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março 17, 2017
Cristina Lapo na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
Em seus trabalhos, Cristina Lapo manipula de várias maneiras elementos básicos: ponto, linha e plano. Ela se interessa por esgarçar as possibilidades de combinações desses elementos e de seus atributos. Assim, a linha pode assumir diversas características visuais. Desenhos produzidos por sulcos em uma superfície, que ficam no limite da representação figurativa de objetos conhecidos, mas que não o são de fato; linhas que aparentam se movimentar no espaço – mas estão em uma superfície plana –, como um registro fotográfico no tempo; e conjuntos de linhas agrupadas ordenadamente sobre um plano, representando outros planos, que remetem a arquiteturas, embora sejam abstrações.
Os planos, em alguns trabalhos, se expandem fisicamente para o espaço expositivo, para a arquitetura real onde estão inseridos, nem sempre acompanhando a sua ortogonalidade. As linhas, por vezes, são coloridas, largas, finas, ou se dissolvem como em uma pintura. Em alguns trabalhos, elas ganham o espaço (às vezes duplicando-se visualmente), extrapolam as duas dimensões, tendo corpo, massa, volume: materialidade. Nesse rompimento, as linhas transpassam (ou ligam) pranchas em pontos específicos – calculados com precisão –, unindo planos distintos e criando novos entre os seus espaços, bem como formando volumes adicionais. Segundo Lapo, “a linha tem uma enorme energia, nunca é estática, é o deslocamento de um ponto, uma trajetória com movimentos: horizontal, vertical, diagonal”.
Na geometria, o ponto tem uma dimensão mínima, infinitesimal, e um conjunto deles forma uma reta, que, por sua vez, com outras, faz um plano, e planos agrupados produzem volumes. Esta, por sua vez, causa reflexão, deslocando o pensamento de quem a observa, e, do mesmo modo, provoca a deslocação do corpo no espaço, pois cada perspectiva, cada ponto de vista (físico ou intelectual), lhe confere um sentido singular. O olhar vai em linha direta até a obra, escaneando-a em planos, como em uma tomografia, e, depois, o cérebro junta tudo para formar uma imagem mental. Segundo Lapo, “a tentativa de desvendar a obra, por parte do espectador, é outro tipo de exploração da tridimensionalidade do trabalho”. E é isso que a artista quer provocar. Com as linhas que desenha, abrem-se espaços (entre elas), os visíveis na obra, e espaços são abertos na mente de quem observa os trabalhos, pois nem tudo é explícito, há sempre algo nas entrelinhas.
Na exposição Entrelinhas a artista apresenta em torno de seis esculturas de parede, inéditas, de formas geométricas, em diversas cores e formatos.
Cristina Lapo nasceu no Rio de Janeiro em 1981. De 2000 a 2001, estudou na Inglaterra no Kent Institute of Art & Design e, na sequência, até 2004, fez bacharelado em Comunicação Visual (Ilustração) na University of Central England. Depois, diplomou-se em Ilustração pelo ETIC Design Instituto, em Lisboa, Portugal. Fez pós-graduação em Belas Artes no Instituto de Arte de São Francisco, nos Estados Unidos, em 2011, e concluiu o mestrado em Belas Artes na mesma instituição em 2012. De volta ao Brasil em 2014, estudou no Parque Lage com Franz Manata, João Carlos Goldberg e Iole de Freitas. A artista já mostrou seus trabalhos em exposições em Portugal, EUA e Brasil, incluindo participação na Art Rua e na ArtRio.