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maio 10, 2017
Cinthia Marcelle na Bienal de Veneza, Itália
“Chão de Caça”, Cinthia Marcelle Pavilhão do Brasil na 57ª Bienal de Veneza
A Fundação Bienal de São Paulo anuncia que a participação brasileira na 57ª International Art Exhibition, La Biennale di Venezia, em 2017, consiste na instalação Chão de Caça (Hunting Ground), desenvolvida pela artista Cinthia Marcelle (Belo Horizonte, 1974) especialmente comissionada para o Pavilhão do Brasil, com curadoria de Jochen Volz.
Na instalação de Marcelle, um piso inclinado, feito de grades soldadas, ocupa o interior das duas galerias conectadas que compõem o Pavilhão do Brasil. Seixos comuns, como aqueles que se encontram ao redor, nos Giardini, espremem-se nos vãos da grade. Logo se reconhece o tipo de piso, normalmente utilizado em contextos industriais ou em espaços públicos, como em trilhos de ferrovias ou para cobrir poços de ventilação de metrô ou sistemas de esgoto. Entrelaçados nas grades e nas pedras encontram-se outros elementos escultóricos, uma série de pinturas e um vídeo.
Várias hastes de madeira foram fixadas na estrutura do piso, cada uma equilibrando uma pintura em tecido na ponta superior, como um grupo de fantasmas ou uma pequena floresta de sinais, lanternas ou mesmo totens. O suporte das pinturas são faixas de algodão listradas em preto e branco, lençóis comuns, sendo que cada uma das faixas pretas foi cuidadosamente apagada com tinta branca. Pedras de vários tamanhos envoltas pelos cadarços se tornam parte da estrutura maior, dando a ela peso e volume escultóricos.
Há ainda um vídeo: uma tomada de ângulo único para o telhado, paulatinamente desmantelado por homens que criam uma abertura ampla o suficiente para que o escalem e decolem. Na peça, feita em parceria com o cineasta Tiago Mata Machado, os uniformes de cores vibrantes sugerem que esses homens são prisioneiros preparando-se para uma fuga ou um protesto, lembrando décadas de rebeliões em prisões no mundo todo, de Bangcoc, Glasgow, Milão, Sri Lanka e Sydney, para citar algumas, aos terríveis massacres nas penitenciárias brasileiras nos últimos meses. Evidentemente, o filme de Marcelle e Machado não comenta diretamente nenhum desses eventos, muito menos ilustra a condição real do encarceramento.
“Marcelle joga com a ambiguidade, cria um ambiente enigmático, guiado por suspensão, obsessão, rebelião. A instalação como um todo provoca certa sensação de instabilidade”, sugere Volz. “Mesmo que sejamos seduzidos a nos agarrar à imagem da prisão e da fuga ou rebelião, sugerida pela projeção de vídeo e reverberada na aspereza das grades de aço, é possível também imaginar que estamos em um laboratório peculiar ou no ateliê de um artista, em uma floresta tecno ou em meio à selvageria de uma grande cidade grande.”
Sobre Cinthia Marcelle
Desde o início dos anos 2000, Cinthia Marcelle vem construindo sua obra com uso de suportes variados que vão da instalação à escultura, da fotografia e do vídeo à performance. A artista trabalha com invenção de imagens e procura desenhar cenas poéticas e potentes com os elementos que registra e com os materiais que utiliza. Com frequência, busca expressamente criar circunstâncias ou configurações-modelo a fim de verificar coisas e situações.
Partindo da curiosidade, suas ideias e pensamentos se transformam em experimentos, que por sua vez se traduzem em imagens. Sua obra é uma declaração de que a arte é toda sobre o ato de lançar questionamentos. Respostas são dadas apenas e na medida em que são necessárias para estimular novas perguntas. Sempre marcados por um grau de absurdo, os trabalhos de Marcelle parecem derivar seu poder do fato de refletir a jornada da artista pela vida e de seu desejo de entender e experimentar as relações entre o eu e o mundo.
Cinthia Marcelle participou de individuais na América do Sul e na Europa e recentemente foi comissionada pelo Projects 105 para apresentar Educação pela Pedra, novo site-specific para a Duplex Gallery do MoMA PS1, em Nova York (2016). Participou também da 11ª Bienal do Sharjah (2015) com At the Risk of the Real e apresentou sua instalação Dust Never Sleeps na Secession, em Vienna (2014). Em 2006, recebeu o International Prize for Performance por seu trabalho Gray Demonstration e em 2010 foi agraciada na primeira edição do Future Generation Prize.
Sobre a participação brasileira na 57 ª Bienal de Veneza
O pavilhão do Brasil, construído em 1964, é o espaço no qual o próprio país escolhe e expõe artistas que a cada nova edição o representa. Desde 1995, a responsabilidade por essa escolha foi outorgada pelo governo Brasileiro à Fundação Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga no gênero em todo o mundo. A partir da mesma data, as participações brasileiras no evento são organizadas em colaboração conjunta entre o Ministério das Relações Exteriores - mantenedor do pavilhão brasileiro -, o Ministério da Cultura – por meio do aporte de recursos da Fundação Nacional de Artes (Funarte) - e a Fundação Bienal de São Paulo - responsável pela escolha do curador e produção das mostras.