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maio 24, 2017
Marco Maggi na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Meu único objetivo é escrever texturas ou criar desenhos de alta “in-definição” que promovam pausas e tornem o tempo visível. - Marco Maggi
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A Galeria Nara Roesler tem o prazer de apresentar a exposição O Ouro e o Mouro, de Marco Maggi, com desenhos produzidos em 2017, além do vídeo Global Myopia, de 2015, que mostra a obra homônima exibida na 56ª Bienal de Veneza em 2015. “O Ouro e o Mouro” traz obras repletas da poética de Maggi, propondo um reajuste da percepção temporal e uma reflexão sobre o fluxo intenso de estímulos visuais na sociedade contemporânea.
Em espanhol, "El oro y el moro" é a maior promessa possível, a qual o artista descreve como o ato de prometer “tudo isto e o céu também”. Maggi explica: “Promessas são um duplo vácuo, porque nunca serão uma presença presente... são sempre uma ausência futura. Nos cafés, tudo o que compartilhamos são conexões de Wi-Fi cada vez mais velozes. Somos fascinados pela velocidade e por conversas de longa distância. A arte visual é o oposto; um desenho é sempre o aqui e o agora, uma presença presente”.
Maggi propõe novos protocolos para o olhar, por meio de um ato subversivo tripartido constituído de lentidão, delicadeza e otimismo. Em Global Myopia, 2015, o artista nos convida à “imaginar um vírus contagioso com dois sintomas de miopia: olhar mais de perto e olhar mais devagar.” Global Myopia tece uma crítica sutil à ironia da vida contemporânea. No vídeo, vemos o público observar fixamente e com extrema atenção a obra de Maggi, exibida na 56ª Bienal de Veneza, a qual de uma certa distância, como é mostrada no vídeo, pode ser confundidas com paredes planas. O ato da observação atenta unifica o corpo da obra de Maggi, propondo uma dimensão alternativa sutil que é ao mesmo tempo pequena e vasta. Adriano Pedrosa observa: “não é por acaso que as obras de Maggi são tão difíceis de reproduzir e registrar em fotos; é preciso vê-las ao vivo, olhar sua superfície, sua linha, o vazado, a sombra, o relevo, a transparência”.
Embora o excesso de estímulos visuais e a escassez de tempo impossibilitem um olhar mais atento, os trabalhos precisos e delicados de Maggi exigem uma observação meticulosa. Nos desenhos expostos, assim como em grande parte de sua obra, o artista utiliza diversas mídias para criar padrões intrincados, geométricos e arquitetônicos. Utilizando caligrafia, ferramentas, superfícies e escalas para manipular o tamanho de letras, paredes, pavilhões e museus, Maggi constantemente convoca o espectador à investigação e concentração através do olhar. Gold is the new white, de 2017, é um desenho dourado contendo 960 “pontos”; em White Mending, Planar, Density Packing e Discrete Geometry (todos de 2017), um alfabeto autoadesivo viaja por diversas superfícies e caligrafias; e Spelling “D-i-s-s-e-m-i-n-a-t-i-o-n, de 2017, é um simples desenho a lápis sobre papel. O artista escreve que “desenhar é uma atividade superficial: diálogo entre mão e superfície. É uma disciplina que permite que nos distanciemos da profundidade do pensamento para multiplicar nossa empatia pela insignificância. Desenhar é como escrever numa língua que não sei ler”.
Em 2015, o filósofo francês François Cusset afirmou, sobre o método do artista: "[t]raços lidam com o significado; eles qualificam o que merece ser inscrito: por outro lado, o insignificante não deixa rastros, o banal não tem memória, tudo desaparece com o instante de sua relevância. Marco Maggi vira essa ordem estabelecida de cabeça para baixo; esculpindo e cortando, ele transforma o insignificante em traço, o vácuo em arquivo, a sombra em alfabeto, o detalhe em cosmos e as mais ínfimas variações naquela famosa revolução que havíamos desistido de esperar”.
My only objective is to write textures or make high "in-definition" drawings promoting pauses and making time visible. - Marco Maggi
Galeria Nara Roesler is pleased to present the exhibition O Ouro e o Mouro (“The Gold and the Moor”) showcasing works by Marco Maggi. The exhibition unveils drawings conceived in 2017, and presents the video Global Myopia, developed during the exhibition of the artist’s work at 56th Venice Biennial, 2015. “O Ouro e o Mouro” displays works embedded in his poetics, proposing a readjustment of temporal perception and reflecting on contemporary society’s high-traffic of visual stimuli.
In Spanish "El oro y el moro" is the greatest possible promise, described by the artist as a promise entailing “all of this and the heavens too.” He expands, “promises are a double vacuum because they will never be a present presence…always a future absence. At coffee shops, we only share faster and faster wi-fi connections. We are fascinated by speed and long distance conversations. Visual art is the opposite, a drawing is always here and now, a present presence.”
Maggi offers new viewing protocols through a threefold subversive act consisting of slowness, delicacy and optimism. The artist invites you to “imagine a contagious virus with two myopic symptoms: look closer and look slower.” The video Global Myopia, 2015, weaves a fine comment on the irony of contemporary life as the public fixates and examines with great care the work Maggi displayed during the 56th Venice Biennale, which from a distance, as in the video, can be mistaken for a plane wall. The act of close and attentive inspection unifies Maggi’s body of work, which proposes a subtle alternative dimension, which is at once small and vast. Adriano Pedrosa, points out that “it is not by chance that Maggi’s works are so difficult to be reproduced and registered in photos; it is necessary to see them live, inspect their surface, their line, carving, shadow, relief, transparency.”
While widespread excess of visual stimuli and scarcity of time precludes the possibility of a closer look, the precise and delicate works by Maggi plead for a meticulous observation. The exhibited drawings, as much of his oeuvre, employs diverse media through which he creates intricate geometric and architectural patterns. By handling calligraphy, tools, surfaces, and scales to manipulate letter size, wall size, pavilion and museum size, the artist summons the viewer’s scrutiny and focuses their gaze. A substantial golden drawing includes 960 “stops” in Gold is the new white, 2017; a self-adhesive alphabet travels through different surfaces and calligraphies in White Mending, Planar, Density Packing, and Discrete Geometry (all 2017); and a pencil drawing simply sits on paper in Spelling “D-i-s-s-e-m-i-n-a-t-i-o-n, 2017. The artist writes, "to draw is a superficial activity: dialogue between hand and surface. A discipline that allows us to take distance from the depth of thinking in order to multiply our empathy for insignificance. Drawing is like writing in a language that I cannot read”
In 2015, French philosopher François Cusset considered the artist’s approach and stated, "[t]races deal with significance, they qualify what deserves to be inscribed: whereas the insignificant leaves no trace, the ordinary has no memory, all vanished with the instant of their relevance. Marco Maggi puts that well-established order upside down, carving and cutting the insignificant into a trace, the vacuum into an archive, the shadow into an alphabet, the detail into a cosmos, and the smallest of variations into that famous revolution we had ceased to expect."