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março 31, 2017
Daniel Senise na Nara Roesler, São Paulo
A galeria Nara Roesler apresenta sua primeira exposição do artista brasileiro Daniel Senise desde que passou a representá-lo, em 2016. A curadoria é de Brett Littman, Diretor Executivo do The Drawing Center, de Nova York.
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Desde a década de 1990, Senise trabalha com o que pode se chamar de “construção de imagens”. O processo começa com a impressão de superfícies e objetos – como pisos de madeira ou paredes de concreto – sobre tecido. Os impressos são reunidos num arquivo no ateliê do artista e posteriormente recortados e instalados em painéis de alumínio, para servirem de pano de fundo ou como elementos arquitetônicos estruturais de composições espaciais complexas. Algumas das obras de Senise são compostas de diversos fragmentos impressos, reunidos ao longo de vários anos. Painéis rejeitados são muitas vezes recombinados e retrabalhados, com a inclusão e a retirada de elementos de tecido, para serem incorporados a novas ideias desenvolvidas pelo artista em seu ateliê.
Senise vem investigando estratégias de composição mais redutivas desde 2011, quando criou a instalação de grandes dimensões 2892: duas paredes brancas altas com lençóis manchados, vindos de uma UTI de hospital e de um motel, sustentadas por estruturas de madeira. Esta obra, em que tecidos impressos foram substituídos por lençóis lanchados, faz uma referência visual às mortalhas e aos trabalhos em branco sobre branco de artistas como Kazimir Malevich e Robert Ryman. Posteriormente, em 2011, Senise iniciou uma nova série, Quase aqui, na qual usou uma tábua de madeira espessa como mesa em seu ateliê, registrando nela os cortes e marcações feitos por ele próprio e por seus assistentes durante um determinado período. Em seguida, preencheu, lixou e pintou de branco, com aerógrafo, uma grande área retangular no centro do painel, criando um vazio óptico. Os trabalhos da série são muito sutis e não contêm quase nenhum conteúdo visual que possa ser lido com facilidade – é preciso olhar de perto para compreender, de fato, o processo de criação. Em 2013, após a morte de seu pai, Senise inaugurou a série Biógrafo, com 85 painéis. Visualmente, a série tem em comum com Quase aqui a introdução de uma forma retangular no centro da composição. No entanto, aqui o artista reintroduz a impressão em tecido e os trabalhos são muito mais densos e opticamente desestabilizadores, pois ele gira os painéis durante sua construção e, assim, altera constantemente a perspectiva. Em 2014, Senise deu início a uma série de pinturas baseadas nos interiores de museus famosos. A série começa com painéis densos, como National Gallery, de 2014, e Gemäldegalerie, exposto em Berlim, também em 2014, e tenta representar elementos arquitetônicos com molduras vazias nas paredes. Gradualmente, o artista começa a subtrair materiais, em trabalhos como Siza I and II, de 2014, e Hermitage, de 2017, mantendo apenas um mínimo de referências visuais que permitem ao espectador identificar a arquitetura dos museus em questão.
As pinturas em exposição na Nara Roesler apresentam um Senise em transição – equilibrando seus impulsos redutivos mais recentes e sua implacável busca interna por novas maneiras de criar imagens. O conjunto de obras na ampla galeria indica claramente a dualidade polarizada da produção atual do artista. Billboard, Billboard 1 e Escultura, todas de 2016, apresentam estratégias de composição semelhantes. Aqui, Senise trabalhou com painéis concluídos mais antigos e, ao longo do tempo, retirou ou recortou os elementos de tecido para expor o substrato de alumínio e todas as marcas e os riscos feitos durante sua criação e subsequente desconstrução. Essas três obras estendem as investigações sobre subtração, “desfeitura” e a revelação do tempo pelas marcas/manchas iniciadas por Senise em 2011, na instalação 2892, na série Quase Aqui e em seus trabalhos mais recentes com interiores de museus. Ademais, a forma do outdoor, essencialmente um retângulo que flutua no espaço, remete à geometria de Quase Aqui e da série Biógrafo.
Em Skylight, Night Studio (ambas de 2017) e A Floresta do Livre Arbitrio, de 2016, Senise volta a um tema e a uma imagem familiares em sua obra – seu próprio ateliê. Nestes trabalhos, porém, o ateliê representa a busca interior por novos métodos de composição e novas formas de ver. São paisagens pessoais em que o ateliê representa o lugar de isolação e solidão onde o artista pode contemplar o espaço, o tempo, a luz e o céu noturno. Estas obras são mais visualmente e estruturalmente ativadas, mas também contêm materiais removidos e substratos expostos, bem como referências ao retângulo que as une inextricavelmente a Billboard e Escultura.
A nova exposição também inclui três novos trabalhos da série Biógrafo (LV, LXXVII e LXXXIV, de 2017) e dois painéis menores sem título, produzidos em 2016 e 2017, mais intimamente relacionados ao trabalho graficamente cumulativo de Senise da década de 2000.
Galeria Nara Roesler presents the it’s first exhibition of Brazilian artist Daniel Senise, since he joined their roster in 2016. This exhibition is curated by Brett Littman, Executive Director of The Drawing Center in New York.
Senise, since the late 1990s, has been engaged in what can be best described as “image construction.” His process starts with imprinting surfaces and material conditions – like wooden floors or concrete walls - onto cloth. These imprints are then collected into an archive in his studio and later are cut and mounted onto to aluminum panels as backgrounds or as architectonic structural elements for his complex spatial compositions. Senise’s works can made up of conglomerations of many different fragments of his imprints spanning many years. As well, unfinished or rejected panels are often re-combined and repurposed, by adding and removing cloth elements, in service of new ideas he is exploring in his studio.
Senise has been exploring more reductive compositional strategies since 2011, when he made his large-scale installation work entitled 2892, two high white-walls made up of stained sheets collected from an intensive care unit of a hospital and a love hotel supported by wooden armatures. This work, which substituted stained sheets for his cloth imprints, visually reference shrouds as well as white on white works by artists like Kazimir Malevich and Robert Ryman. Later in 2011, Senise began a new series of works called Quase aqui (Almost Here) in which he used a thick wooden board as a table in his studio and recorded the various cutting and mark making activities of himself and his assistants over a duration of time. Later, a large rectangular area in the center of the panel was filled, sanded and airbrushed with white paint, to create an optical void. These works are very subtle and almost totally devoid of easily readable visual content – they require close looking on the part of the viewer to truly understand the processes involved in making them. In 2013, after the death of his father, Senise started the Biógrafo (Biographies), a series of 85 panel works. This series is linked visually to the Quase aqui works by the introduction of a rectangular form into the center of their composition, however, they re-introduce the cloth imprints and are much denser and optically destabilizing due to the fact that he rotates the panels during their construction and thus is constantly shifting their perspective. Lastly in 2014, Senise began a series of painting based on famous museum interiors. This series starts with visually dense panels like National Gallery, 2014 and Gemäldegalerie, Berlin, 2014, that attempt to represent architectural elements and with empty framed painting on the walls. Gradually as the series moved on he began to subtract materials in works like Siza I and II, 2014 and Hermitage, 2017 so the bare minimum of visual references is left that still allow the viewer to be able to identify the specific museum gallery architecture.
The paintings in the current exhibition at Nara Roesler, find Senise in a transitional mode – as he balances his more recent reductive impulses with his relentless internal search for new ways to make images. The group of works in the large gallery and the window space give a clear indication of the dual polarities of Senise’s current output. Billboard, Billboard 1 and Escultura, all made in 2016, share similar compositional strategies. Here, Senise has taken older completed panels and over time has removed or cut away the cloth elements to expose the aluminum substrate and all of the attendant marks and scrapes that were made through their creation and subsequent deconstruction. These three works extend the explorations of subtraction, “unmaking” and the revealing of time through marks/stains that Senise began to explore in 2011 in the 2892 installation, in the Quase Aqui series and in his most recent museum interior pieces. As well, the billboard form, which essentially is a rectangle floating in space, refers us back to the geometry of the Quase Aqui and the Biógrafo works.
In Skylight, Night Studio (both made in 2017) and A Floresta do Livre Arbitrio (The Forest of Free Will), 2016, Senise has returned to a familiar theme and image in his oeuvre – his own studio. In these works, however, the studio now represents the internal search for new compositional methods and ways of seeing. These are personal landscapes where the studio stands for the place of isolation and solitude where the artist can contemplate space, time light and the night sky. These works are more visually activated and structurally but they also contain passages of removed material and exposed substrates as well as references to the rectangle which inextricable bond them to Billboard and Escultura.
The exhibition also includes three new Biógrafo works (LV, LXXVII and LXXXIV, 2017) and two smaller untitled panels made in 2016 and 2017, which are more closely related to the graphically accumulative work that Senise made in the 2000s.