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junho 12, 2017
Marcel Gautherot no Paço Imperial, Rio de Janeiro
Exposição de fotografias de Gautherot revela riqueza da cultura brasileira
A maior mostra das obras do fotógrafo francês Marcel Gautherot já exibida no Brasil será aberta ao público no próximo dia 13 de junho, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro (RJ). Com curadoria de Samuel Titan e Sergio Brugi, a exposição Marcel Gautherot – Brasil: Tradição, Invenção apresenta o olhar sensível do artista, assim como revela a profundidade com que documentou as especificidades geográficas e culturais brasileiras.
As fotografias fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS). A instituição atua em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio do Centro Cultural Paço Imperial, para promover a exposição que permanece até 20 de agosto. São mais de 300 imagens representativas da imensa diversidade temática e da qualidade estética desenvolvidas por Gautherot ao longo de sua carreira cinquentenária no Brasil. A atividade integra as comemorações dos 80 anos de criação do Iphan e da institucionalização da política de proteção do patrimônio cultural brasileiro.
O artista trabalhou com nomes fundamentais da cultura brasileira, como Rodrigo Melo Franco e Lucio Costa, no Serviço Nacional do Patrimônio (Sphan); Edison Carneiro, na Comissão Nacional de Folclore; Oscar Niemeyer, fotografando os principais projetos do arquiteto, incluindo a construção de Brasília; e Roberto Burle Marx, documentando seus projetos de paisagismo mais importantes.
A diversidade da obra
A obra completa de Marcel Gautherot, Adquirida pelo Instituto Moreira Salles em 1999, compõe-se de cerca de 25 mil imagens, que abrangem muitos temas – o folclore brasileiro, a arquitetura moderna e barroca, a natureza do país e sua paisagem humana –, situando o fotógrafo entre os nomes fundamentais da fotografia brasileira no século XX.
Gautherot fotografou as gentes das palafitas, das embarcações e dos mercados na Amazônia; os índios Assurinis do Xingu; o movimento do Ver-o-Peso e a devoção no Círio de Nazaré em Belém; a vida intensa do Rio São Francisco, com suas gaiolas e carrancas; e a crença dos romeiros em Bom Jesus da Lapa. Inventariou as pescas e os pescadores, da coreografada puxada de rede do xaréu na Bahia ao cenográfico jogo das velas de jangadas no Ceará.
O artista também explorou Salvador e suas tradições: a procissão do Nosso Senhor dos Navegantes, a lavagem de Nosso Senhor do Bonfim, a festa para a mãe Iemanjá, a roda de capoeira, o carnaval de rua e os tabuleiros das baianas. Ele olhou com o mesmo interesse os garimpeiros de João Monlevade e os profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (MG). Encontrou vida e gente nas cidades históricas de Minas Gerais. Em Alagoas, celebrou o nascimento do Menino Jesus com guerreiros e outras personagens do reisado. Registrou o Bumba Meu Boi do Maranhão e Boi Bumbá do Pará. Ainda em São Luis (MA), retratou o Tambor de Crioula ou Punga, em louvar a São Benedito.
No Rio de Janeiro, além do carnaval e da paisagem, dedicou-se a fotografar a arquitetura contemporânea de Lucio Costa, de Oscar Niemeyer, de Carlos Leão, de Jorge Moreira, de Affonso Eduardo Reidy, de Ernani Vasconcellos e de Roberto Burle Marx, entre outros. Por fim, Gautherot encontrou em Brasília terreno fértil para a sua arte plena: tradição e modernidade reunidas na construção de um patrimônio e de uma cidade.
Curadoria
De acordo com os curadores, a obra de Marcel Gautherot teve uma influência considerável nas representações e no imaginário moderno brasileiros, tanto no próprio país quanto no estrangeiro. Seu projeto documental de proporções monumentais sobre o país foi concebido com uma sensibilidade imensa e uma extraordinária consciência formal, constituindo um patrimônio durável para a cultural brasileira e um testemunho importante dos elos que unem o Brasil e a França. Ao mesmo tempo, o conjunto da obra é um ensinamento precioso para compreender a importância da fotografia como linguagem nômade e internacional, na construção da modernidade e da contemporaneidade.
Ainda assim, o trabalho de Marcel Gautherot ficou desconhecido do grande público por muito tempo. Uma difusão mais ampla de seu trabalho junto ao público teve início a partir de 2001, com uma importante exposição e a publicação do catálogo O Brasil de Marcel Gautherot. Muitas outras publicações e exposições aconteceram nos vinte anos que se seguiram a sua morte, em 1996, concentrando-se em precisar detalhadamente seu status de fotógrafo essencial da arquitetura moderna no Brasil, assim como sua maneira de documentar com profundidade as especificidades geográficas e culturais brasileiras.
Publicação
O livro que acompanha a exposição Marcel Gautherot – Brasil Tradição, Invenção foi editado em quatro idiomas e traz textos de Michel Frizot, grande historiador da fotografia, Jacques Leenhardt, sociólogo e crítico de arte, além de textos dos organizadores da publicação, Samuel Titan Jr. e Sergio Burgi, e outro de Lorenzo Mammì, curador de programação e eventos do IMS. A edição francesa sai pela prestigiada Hervé Chopin e as versões em inglês e alemão pela editora suíça Scheidegger & Spiess. A edição brasileira será lançada pelo Instituto Moreira Salles. O livro estará à venda na livraria Arlequim, que fica no Paço Imperial.