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junho 7, 2017
Paulo Bruscky Nara Roesler, São Paulo
Santos Dumont disse (…): “Tudo o que um homem pode imaginar, outros homens poderão realizar”. - Paulo Bruscky
A Galeria Nara Roesler | São Paulo tem o prazer de apresentar quatro performances e seus respectivos registros, de autoria de Paulo Bruscky (n. Recife, Brasil, 1949). Artista multimídia, poeta e pioneiro da “arte-comunicação”, Bruscky surgiu no cenário artístico brasileiro nas décadas de 1960 e 1970, as mais turbulentas do regime militar que sufocou a liberdade de expressão no país. Mais de 50 anos depois, o artista continua questionando o status quo e provocando as pessoas a pensar o que é a arte e para que ela serve.
A exposição na Galeria Nara Roesler marcará a estreia da série inédita Festa, que inclui uma performance intitulada Carnaval (2017), o díptico Traques I e II (2011) e a obra em tela Bom Dia (2017). Também serão apresentadas as performances Poema Amassado (2016) e Sentimentos: um poema feito com o coração (1976/2017). O artista realizará ainda um workshop sobre a obra Xeroperformance (1977/1980/1982/2017), em que o público será convidado a colaborar por meio de fotocopiadoras. As quatro performances serão filmadas e exibidas durante toda a exposição.
Após a abertura às 11h, no sábado, 10 de junho, segue a seguinte programação: 11h30 - Performance | Sentimentos: Poema feito com Coração; 12h30 - Workshop | Xeroperformance; 13h30 - Performance | Poema Amassado; 14h30 - Performance | Carnaval.
Proponente ativo do movimento internacional da arte postal e membro do Fluxus, o artista realiza experimentos heterodoxos com sistemas de comunicação, como livros de artista, anúncios classificados, telegramas, telefax, fax, internet e a fotocopiadora. Em seus primeiros experimentos com a fotocopiadora, Bruscky manipulou a luz para criar distorções e sobreposições, efeitos que só podiam ser obtidos com uma máquina de Xerox. A subjetividade gerada pelo processo acabou por levar o artista a apontar a fotocopiadora como coautora em seus catálogos. Dessas primeiras investigações surgiu Xeroperformance (1977/1980/1982/2017), série de obras em que Bruscky registrou seus gestos corporais na placa de vidro de uma copiadora, incorporando sua fisicalidade ao trabalho. Durante o workshop, os convidados terão a oportunidade de juntar-se ao artista e utilizar a máquina para registrar suas expressões. Bruscky afirma: “Eu estudo equipamentos para ver como posso subvertê-los, retirá-los de sua função — quer dizer, torná-los nossos aliados, certo”?
O interesse de Bruscky por arte e tecnologia foi ainda mais estimulado pelo fato de o artista ter trabalhado a maior parte de sua vida no setor da saúde. Após atuar na administração de hospitais, Bruscky foi diretor de Recursos Humanos do Ministério da Saúde em Pernambuco. Sua familiaridade com profissionais da saúde e equipamentos médicos permitiu tornar o mundo dos raios-X, encefalogramas e ecocardiogramas seu domínio criativo. Sentimentos: um poema feito com o coração (1976/ 2017) é uma reedição, quarenta anos depois, de sua primeira performance com um ECG, realizada quando Bruscky era funcionário de um hospital público, o Hospital Agamenon Magalhães, em 1976. Na performance, o artista registra seus batimentos cardíacos com um eletrocardiógrafo e apresenta os resultados como uma expressão de suas emoções. A obra é baseada no desejo de Bruscky não só de investigar os meios de comunicação, mas de desafiar o status quo. Em suas palavras, “na troca de informações entre artista e cientista, um aprende com o outro. Considero essa troca de informações essencial. Cada um em sua área, sem ser absorvido. É mais fácil subverter o cientista do que o contrário. Somos cientistas também”. Ao subverter um documento científico, apontando a subjetividade da experiência individual, o artista faz uma crítica implícita, porém mordaz, aos métodos científicos objetivos de catalogação de dissidentes utilizados por Estados totalitários, como registros de arcadas dentárias.
A subjetividade da experiência individual é parte integrante da poética do artista, o que reflete a influência não só da espontaneidade e da visão de arte enquanto experimento características do Fluxus, mas também do movimento neoconcreto brasileiro. Inspirando-se em Poema Enterrado (1959), proposição poética de Ferreira Gullar que Hélio Oiticica procurou realizar no quintal da casa de sua família e incluiu posteriormente em seu Projeto Cães de Caça (1961), Bruscky criou o Poema Amassado (2016), apresentado pela primeira vez no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) em 2016. O ponto de partida da performance é uma instalação composta de revistas e jornais amassados que convida o espectador a contribuir com a pilha e adentrar seu espaço. O ambiente permite ao público vivenciar o objeto artístico, como no poema concebido por Gullar e realizado por Oiticica, um conjunto de cubos enterrados no quintal. Ao serem manuseados, os cubos revelam a palavra “rejuvenesça”. Bruscky coopta essa abordagem neoconcreta neoconstrutivista para a poesia, criando uma barreira semelhante entre espectador e mensagem e mantendo um elemento lúdico. Segundo o artista, a “subversão só faz sentido se a obra não é entendida como uma ordem autoritária, se ela permite a recreação/recriação”.
Em Festa (2017), Bruscky incorpora a energia lúdica inerente às festividades brasileiras. Em Traques I e II (2011), ele recorda sua infância e as Festas de São João no Norte do Brasil, região onde nasceu. Bom Dia (2017) apresenta restos de fogos de artifício usados por todo o Brasil para comemorar o Ano Novo. Finalmente, durante a exposição, Bruscky produzirá Carnaval (2017), performance em que o confete simboliza a data. Num artigo intitulado Pernambuformancefolia, o artista discorre sobre o significado do carnaval, e sua definição também se aplica às festividades populares brasileiras em geral. Bruscky escreve, “Tão antiga quanto a história da humanidade, é na carnavalizAÇÃO que a performance assume, de uma forma prática/contínua… Num palco chamado Pernambuco, cada folião é um performático, inventando gestos, quebrando conceitos, criando estéticas, mesclando linguagens, assumindo/teatralizando o seu personagem...”.
A exposição acontece simultaneamente à participação do artista na 57ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, “Viva Arte Viva”, com curadoria de Christine Macel. Durante o mesmo período, a Galeria Nara Roesler | Nova York apresenta uma exposição de performances e anúncios classificados de Bruscky, em cartaz até 24 de junho.