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abril 29, 2017

Paulo Bruscky na Nara Roesler NY, EUA

Comecei a publicar anúncios classificados que eram, basicamente, propostas de projetos ... porque quando você desenvolve um trabalho conceitual, você já está trabalhando a partir do momento em que tem a ideia. — Paulo Bruscky

[scroll down for English version]

A Galeria Nara Roesler tem o prazer de apresentar uma exposição de obras de Paulo Bruscky (n. Recife, Brasil, 1949), a primeira do artista no espaço da galeria em Nova York. A exposição inclui anúncios classificados e registros de performances históricas, ilustrando a força do conjunto de obras criado pelo artista ao longo de cinco décadas, embora muitos de seus projetos nunca tenham sido concluídos devido à censura imposta pela ditadura militar brasileira durante os primeiros anos de sua carreira. A mostra também contextualiza trabalhos do artista que serão apresentados simultaneamente à exposição, na 57ª Bienal de Veneza, onde Arte se embala como se quer (1973/2017) será apresentada de 11 de maio a 26 de novembro; e na Americas Society, em Nova York, onde Bruscky coordenará um workshop baseado em sua histórica performance Xeroperformance (1980), no dia 24 de maio.

A Galeria Nara Roesler também apresentará, de Bruscky, Homenagem a George Orwell: 1984/2014 (2014) e Conexão (2013) como parte de sua seleção para a Frieze New York 2017, que acontece de 5 a 7 de maio, para demonstrar sua compreensão visionária da sociedade da comunicação e sua abordagem conceitual multifacetada, que explicam a relevância duradoura de seus trabalhos.

Poeta e artista multimídia, Bruscky foi pioneiro da “arte comunicação”, termo que ele próprio cunhou. Como muitos artistas de sua geração, Bruscky acredita que a arte deve incorporar seu entorno e que sua função é desfragmentar a vida cotidiana. Proponente ativo do movimento internacional da arte postal e membro do Fluxus, o artista realizou experimentos heterodoxos com sistemas de comunicação como livros de artista, anúncios classificados, telegramas, telefax, fax, a internet e a fotocopiadora. A prática de Bruscky se baseia numa poética da experimentação ancorada na potencialidade da mídia, na rejeição ao formalismo e na recusa à estagnação trazida pela busca por reconhecimento.

Bruscky afirma, “Eu estudo equipamentos para ver como posso subvertê-los, retirá-los de sua função — quer dizer, torná-los nossos aliados, certo”? Em seus primeiros experimentos com a fotocopiadora, Bruscky manipulou a luz para criar distorções e sobreposições, efeitos que só podiam ser obtidos com uma máquina de Xerox. A subjetividade gerada pelo processo eventualmente levou o artista a apontar a fotocopiadora como coautora em seus catálogos. De fato, o engajamento lúdico de Bruscky com a subjetividade de sua autoria torna-se evidente quando ele confronta seu alter ego xerográfico, investigando uma ‘fotolinguagem’ para registrar o encontro (O Eu Comigo, 1977). Dessas investigações iniciais surgiu Xeroperformance (1980), em que Bruscky registrou seus gestos corporais na placa de vidro de uma copiadora, incorporando sua fisicalidade ao trabalho.

Uma peça central das investigações em que Bruscky utiliza técnicas de geração e reprodução de imagens é o desejo de transformar o status quo e criar o impossível. Na década de 1970, o artista passou a postar anúncios em jornais, ou “arte desclassificada”, que rompiam a banalidade do periódico apresentando propostas extraordinárias ao leitor. Os anúncios procuravam técnicos que pudessem filmar sonhos (Projeto de uma Máquina de Filmar Sonhos com Filmes, 1977), discos que desaparecessem quando tocados pela agulha do toca-discos (Disco Antropofágico, 1984) e meteorologistas que pudessem colorir nuvens (Air Art, 1974/1982). Nas palavras da curadora Clara M. Kim, “Usando humor negro, paródia e o conceito situacionista de detournément, as obras de Bruscky operam como propostas de ruptura e transformação da ordem social tanto nas mentes quanto nas ruas da cidade”.

Em seus classificados e performances, subjacente ao humor e ao desejo de criar uma expressão poética, há uma intenção política de solapar o regime opressivo que o prendeu e o paralisou artisticamente durante as décadas de 1960 e 70. Sua exposição Arte Cemiterial (1971) pretendia ser um memorial à morte da autonomia artística sob a censura do Estado e uma reflexão tácita sobre a morte de ativistas políticos. A exposição foi impedida pelas autoridades, então o artista organizou um cortejo fúnebre para ela, realizado nas ruas de sua cidade-natal, Recife, até que sobreveio a inevitável repressão. Bruscky manteve seu aguçado senso de humor macabro, lançando ao rio caixões com inscrições para que fossem trazidos de volta à margem (Enterro Aquático, 1972.) Nas palavras do artista, “Eu fechava o caixão e colava nele uma frase irônica, alguma coisa sobre a história da arte ou o governo militar brasileiro. No final, eles ligaram os pontos e descobriram que o trabalho era meu. Aquilo gerou uma comoção... e eu guardei um registro fotográfico de tudo”.

Simultaneamente à crítica política, Bruscky questiona os parâmetros que regem a criação e a exposição de obras de arte, frequentemente dialogando com contemporâneos seus que também são críticos às instituições. Para o 30o Salão Paranaense de Arte, em 1973, enviou um telegrama (Telex, 1973) apresentando três propostas que constituíam uma performance/instalação que refletia sobre o ato de preparar uma exposição. Devido à historicidade conceitual do salão, aquela era uma ocasião particularmente adequada para se questionar a instituição canonizadora da arte. Mas embora tenha sido aceita pelo salão, a obra nunca foi executada—isto é, não até este mês de maio, quando o artista apresentará Arte se embala como se quer, performance baseada na primeira proposta, na Bienal de Veneza, como parte da exposição “Viva Arte Viva”, com curadoria de Christine Macel.


I started running classified ads that were basically project proposals…because whenever you’re working on something conceptual, you’re already doing it from the very moment you have the idea. – Paulo Bruscky

Galeria Nara Roesler is pleased to present an exhibition of works by Paulo Bruscky (Recife, PE, Br, 1949), the artist’s first at our New York gallery. The exhibition showcases the artist’s classified advertisements, as well documentation of historical performances, illustrating the artist’s seminal body of work spanning over 5 decades, many never finalized due censurship imposed by the military dictatorship in Brazil during the first years of his artist’s career. The exhibition also contextualizes the artist’s work that will be presented concurrently with the exhibition at: the 57th Venice Biennale, where Art Is Packaged Any Way We Like, 1973 / 2017, which will be performed as part of “Viva Arte Viva,” curated by Christine Macel on May 11th to November 26; and the Americas Society in New York, when the artist will give a workshop based on his historic performance Xeroperformance, 1980, on May 24th.

Bruscky’s visionary understanding of a communication society and multilayered conceptual approach account for the enduring relevance of his work, which is why we will also showcase the artist’s Tribute to George Orwell: 1984/2014, 2014, and Connection, 2013, as part of our selection for Frieze New York, 2017.

A multimedia artist and poet, Bruscky was a pioneer in “communication art,” a term coined by the artist himself. Like many artists of his generation, Bruscky believes that art should incorporate its surroundings and endeavor to defragment every-day life. An active proponent of the international mail art movement and a member of Fluxus, the artist performed unorthodox experiments with systems of communication such as artist books, classified ads, telegrams, telefaxes, faxes, the internet and the Xerox. Driving Buscky’s practice is a poetics of experimentation, anchored on the potentiality of media, a rejection of formalism, and a refusal to stagnate in the pursuit of recognition.

As Bruscky states, “I study equipment to see how I can subvert it, pluck it from what it’s meant to do, I mean, make it our ally, right?” The artist’s early experiments with the Xerox machine manipulated light to create distortions and superimpositions, effects which only a Xerox machine was able to create. The subjectivity created by the process, eventually led the artist to list the copy maker as a co-author in his catalogues. In fact, Bruscky’s playful engagement with the subjectivity of his authorship becomes evident when he confronts his xerographic alter-ego, exploring a “photolanguage” to document the encounter (Me with Myself, 1977). From these early investigations emerged his Xeroperformances, 1980, in which the artist’s physicality becomes a component in his artwork as he began to record his bodily gestures on the glass plate of a copier.

Central to Bruscky’s investigations with imaging and reproduction techniques, is a desire to transform the status quo and create the impossible. In the 1970s Bruscky began posting announcements on newspapers, or “declassified art,” that interrupted the mundanity of the paper by offering extraordinary proposals to the reader. The announcements searched for technicians capable of recording dreams (Project of a Machine of Filming Dreams, 1977), records that would disappear as the record player needle went over it (Anthropophagic Record, 1984), and meteorologists capable of coloring clouds (Air Art, 1974/1982). “Using black humor, parody, and the situationist’s notion of detournément, Bruscky’s work operates as propositions to disrupt and transform social order as much in one’s mind as on city streets,” states curator Clara M Kim.

In his classifieds as well as in his performances, underlying the humor and genuine desire to create a poetic expression, is a political intent to undermine the oppressive regime that arrested and artistically paralyzed the artist throughout the 1960s and 70s. The artist’s Cemetery Art exhibition in 1971 was meant to memorialize the death of artistic autonomy under State censorship while tacitly reflecting on the deaths of political activists. However, when the exhibition was prevented by the authorities, the artist organized a funeral procession for his exhibition which took place in the streets of his hometown, Recife, until it was inevitably repressed. Bruscky retained this piercingly macabre sense of humor when he placed coffins bearing phrases into the river so that these would wash back to shore (Burial at Sea, 1972.) In the artist’s words, “I’d seal the whole coffin and stick some ironic phrase on it, something about the history of art or Brazilian military government. They eventually put two and two together and found that this was my work. It caused a commotion … and I kept a photo record of the whole thing”

Beyond his political criticism, Bruscky simultaneously engages in a questioning of the parameters for art making and exhibiting, entering in frequent dialog with contemporaries who also engage in institutional criticism. For the 30o Salão Paranaense de Arte in 1973, the artist sent a telegram (Telex, 1973) relaying three proposals that constituted a performance/installation that reflected on the act of preparing an exhibition. The conceptual historicity of the salon made it a particularly suitable occasion to question the canonizing institution of art. Although accepted by the salon, the piece was never performed. That is, until this May when the artist will perform Art Is Packaged Anyway We Like It, 1973/ 2017, a performance based on the first proposal that will be taking place at the Venice Biennale’s exhibition “Viva Arte Viva”curated by Christine Macel.

Posted by Patricia Canetti at 2:43 PM