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maio 16, 2017
Beatriz Milhazes na Carpintaria, Rio de Janeiro
Beatriz Milhazes apresenta conjunto inédito de esculturas em mostra na Carpintaria
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Pintora por excelência, Beatriz Milhazes vem recentemente experimentando as potencialidades e desafios da escultura. O resultado desse processo, iniciado em 2010, pode ser visto na exposição Marola, Mariola e Marilola, a partir do dia 20 de maio, na Carpintaria, novo espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel, no Rio de Janeiro.
São três grandes trabalhos tridimensionais, que apresentam forte sintonia com suas telas, gravuras e colagens, mas propõem novos e instigantes nexos perceptivos. Como se seus motivos característicos – como o círculo, a flor e o arabesco – tomassem conta do espaço e estabelecessem entre si um novo tipo de relação corporal, física, determinada também pelos intervalos entre elementos e pela posição do espectador. Dependendo do ângulo em que você observa a peça, forma-se um outro trabalho. É uma vivência concreta, em que o corpo da obra relaciona-se com o corpo do observador. “Esta possibilidade física é uma área de investigação que a pintura não oferece”, esclarece.
As três esculturas que dão título à mostra foram criadas ao longo de cinco anos de pesquisa – com a realização de diversas maquetes em tamanho natural – na Durham Press, estúdio na Pensilvânia (EUA) onde Beatriz desenvolve, desde 1996, sua produção gráfica, em paralelo a uma intensa agenda de trabalho e exposições. São peças grandes, com altura que varia entre 2,26 e 2,89 metros e que lidam com o espaço de diferentes maneiras, quer potencializando o corpo da obra (as circunvoluções de Marola criam um corpo mais denso no espaço, com largura e espessura quase equivalentes), quer servindo como divisor de campos, como no caso de Marilola, que tem menos de meio metro de espessura e funciona quase como uma cortina. Inéditas no Brasil, as três peças foram exibidas nas galerias que representam a artista em Nova York e Paris (James Cohan Gallery, NY, e Galerie Max Hetzler, Paris).
Os títulos, como costuma acontecer na produção de Milhazes, são interessantes chaves de leitura. Além de promoverem a conexão entre as obras, reafirmam a importância do ritmo, da sonoridade e da brasilidade em seu trabalho. A primeira e maior delas, que segundo ela ainda apresenta uma forte conexão com a ideia do móbile, remete ao ir e vir das ondas, à noção de movimento constante e sedutor.
Mariola, doce popular, também traz ecos da cultura vernacular que tanto alimenta a artista, enquanto Marilola brinca com a sonoridade, num jogo lúdico de palavras, num procedimento que se assemelha ao jogo espacial que ela cria a partir da associação de diferentes materiais e cores. Nas três peças, o conjunto é articulado a partir de um desenho em metal, que serve de suporte para os diferentes elementos. Há nessas composições uma lógica semelhante à da colagem, fortemente presente na pintura de Milhazes.
Tudo começou com um cenário feito por Beatriz para um espetáculo de dança de sua irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes, em 2004. Ao criar uma espécie de lustre no centro do palco, ela foge pela primeira vez da ideia de painel que sempre havia regido seu trabalho cenográfico e coloca diante de si um desafio tridimensional que viria a se tornar cada vez mais agudo.
O primeiro resultado desse mergulho no espaço foi a série Gamboa (que esteve presente na mostra realizada há quatro anos no Paço Imperial), que para a artista ainda não pertenceriam ao campo escultórico. “Não considero queGamboa lide com o volume, com o espaço arquitetônico, físico”, diz. Outra diferença em relação à experiência deGamboa é o tipo de material utilizado. Enquanto o primeiro debruçava-se sobre elementos próximos à cultura do carnaval e da festa de rua, nas esculturas mais recentes Beatriz buscou propositalmente trabalhar com elementos mais resistentes, com materiais atraentes como os metais polidos, o acrílico e a madeira, transformada em suporte para intervenções pictóricas.
“Sou uma pessoa do bidimensional. Minhas ideias, conceitos estão totalmente ligados ao plano”, afirma, explicando como foi difícil e instigante esse desafio. “A maior dificuldade foi começar a raciocinar em três dimensões”, explica. Trata-se de um processo cheio de idas e vindas, no qual procurou “a partir do meu repertório, aprofundar, trabalhar verticalmente, evoluindo na tridimensionalidade”. “Foi quase uma aventura”, conclui Beatriz, que este semestre terá grande parte de sua obra reunida em um volume da série especial que a editora alemã Taschen dedica a grandes pintores contemporâneos. O livro, em grande formato, terá tiragem limitada (assinada de próprio punho pela artista) e será lançado em quatro idiomas: alemão, inglês, francês e português. Beatriz fará assim parte de um seleto grupo de homenageados que já inclui nomes como Jeff Koons, Cristopher Wool, Neo Rauch, Albert Ohelen, Darren Almond, Ai WeiWei e David Hockney.
Marola, Mariola e Marilola, que reforça a vocação experimental e de promoção de cruzamentos entre diferentes linguagens da Carpintaria, fica em cartaz até o dia 15 de julho.
Beatriz Milhazes é formada em Comunicação Social. Ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1980, onde estudou até 1983. Como professora de pintura, lecionou até 1996.
Milhazes é considerada uma das mais importantes artistas brasileiras. Consolidou sua carreira no circuito nacional e internacional das Artes Plásticas com participação nas bienais de Veneza (2003), São Paulo (1998 e 2004) e Shangai (2006), e exposições individuais em museus e instituições prestigiosas, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo(2008); a Fondation Cartier, Paris (2009); a Fondation Beyeler, Basel (2011); a Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2012); o Museo de Arte Latinoamericano (Malba), Buenos Aires (2012); e, mais recentemente, o Paço Imperial, Rio de Janeiro (2013), e o Pérez Art Museum, Miami, USA (2014/2015).
Suas obras integram as coleções do Museum of Modern Art (MoMA), Solomon R. Guggenheim Museum e The Metropolitan Museum of Art (Met), em Nova York; do 21st Century Museum of Contemporary Art, no Japão; e doMuseo Reina Sofia, em Madrid, entre outros.
A artista vive e trabalha no Rio de Janeiro.
A painter par excellence, Beatriz Milhazes has recently come to investigate the possibilities and challenges of sculpture. The result of this process initiated in 2010 can be seen in the show Marola, Mariola and Marilola, as of May 20th, at Carpintaria, Fortes D’Aloia & Gabriel’s new space in Rio de Janeiro.
There are three large tri-dimensional pieces, whilst in harmony with her paintings, prints and collages, they propose a novel and riveting perceptive element. Her characteristic motifs – such as the circle, the flower and the arabesque – fill up the room, establishing a new type of corporeal, physical relationship among them. This relationship is also determined by precise intervals among the elements as well as by the viewer’s perspective. Depending on the angle the pieces are being observed, a different work emerges, as well as a concrete experience, in which the body of the sculpture is interrelated to that of the viewer’s. “This physical possibility represents an investigative area that painting does not offer”, she explains.
The three sculptures naming the show were conceived over five years of research – several life-size models were made – at Durham Press, a studio in Pennsylvania (US), where Beatriz has been developing her graphic production since 1996, concomitantly with her extensive work schedule and exhibitions. They are large pieces, ranging between 2.26 to 2.89 meters high, interacting differently with the space, either by enhancing the body of the work (the circumvolutions from Marola create a denser body in space, with breadth and thickness almost coinciding), or acting as a divider, such as Mariola which is less than half a meter thick, almost like a curtain. These pieces, albeit unknown in Brazil, have been displayed in galleries representing the artist in Paris and New York (James Cohan Gallery, NY, and Max Hetzler, Berlin/Paris).
The titles, as it usually occurs in Milhazes’ works, are interesting reading keys. Not only do they promote the connection among the pieces, but they also reaffirm the importance of rhythm, sonority and a Brazilian essence in her work. The first and largest of them, which according to the artist still presents a close connection with the concept of mobile, refers to ripples on the sea, to the notion of a constant and seductive movement.
Mariola, a popular sweet from Northeast Brazil, also echoes the vernacular culture so appreciated by the artist, whereas Marilola plays with sonority, a playful word game, a procedure resembling the spatial game she creates from the association of different materials and colors. In the three pieces, the body is devised from a design in metal, acting as a support for the different elements. In these compositions, there is logic similar to that of collage, clearly present in Milhazes’ paintings.
It all began with a stage setting Beatriz created for her sister’s dance show, the choreographer Márcia Milhazes, in 2004. By designing a type of chandelier for center stage, she abandoned the idea of working with panels, which had ruled her previous scenographic works, and takes on a tridimensional challenge that would become increasingly sharp.
The first result from this plunge into space was the series Gamboa (part of the exhibition held in Paço Imperial, Rio de Janeiro, four years ago), which the artist did not yet consider part of her sculptural world. “I do not believe Gamboa deals with volume, with the architectonic space, the physical”, she states. Another difference regarding the Gamboa experience is the material she used. While Gamboa poured over elements close to the carnival culture and popular festivities, in her more recent sculptures, Beatriz deliberately intended to work with more resistant elements, with attractive materials such as polished metals, acrylic and wood, transformed into support for pictorial interventions.
“I belong to the two-dimensional domain. My ideas and concepts are totally connected to the plane”, she says, explaining how difficult and thought-provoking this challenge was. “The greatest difficulty was to begin thinking in tri-dimensions”, she states. It is a process full of vicissitudes, in which she attempted “using my repertoire, to deepen, work vertically, evolving in the tri-dimension”. “It was almost an adventure”, Beatriz concludes. This semester she will have great part of her work assembled in a volume from the special series the German publishing house Taschen dedicates to major contemporary painters. This large format and limited edition book (signed by the artist) will be published in four languages: German, English, French and Portuguese. Beatriz will then be part of a selected group of celebrated artists, such as Jeff Koons, Cristopher Wool, Neo Rauch, Albert Ohelen, Darren Almond, Ai Weiwei and David Hockney.
Marola, Mariola and Marilola, which strengthens Carpintaria’s mission to promote and explore different styles, can be seen until July 15.
Beatriz Milhazes graduated in Social Communication. She entered the School of Visual Arts at Parque Lage in 1980, where she studied until 1983. She taught painting until 1996. Milhazes is considered one the most important Brazilian artists. She consolidated her career in the national and international circuit of Fine Arts, participating in the biennials of Venice (2003), São Paulo (1998 and 2004) and Shanghai (2006), and in solo exhibitions in museums and prestigious institutions, such as Pinacoteca do Estado de São Paulo (2008); Fondation Cartier, Paris (2009), Fondation Beyeler, Basel (2011); Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon (2012); Museo de Arte Latinoamericano (Malba), Buenos Aires (2012); and recently, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2013) and Pérez Art Museum, Miami, (2014/2015). Her works compose the collections of the Museum of Modern Art (MoMA), the Solomon R. Guggenheim Museum and the The Metropolitan Museum of Art (Met) in New York; the 21st Century Museum of Contemporary Art, in Japan; and the Museo Reina Sofia, in Madrid, among others. The artist lives and works in Rio de Janeiro.