujo, em 1978. Até 1 de outubro, a mostra exibe uma seleção de 61 fotografias da famosa série Maciel, realizada no bairro homônimo, na região do Pelourinho, em Salvador, que o artista frequentou durante seis meses, em 1979.
O título da mostra origina-se da sentença “Nada levarei qundo morrer, aqueles que mim deve cobrarei no inferno”, que ocupa o centro da composição de uma das obras. Escrita em vermelho, a frase contém lapsos de português e está em uma parede interna, amarelada e desgastada, e cuja palavra inferno quase desaparece em meio a manchas escuras. Essa é a fotografia que abre a mostra e dá o tom da seleção dos demais trabalhos expostos na sala: são cenas de ambientes públicos e privados, como prostíbulos, bares, calçadas e quartos, de personagens que vivem e convivem em uma área estigmatizada e marginalizada pela prostituição, pobreza e criminalidade.
Na sequência, o visitante encontra imagens externas, de fachadas de casas e estabelecimentos comerciais, com paredes gastas pelo tempo, mas saturadas de cor, efeito que Rio Branco atinge ao fotografar em diapositivos. Nas calçadas, os moradores parecem seguir sua rotina, por vezes alheios à câmera do fotógrafo. Em uma imagem, crianças brincam na rua; em outras, homens jogam capoeira ou conversam entre si; e, em inúmeras, mulheres posam sozinhas, como se aguardassem supostos clientes. As marcas de ruína e sujeira, no entanto, são indícios não só do abandono, mas também da resistência daquelas pessoas a permanecerem no local.
A sexualidade permeia as imagens ao longo de toda a mostra. É a partir da segunda parte, todavia, quando os cenários passam a ser os interiores de casas e prostíbulos, que o sexo se torna mais evidente, carnal e, por vezes, agressivo. Veem-se cenas com enquadramentos mais fechados, preenchidos por cicatrizes, partes de corpos nus e rostos que ora fitam a lente, ora se regozijam de prazer. Em planos mais abertos, mulheres nuas se oferecem ao espectador, muitas vezes posando em pé, perto de portas e corredores, ou em cima das camas, em quartos.
Segundo Tomás Toledo, curador assistente da mostra, “As imagens produzidas por Miguel Rio Branco no Maciel denunciam a realidade da região – exuberante e violenta – retratando essa sociedade em determinado período histórico. Mas elas estão longe de ser um registro meramente documental; são carregadas de dramaticidade, encenação, cores imperativas e contrastantes, permeadas por uma pele pictórica. Revelam as trocas que ocorreram entre o fotógrafo e os fotografados, expressadas na franqueza do olhar e na naturalidade dos corpos dos representados.”
Ao longo de toda a mostra, existe um embaralhamento entre os limites do público e do privado. O espaço coletivo da rua invade residências, prostíbulos e estabelecimentos comerciais, e vice-versa. Homens e mulheres entram e saem desses ambientes, em composições que confundem as noções de intimidade e coletividade. Miguel Rio Branco: nada levarei qundo morrer, deixa evidente, assim, algumas das muitas expressões da sexualidade daquela comunidade, denunciando, a partir dela, marcas das desigualdades social e racial que sofrem populações marginalizadas no Brasil.
No dia da abertura, o MASP lança o catálogo da mostra, amplamente ilustrado, com textos dos curadores e organizadores da publicação -- Adriano Pedrosa, Rodrigo Moura e Tomás Toledo -- e de autores convidados -- Alexandre Melo, Antonio Risério, Luisa Duarte e Moacir dos Anjos.
Miguel Rio Branco: nada levarei qundo morrer tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira, e assistência de Tomás Toledo, curador. A expografia é da METRO Arquitetos Associados.