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março 21, 2017
Um tufo de pelos, preso fortemente a um cabo no Epicentro, São Paulo
um tufo de pelos, preso fortemente a um cabo*
Exposição coletiva dos quatro jovens artistas Fraus, Gokula Stoffel, Paula Scavazzini e Thany Sanches, que se reuniram no contexto do grupo de acompanhamento crítico em pintura dos artistas Rodolpho Parigi e Regina Parra e que vem ao longo dos últimos dois anos, aprofundando um processo de interlocução sobre suas produções. A partir do acompanhamento curatorial do artista e pesquisador Bruno Mendonça algumas questões conceituais comuns entre os artistas começaram a serem observadas, como uma produção pictórica extremamente processual e muito menos projetual. Na pintura dos quatro artistas a gestualidade e a fisicalidade são um ponto forte e que de certa forma cria por consequência uma estética e linguagem que os distancia de outras gerações de pintores e escolas tanto internacionais, mas principalmente nacionais que traziam um caráter mais construtivo e formalista para o campo pictórico.
Além disso, em todos os processos de criação dos quatro artistas podemos notar também uma ressignificação da própria História da Arte de uma maneira não óbvia e uma reinterpretação de temas clássicos como o corpo e a paisagem, porém a partir de uma investigação e uma análise critica sobre o estatuto da imagem na contemporaneidade. Em um momento em que a imagem e a própria arte se vêm constantemente em situação limite, produzir imagens e se voltar à pintura pode parecer quase que como um ato de resistência. Um limite entre a figuração e a abstração, procedimentos de associação, fragmentação, remix e multiplicidade são frequentes, como uma espécie de resposta, assim como a criação de uma narrativa complexa, não linear, anacrônica e muitas vezes contando com um processo de autoria quase “esquizo”, como se o mesmo artista fosse muitos por conta de uma grande variação de estilos.
A imagem no caso desses artistas apresenta também um viés estranho-familiar (unheimlich/uncanny), produzindo uma espécie de melancolia e em alguns casos certo tipo de deboche e alegoria, isto se dá por conta de uma visão menos objetificada com a pintura e mais aproximada a uma noção de “abjeto” - conceito muito trabalhado por uma série de artistas de outras gerações como uma forma crítica de se repensar arte e commodity, mas a partir de uma desestabilização interna dos sistemas de valoração cultural no estratagema do mercado e por uma relação atópica com a própria arte. Isso pode ser visto na produção de artistas como Mike Kelley, Isa Genzken, Sarah Lucas, Paul Maccarthy, Franz West, entre outros, apenas para citar alguns nomes.
* definição de pincel no dicionário.