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março 26, 2017
Hermelindo Fiaminghi no IAC, São Paulo
O IAC - Instituto de Arte Contemporânea com a exposição Fiaminghi - Pensamentos Compostos apresenta ao público mais uma ação de seu Grupo Experimental de Curadoria e segue seu programa de exposições que tem por objetivo divulgar a importância de suas coleções.
“Fiaminghi - Pensamentos Compostos” reúne mais de 150 obras e documentos entre desenhos, esboços, projetos, produtos gráficos e estudos realizados por Fiaminghi cobrindo um período que vai desde o começo dos anos 1950 até a década de 1990, passando por seu período concreto.
Dos desenhos e projetos para logomarcas passando por suas experiências junto ao Grupo Ruptura e a breve fase concreta, a produção em têmpera influenciado por Volpi e os offsets produzidos a partir dos anos 1960, a exposição traz uma importante amostragem da obra de Fiaminghi ao mesmo tempo em que apresenta aspectos importantes de seu pensamento visual e modo de produção.
Com uma obra plástica marcada por uma forte influência de suas experiências profissionais como litógrafo da indústria gráfica e como publicitário, a mostra apresenta aspectos fundamentais das soluções poéticas encontradas pelo artista. A questão da imagem fotográfica acentuou essa busca e marcou em projetos, esboços e obras de arte sua versão artística de discussões sobre a questão da cor na sua relação com a luz. Fiaminghi passa a denominar de corluz essa produção na qual utiliza, de maneira extremamente original e criativa, a presença dos fotolitos e das provas gráficas, como princípios de estudo para a produção de obras com a técnica do offset acentuando os efeitos criados por uma enorme ampliação das retículas.
Fiaminghi, junto aos artistas Judith Lauand e Maurício Nogueira Lima, aderiu ao Grupo Ruptura em 1955. Estes, junto aos artistas fundadores do Grupo – Waldemar Cordeiro, Anatol Wladyslaw, Leopoldo Haar, Lothar Charoux, Kasmer Féjer, Geraldo de Barros e Luiz Sacilotto e com o apoio dos poetas concretos paulistas, organizam a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta em 1956. Sobre esse período, o próprio Fiaminghi afirma que somente na 3ª Bienal se deu conta – devido à crítica que o enquadrou na arte concreta – de que ele era um artista concreto. Foi nesse período em que buscou descobrir do que se tratava esse tipo de arte e quais seus pressupostos. Ao refletir sobre essa fase, o Fiaminghi afirmou que “O quadro concreto começa quando você chega. (...). Na arte concreta a coisa é limpa, é clara! O que você está vendo, é!”
O artista, após seu período concreto, frequentou, durante sete anos, o ateliê de Alfredo Volpi entre 1959 e 1966. No âmbito dessa convivência acentuou o desenvolvimento de pinturas utilizando a têmpera, ao mesmo tempo em que, a essa técnica, incorporou sua experiência com os fotolitos e com as retículas na produção de obras nas quais a importância da luz se acentua.
Ao longo dos anos 1980, Fiaminghi permite-se uma maior liberdade em relação à estrutura da tela e do papel e realiza suas séries de desretratos e despaisagens. Nessas, contudo, sua busca continua sendo a mesma: a luz tendo a cor como recurso.
Sobre o artista
Hermelindo Fiaminghi nasceu em São Paulo em 1920. Tornou-se conhecido como pintor e desenhista, mas também atuou profissionalmente como publicitário, litógrafo e artista gráfico. Suas experiências profissionais, em todas essas áreas correlatas, influenciaram mutuamente sua pesquisa imagética. No Liceu de Artes e Ofícios, aluno entre 1936 e 1941, estudou com Waldemar da Costa. Trabalhou em várias empresas de publicidade e, também, na indústria gráfica. Participou das mudanças iniciadas pelos movimentos construtivos e aderiu ao Grupo Ruptura. Nesse âmbito, atuou junto aos poetas concretos, desenvolvendo o projeto gráfico de vários poemas. Frequentou o atelier de Alfredo Volpi de 1959 a 1966. Junto com Cordeiro, Féjer, Mauricio Nogueira Lima e Décio Pignatari fundou o Atelier Livre do Brás em 1958. Ali desenvolveu a série virtuais que pode ser considerada como uma passagem de uma produção construtiva, vinculada aos pressupostos concretos, para uma pesquisa nas quais começa um trabalho de desconstrução, por meio do qual torna suas formas e o uso de cores e do espaço menos rígidas. Não é de se estranhar que, no ano seguinte, em 1959, ele tenha rompido com Waldemar Cordeiro, fundador e mentor do Grupo Ruptura. Logo em seguida, a partir dos anos 1960, passa a nomear parte importante de sua produção com o uso adaptado do termo corluz. Nessa fase, utiliza retículas na forma de fotolitos e o offset por meio do sistema CMYK de cores no qual cada cor é impressa separadamente. Por outro lado, nessa mesma década, começa, também, a trabalhar com têmpera e, nela, da mesma forma, privilegia os estudos com a cor.
Hermelindo Fiaminghi expôs em várias Bienais Internacionais de São Paulo, em exposições individuais e coletivas e sua obra faz parte de importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Além disso, atuou como professor, júri e membro de conselhos. Faleceu em 2004 também na cidade de São Paulo. Desde 2017, o Instituto de Arte Contemporânea abriga seu arquivo pessoal.
Sobre o Grupo Experimental de Curadoria do IAC
Já pela segunda vez, o Instituto de Arte Contemporânea abre espaço para que o processo curatorial – das coleções e das exposições – seja colocado em questão por meio do envolvimento de distintos personagens e, portanto, de múltiplos olhares sobre seu acervo. A criação do Grupo Experimental de Curadoria envolveu, na preparação da exposição “Fiaminghi - Pensamentos Compostos”, formações conceituais diferenciadas em uma elaboração final coletiva. O processo de conhecimento do arquivo pessoal de Hermelindo Fiaminghi tem sido bastante rico: seus desenhos, gravuras, fotolitos, offsets, pinturas, fotografias, projetos, estudos, revelam-se de maneira inusitada, a cada novo olhar. Trabalhar em conjunto e contar com diversas consultorias tem sido um processo complexo e bastante afinado com a própria produção de Fiaminghi que foi um pesquisador incessante e que, a partir de um certo momento, compreendeu – e nos deu a conhecer – sobre a importância fundamental da des-construção para a compreensão da arte como manifestação. Suas despaisagens e desretratos são ‘apenas’ mais uma faceta dessa personalidade inquieta e riquíssima que, agora, o Grupo Experimental de Curadoria do Instituto de Arte Contemporânea apresenta ao seu público.