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março 28, 2017
Alexandre da Cunha no Pivô, São Paulo
O Pivô apresenta uma grande exposição individual - Boom - do artista Alexandre da Cunha dentro de seu Programa Anual de Exposições. O programa tem como objetivo realizar um panorama da produção contemporânea recente viabilizando e difundindo projetos inéditos de artistas nacionais e internacionais em meio de carreira. A mostra no Pivô será composta de obras inéditas especialmente comissionadas para o espaço além de uma seleção de trabalhos realizados nas últimas décadas. A exposição será o resultado de uma temporada de 2 meses do artista no espaço do Pivô.
A produção do artista brasileiro radicado em Londres Alexandre da Cunha é essencialmente escultórica. O artista raramente constrói um objeto partindo do zero, sua prática começa com a seleção de objetos da vida cotidiana e formas pré-moldadas, que posteriormente são rearranjados e reapresentados na forma de ‘colagens espaciais’. Tanto suas grandes obras públicas quanto as esculturas de menor escala, ressaltam as particularidades físicas e as potencialidades narrativas de itens que poderiam facilmente escapar à nossa atenção.
As formas, cores e texturas de vassouras, escovões, roupas e estruturas pré-moldadas da construção civil são o gatilho para associações livres e traduções inusitadas feitas pelo artista. Alexandre altera o valor e a funcionalidade dessas imagens familiares através de operações poéticas sofisticadas e de uma ironia fina, revelando seu descompromisso com as categorizações ou hierarquias a que possam estar associados os objetos eleitos como matérias-primas para o seu trabalho.
O envolvimento obstinado do artista com o potencial poético do mundano tem uma dinâmica semelhante à da criança que recebe um presente e presta atenção apenas na embalagem: o olhar não instrumentalizado dos pequenos volta-se para as formas que naturalmente os intrigam- o brinquedo e a caixa têm o mesmo valor. Da Cunha oferece uma ‘nova lente’ ao espectador, que é convidado a rever sua relação com a materialidade que o circunda.
O deslocamento do objeto encontrado para o contexto institucional já foi assimilado pela prática contemporânea há tanto tempo que atualmente o pré-fabricado já quase se equipara ao bronze ou à terracota na produção da escultura contemporânea. Levando essa afirmação em consideração, não seria um exagero dizer que Alexandre da Cunha é um ‘virtuoso’ nessa técnica.
Sobre as obras
Mix (Boom) – Nessa obra, Alexandre da Cunha desloca para o espaço expositivo do Pivô, uma betoneira que pesa mais de uma tonelada, comumente vista nas ruas da cidade. O artista optou por fracionar a betoneira respeitando sua estrutura original. Para tal, utilizou as linhas de solda do objeto para corta-lo em 4 partes que serão espalhadas pelo espaço expositivo.
Kentucky (Biombo) – O material usado por da Cunha em Kentucky (Biombo) é o resultado da manipulação e reordenação de segmentos de escovões de limpeza, produzidos na Inglaterra. Outra intervenção no objeto original é a inserção de nós complexos formando relevos e uma espécie de macramé. Estendida nos 4,5 metros de concreto do pé direito do Pivô, nos torna conscientes da escala do nosso corpo no ambiente da exposição.
Contratempo – O trabalho é formado por uma coleção de imagens estáticas de explosão que o artista vem guardando há anos. Ao retirar as fotografias de sua condição inicial, Alexandre traz para sua obra a possibilidade de um olhar contemplativo ou estético. A edição das imagens é o recurso utilizado para uma operação de deslocamento objetivamente proposta pelo artista.
Couple IV e V - Em uma nova apropriação do espaço, ao associar o peso do concreto de um mobiliário urbano à leve textura de uma chapa de mármore, ambos materiais pré-moldados, a obra explora a correlação de forças entre os materiais entrelaçados/encaixados.
Alexandre da Cunha nasceu em 1969 no Rio de Janeiro. Vive e trabalha em Londres. Entre suas principais exposições estão: “Mornings”, Office Barroque, Bruxelas, Bélgica (2017); Free Fall, “Thomas Dane Gallery”, Londres, Inglaterra (2016); “Plaza Project”, MCA – Museum of Contemporary Art, Chicago, EUA (2015/2016); “Por aqui tudo é novo”, CACI Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, Brasil (2016); Soft Power, ICA Boston, Boston, EUA(2016); “Alexandre da Cunha, Le Grand Café” – Centre d’art contemporain, Saint Nazaire, França (2012); 30a Bienal de São Paulo, The Imminence of Poetics, São Paulo, Brasil (2012); CCSP – Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil (2011); Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil (2005); 50a Bienal de Veneza, The Structure of Survival, Veneza, Itália (2005); Bienal de Liverpool, Liverpool, Inglaterra (2002); 13o Videobrasil, SESC SP, São Paulo, Brasil (2001).