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junho 14, 2017
Remanso na Funarte, Brasília
A Marquise da Funarte-Brasília recebe instalações que remetem a feiras-livres e redes de descanso criando modos de o espectador se relacionar com o espaço por meio de estruturas
O Ministério da Cultura e a Funarte trazem para Brasília a mostra coletiva Remanso, dos artistas visuais João Modé, Alê Gabeira e Raísa Curty. Selecionada pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais Funarte Brasília para ocupar a Marquise do Complexo Cultural Funarte – Brasília-DF, a exposição apresenta trabalhos interagindo com os fluxos urbanos que cruzam o espaço da cidade. São duas instalações que conversam entre si por meio de operações estruturais e conceituais. Com curadoria de João Paulo Quintella, a exposição será inaugurada no dia 21 de junho, quarta-feira, às 17h, e ficará em exibição até o dia 6 de agosto, com visitação de terça a domingo, das 10h às 21h. O Complexo Cultural Funarte Brasília fica no Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural entre a Torre de TV e o Centro de Convenções. A entrada é franca e livre para todos os públicos.
O site-specific compreende duas instalações em diálogo com a configuração espacial da Marquise da Funarte – Brasília, e busca operar sobre os modos de se relacionar com a arquitetura da cidade. Remanso – que significa cessão de movimento, quietação, sossego – é o indicativo do estado de suspensão temporal e recondicionamento do espaço público proposto pelos trabalhos dos artistas João Modé e da dupla Alê Gabeira e Raísa Curty.
A primeira instalação, intitulada Feira-livre, de João Modé, apresenta estruturas semelhantes às usadas em feiras de rua, reajustando sua escala e extensão para o perímetro específico das instalações da Funarte. Essa estrutura registra uma mimese funcional com a situação de abrigo gerada pela Marquise. Ambas as estruturas prevêem uma ocupação temporária e provisória, um espaço a recorrer em uma circunstância específica buscando a proteção do corpo, no caso da Marquise, ou das frutas e alimentos no caso das feiras. Enquanto no âmbito funcional existe um pareamento entre a Marquise e a feira livre, no âmbito construtivo há uma oposição: o status permanente do concreto, sua rigidez, em contato com o efêmero e a maleabilidade dos toldos, gera novas formas de perceber e se relacionar com o espaço. A estrutura pré-existente, imutável, é, portanto, resignificada a partir de materiais mais dinâmicos que caracterizam um uso humano específico, remetendo diretamente a uma vitalidade intrínseca a experiências sociais.
A segunda instalação, Alvorada Nordestina, de Alê Gabeira e Raísa Curty, aproveita tanto a zona de sombras criada pelo trabalho de João Modé quanto o próprio abrigo da Marquise, propondo uma requalificação do espaço público, alterando seu caráter de passagem e promovendo um estar à vontade em um terreno antes pouco convidativo a permanência. O descanso das redes sobre a estrutura rígida desloca por si só a percepção da estrutura e, sobretudo, convida o passante a uma nova experiência do espaço.
“Remanso” tem lançamento de catálogo, conversa com artistas e curador e exibição de filme
No sábado, 29 de julho, às 16h, acontece o lançamento do catálogo da mostra “Remanso”, com obras de João Modé e de Alê Gabeira e Raísa Curty. Com distribuição gratuita, o catálogo apresenta textos críticos de João Paulo Quintella e de Laila Melchior, além de fotos de Thiago Sabino / Estúdio Carbono e Laila Melchior. Na ocasião, os artistas e o curador da exposição, João Paulo Quintella, participam de uma conversa aberta ao público, seguida da apresentação do filme “Alvorada Nordestina”, de Alê Gabeira e Raísa Curty.
O filme “Alvorada Nordestina” é o registro do processo criativo e de produção da obra homônima de Alê Gabeira e Raísa Curty, que junto com a instalação “Feira-livre”, de João Modé, compõe a mostra “Remanso”. O documentário de 15 minutos apresenta a viagem da dupla de artistas visuais a Boqueirão, no interior da Paraíba, onde as redes foram confeccionadas por um grupo de tecelões, e como a obra se relaciona com o público de Brasília.
Sobre os artistas
João Modé nasceu em Resende, RJ. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seu trabalho articula-se por uma noção plural de linguagens e espaços de atuação. Participou da 28ª Bienal de São Paulo [2008], da 7ª e 10ª Bienal do Mercosul [2009/2015] e da Trienal de Aichi, Nagóia, Japão [2016]. Alguns projetos, como REDE – desenvolvido em diversas cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim e Rennes – e Constelações, envolvem a participação direta do público. Participou do Panorama da Arte Brasileira de 2007. Entre as exposições individuais: O passado vem de frente numa brisa, Museu do Açude, Rio de Janeiro; Land, die raum, Berlim, Alemanha [2014]; Para o silêncio das plantas, Cavalariças do Parque Lage no Rio de Janeiro [2011-2012]; MAMAM, Recife [De Sertão, 2010] e na Fundação Eva Klabin no Rio de Janeiro [2009]. Entre as exposições no exterior, estão: Bahar / The Istanbul off-site Project for Sharjah Biennial 13, Istambul, Turquia [2017]; The Spiral and the square, Bonniers Konsthall, Estocolmo, Suécia [2011-2012], SKMU e Trondheim Kunstmuseum, Noruega; connect – A Gentil Carioca na IFA Galerie de Berlim e Stuttgart [2010-2011]; Brazilian Summer. Art & the City, Museum Het Domein, Sittard, Holanda [2008]; Stopover, Kunsthalle Fribourg, Suíça [2006]; Unbound, Parasol Unit, Londres [2004]; Entre Pindorama, Künstlerhaus Stuttgart [2004]; e Slow, Shedhalle, Zurique [2003]. Desenvolveu projetos com Capacete Entretenimentos [Rio], Le Centre du Monde [Bruxelas], Casa Tres Patios [Medellin], Watermill Center [NY], entre outros. Foi membro fundador do grupo Visorama, que promoveu debates acerca das questões da arte contemporânea entre o final dos anos 1980 e a década de 1990.
Raísa Curty é artista visual e artista educadora, mas não diferencia uma atividade da outra. Seu trabalho é motivado pelo desejo de estar e deixar à vontade no mundo. Para isso, se empenha em recriar suas mitologias pessoais e em reinventar os seres humanos. Frequentou diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e recentemente graduou-se na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou como artista educadora no CCBB e hoje desenvolve um projeto que leva escolas públicas para visitação das galerias de arte de seus bairros. Em 2014, foi assistente do artista Roberto Cabot em seu projeto de pintura para a Bienal de Taipei, com curadoria de Nicolas Bourriaud.
A trajetória de Alê Gabeira nas artes visuais é precedida pelo seu trabalho como cineasta, fotógrafo e jornalista. A partir de 2008, documenta processos de artistas e produz vídeo arte para exposições no Espaço Furnas Cultural, Centro Cultural da Justiça Federal - CCFJ e Largo das Artes. Desde então, em seus seis anos de atuação, desenvolve um trabalho que se apropria constantemente da precariedade e o constrói num encontro com materiais incertos. Em 2010, realiza uma residência artística no Instituto Nacional de Belas Artes de Tetuan, no Marrocos, com o Radiografia Project. No Rio de Janeiro, foi fomentador dos projetos de atelier coletivo FixosFluxos e ÁS - Atelier Sustentável. Seu trabalho no FixosFluxos (2012-2013), abrangeu experimentações em diversos campos, exposições coletivas e a sua segunda individual. No ÁS desenvolve, desde 2012, uma pesquisa onde agrega ao seu trabalho a utilização de materiais naturais e reafirma nele o uso do reaproveitamento no processo compositivo de suas obras.
Raísa Curty e Alê Gaberia forma a dupla Residência Artística Móvel (RAM). Para a mostra na Funarte-Brasília, as artistas estão viajando de João Pessoa, na Paraíba, rumo à capital federal de Bicicleta. Na bagagem, trazem as redes que farão parte da instalação na Marquise.
Sobre o curador
João Paulo Quintella - Doutorando em História da Arte e Arquitetura pela PUC-Rio. Mestre em Processos Artísticos Contemporâneos pela UERJ. Atualmente integra a equipe de curadoria e pesquisa permanente da Casa França-Brasil. Curador do projeto Permanências e Destruições, proposta de ocupações artísticas em locais cujos processos de erosão e/ou transformação sejam latentes, no Rio de Janeiro. Curador do projeto Além Terreno, realizado no espaço de arte independente Átomos. Curador do projeto Remanso, contemplado pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015. Curador da exposição "Teu Osso é Pedra", individual de Beatriz Carneiro. Integrou o corpo curatorial do programa Novas Poéticas, desenvolvido junto à UFRJ pelo curador Philipe F. Augusto. Curador do projeto Primaverinha, proposta de ocupação do pátio do Oi Futuro Flamengo. Colaborador frequente da revista SeLecT, de São Paulo. Já escreveu para a Edições Sesc São Paulo, para o catálogo da exposição Fummés e para o Canal Contemporâneo. Participou de diversas mesas e seminários, como o Desiilha - Seminário Nacional de Arte e Cidade e Ser Urbano - Semana de Arquitetura e Urbanismo PUC-Rio. Sua prática investiga as relações entre arte, arquitetura e experiência, investindo sobre modos expositivos a partir do cruzamento de diferentes linguagens e disciplinas.