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maio 14, 2017
Encontros no espaço na Funarte, Belo Horizonte
A Funarte Minas Gerais recebe exposição de três artistas brasileiros que moram e produzem em cidades e países diferentes cujas obras dialogam com a arquitetura e lançam questionamentos éticos
No dia 17 de maio, às 19h, o Ministério da Cultura e a Funarte trazem para Belo Horizonte a exposição coletiva Encontros no espaço, com objetos escultóricos de Adriana Vignoli, Lais Myrrha e Francisco Klinger Carvalho. Com curadoria e mediação de Graça Ramos e texto crítico de Bia Dias, a mostra reúne obras de três artistas visuais brasileiros que moram e produzem em locais diferentes, como Brasília (DF), São Paulo (SP) e Mannheim (Alemanha). A mostra selecionada pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais Funarte fica em cartaz até o dia 26 de junho, no Galpão 5 da Funarte de Belo Horizonte, com visitação de terça a domingo, das 10h às 21h. O Complexo Cultural da Funarte Minas Gerais fica na Rua Januária, 68, Centro. A entrada é franca e livre para todos os públicos.
A mostra apresenta ao público obras tridimensionais que possibilitam a compreensão dos modos como artistas contemporâneos lidam com a espacialidade, tendo a linguagem arquitetônica como seu principal suporte. No percurso de cada um deles, surgem ainda questões inerentes à arte, como o exercício, a técnica e a artesania. “Os três se preocupam com uma forma construtiva que dialoga com a própria história da arte, com referências fortes ao Modernismo e Neoconcretismo”, afirma a curadora Graça Ramos. “É uma forma de conectar o passado e o presente”, completa.
Ancestralidade
Cada um ao seu modo conecta-se ao passado que está fortemente ligado a uma tradição artística e à sua formação. As obras de Adriana Vignoli, de Brasília, têm forte apelo arquitetônico e geométrico. Em “Vãos”, ela instala duas casas de marimbondo sobre barras de ferro, utiliza raio lazer, alto-falantes, vidro laboratorial, água e conta-gotas. À medida que a água pinga no reservatório começa um diálogo entre as duas casas de marimbondo em língua guarani. Já em “Onde a Terra acaba”, duas peças de cerâmica, cada uma com três “pernas” cilíndricas; a primeira (superior) se apoia em estrutura de madeira triangular e a segunda (infe¬rior) se apoia no chão. A peça superior possui um pequeno furo em uma de suas extremidades, na qual a terra vermelha cai no interior de um cilindro de vidro e escorrega para dentro da peça inferior. Essa possui um orifício por onde a terra vaza, depositando-se no chão. Entre as linhas de pesquisa da artista estão a matéria, o tempo e as relações de tempo espaço. Suas obras tratam de questões relacionadas à ecologia, à causa indígena, e também de arquitetura e da história da arte.
Encarceramento
Francisco Klinger, artista visual nascido em Belém do Pará, mas que trabalha e mora em Mannheim (Alemanha), revisita o passado para criar um diálogo crítico com o mundo contemporâneo. Suas obras misturam madeira, ferro e objetos antigos que são retrabalhados artesanalmente para criar obras tridimensionais que remontam ao período colonial brasileiro, levantando questionamentos sociais e políticos arraigados na cultura brasileira. Em “Catedral emborcada ou a história das mulheres enjauladas”, Francisco Klinger traz a discussão para as questões de gênero, impactado pelas mulheres que trabalhavam com prostituição e estavam expostas em jaulas. Na obra “Nada será como antes”, o questionamento vai para o campo das práticas e comportamentos políticos, as práticas patrimonialistas e cerceadoras que levam a certa melancolia com o estado das coisas. O artista lança mão de uma prática arquitetônica de fachadas, como o uso de grades que remetem ao cerceamento de liberdades, ao encarceramento de espaços públicos.
Premiação
A pesquisa de Lais Myrrha, artista visual de Belo Horizonte que produz e mora em São Paulo, apoia-se sobre a matéria, conhecimentos e ferramentas que fazem parte da experiência humana e o local que habita. Em seus trabalhos, o material tem função simbólica, além da solução formal. Em “Pódio para ninguém”, um pedestal de premiação feito de cimento batido, montado em formas de construção civil que logo são retiradas, vê-se uma imediata e contundente crítica à lógica da competitividade, questionando o lugar de vencedores e perdedores. “Todas as obras apresentadas partem de projetos que dialogam com a tradição da história da arte, renovando-a, e também propõem questões éticas pertinentes à atualidade”, ressalta a curadora.
Sobre os artistas
Adriana Vignoli vive e trabalha em Brasília, Brasil. Possui graduação em Arquitetura e mestrado em Artes Visuais, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Entre 2013 e 2014, trabalhou em ateliê e expôs em Wiesbaden e Berlim Alemanha. Em 2016, foi contemplada com o prêmio do Salão Mestre D’armas em Planaltina, DF. Recebeu o Prêmio Nacional da Funarte de Arte Contemporânea, 2015. Em seus objetos, ela utiliza materiais como o vidro, a terra, a pedra e o metal e vem elaborando uma poética de coisas “autônomas e utópicas”, que conectam o arcaico ao presente, ou mesmo, confabulam um futuro. Suas obras se envolvem por temáticas do tempo, da paisagem e da arquitetura.
Francisco Klinger Carvalho é escultor brasileiro, nasceu em Óbidos (PA), Brasil, em 1966. Graduado em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará, Belém-Brasil e pós-graduado pela Academia de Arte de Düsseldorf; Alemanha, com orientação do professor Tony Cragg, onde obteve o título de Meisterschüle. Foi bolsista do DAAD (Deutscher Akademischer Austauchdienst /Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico) assim como do Estado de Hessen, Alemanha, e do IAP (Instituto de Arte do Pará). Foi professor visitante da Universidad Nacional de Bogotá, Colômbia, de 2009 a 2011. Em 2012, recebeu o prêmio Banco Sparkasse Kandel, região Pfalz, Alemanha. Em 2013, foi contemplado com o Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea. Atualmente, vive e trabalha em Mannheim, Alemanha.
Lais Myrrha é mestre pela Escola de Belas-Artes da UFMG, 2007 e graduada no curso de artes plásticas pela Escola Guignard, UEMG, 2001. Desde 1998 participa de diversas exposições coletivas e individuais, tais como I Bolsa Pampulha (2003), do Programa Trajetórias do Centro Cultural Joaquim Nabuco, Recife (2005), e da Edição 2005/2006 do Programa Rumos Visuais do Instituto Itaú Cultural (São Paulo). Em 2007, foi contemplada com o Prêmio Projéteis, Rio de Janeiro, e com o Prêmio Atos Visuais, Brasília, ambos concedidos pela Funarte. Em 2010 participou da Paralela10 no Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo. Em 2011, integrou a Temporada de Projetos do Paço das Artes, São Paulo, e a 8ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, e foi premiada no I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea, Brasília. Foi contemplada em 2012 com a Bolsa Estímulo às Artes Visuais concedida pela Funarte. Em 2013, realizou a individual Zona de Instabilidade na CAIXA Cultural São Paulo e foi selecionada para o 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea do Videobrasil, e participou da exposição Blind Field no Karnnet Museum, Illinois, USA. Ainda em 2013/2014, apresentou a exposição individual Zona de Instabilidade (com curadoria de Júlia Rebouças) na CAIXA Cultural São Paulo e Brasília. Em 2014, realizou o Projeto Gameleira 1971 no Pivô, e participou dos projetos Greve, na Fundação Bienal de São Paulo/SP-Arte e Ensaio de Orquestra no Coletor, em São Paulo. Em 2016, seu trabalho “Dois pesos duas medidas” ocupou o salão principal da 32º Bienal Internacional de São Paulo.
Sobre a curadora
Graça Ramos é doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona, com tese sobre a escultura da artista mineira Maria Martins (1894-1973). No início dos anos 1980, se formou em jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu o Mestrado em Literatura Brasileira, com ênfase em poesia. Em 2010, atuou como pesquisadora assistente, em Brasília, para a exposição “As construções de Brasília”, realizada pelo Instituto Moreira Salles (RJ/SP). Foi uma das coordenadoras do espaço cultural, não comercial, Arte Futura e Companhia, que realizou exposições de Cildo Meireles, Ernesto Neto, Nelson Felix, Marcos Chaves, Yoko Ono e Evandro Salles, além de duas mostras panorâmicas sobre a produção de jovens artistas brasilienses.