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março 17, 2017
Sérgio Sister na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Além das Ripas, Pontaletes, Caixas e Tijolinhos, volumes que definiram o sujeito da prática artística de Sérgio Sister na última década, o artista retoma a pintura tradicional em sua primeira individual - Pintura com ar, sombra e espaço - na Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro, e a quarta desde que passou a integrar o time de artistas da galeria paulistana. Inéditas, as cerca de 25 obras foram produzidas entre 2015 e 2017, e dão sequência à pesquisa contínua de Sister sobre cor, luz e monocromos, num jogo entre superfície e tridimensionalidade.
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Esta exposição é um desdobramento da individual “Ordem desunida”, que o artista realizou na unidade paulistana da galeria, em 2015. O público carioca poderá conferir novas obras das séries “Caixas” – objetos feitos com base em caixas de frutas que sintetizam a obra do artista ao criar relações entre cores, luz, sombra e profundidade –, “Pontaletes” – ripas pintadas e escoradas umas às outras, que formam uma composição geométrica –, e “Tijolinhos” – relevos de parede que reafirmam conceitos espaciais a partir de madeira, alumínio e alumínio entelado, com aplicação de cores.
Integra ainda a mostra uma variedade de telas, produzidas nos dois últimos anos, realizadas com a técnica que marca a pintura do artista: a sobreposição de camadas cromáticas que permite a coexistência de diferentes campos de cor em harmonia. Segundo Tiago Mesquita, que assina o texto sobre a exposição, Sérgio Sister transforma um plano que, a princípio, parece monocromático, em uma tela heterogênea, com inúmeras variações. O crítico ressalta que não interessa ao artista a percepção imediata da diferença entre as coisas. O contraste acontece entre elementos similares, aparecendo de maneira meditativa, em um processo conquistado com sutileza. “Sister pinta passagens delicadas de matiz e luz”, completa.
Ao misturar cera ou pigmentos metálicos à tinta a óleo, Sister revela o caminho da pincelada sobre o plano, evidenciando a complexidade e o caráter heterogêneo de sua pintura, mesmo em um ambiente com pouca variação de cor. Mesquita aponta que a superfície das telas é tanto um plano de cor contínuo, como um acúmulo de pequenos fenômenos óticos desarticulados. “Uma cor contínua a se esgarçar e uma infinidade de elementos a se reunir de maneira mais ou menos atribulada. Embora a cor mantenha a unidade, o plano ganha complexidade – podia ser um mosaico, com cacos a buscar alguma unidade. Há mais fraturas que uma imagem sintética. São essas fraturas ou intervalos o que talvez mais interesse ao artista”.
Sérgio Sister (n. 1948, São Paulo, Brasil) vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Sérgio é mais conhecido pelas vigas de madeira que utiliza para criar pinturas esculturais que lembram caixotes, pórticos ou molduras de janela. O artista pinta as vigas de diversas cores, as envolve em tela e as organiza em configurações que possibilitam o surgimento de diferentes profundidades, sombras e experiências de cor. “Meu objetivo era permitir que o espaço e o ar operassem com e na relação entre as cores”, afirma. A prática de Sérgio eleva a pintura de campos de cor à tridimensionalidade, recontextualizando conceitos clássicos da tela enquanto janela. Em seus trabalhos mais recentes, o artista une pintura e escultura, empregando suportes derivados de estruturas encontradas e sistemas criados para atender a nossas necessidades cotidianas. Suas Caixas, Ripas e Pontaletes apropriam-se dos nomes dos produtos manufaturados dos quais se originam. A obra de Sérgio remete à tradição minimalista norte-americana e ao movimento neoconcretista brasileiro da década de 1960. Enquanto representante da Geração 80, Sérgio revisita um tema ancestral da pintura: a interação entre superfície e tridimensionalidade, numa tentativa de libertar a pintura no espaço. A sobreposição de camadas cromáticas marca sua produção, na qual campos cromáticos distintos coexistem harmoniosamente sem perder sua autonomia.
In addition to his Ripas, Pontaletes, Caixas e Tijolinhos (slats, rods, boxes and little bricks), which were the defining formats of Sérgio Sister’s art practice in the last decade, the artist returns to traditional painting in his first solo show at Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro, and the fourth since he joined the roster of the São Paulo-based gallery. The show features some 25 never-before-seen artworks dating from 2015 to 2017 that see Sister proceed with his ongoing exploration of color, light, and monochromes, in an interplay between surface and three-dimensionality.
This exhibition is a development of the artist’s solo exhibition Ordem desunida (Disunited order) at the gallery’s São Paulo venue in 2015. Now, the Rio public will be able to check out new pieces from a number of series: Caixas – objects built from fruit crates that sum up the artist’s oeuvre in relationships between colors, light, shadows, and depth –, Pontaletes – painted rods propped against one another to create geometric compositions – and Tijolinhos – wall reliefs that reaffirm spatial concepts by using wood, aluminum and cloth-covered aluminum, with colors applied.
Also featured are several paintings created over the last two years using the artist’s trademark technique: the superimposition of chromatic layers, allowing different color fields to coexist harmonically. According to exhibition text author Tiago Mesquita, who wrote the essay for exhibition, Sérgio Sister converts a plane which at first seems monochromatic into a heterogeneous canvas with numerous variations. The art critic notes that the artist isn’t interested in the immediate perception of the differences between things. The contrast happens between similar elements, surfacing in a meditative way, in a process that’s achieved in a subtle way. “Sister paints delicate passages of hue and light,” he concludes.
In combining wax or metallic pigments with oil paint, Sister reveals the brush’s path across the canvas, evidencing the complexity and heterogeneity of his painting, even when color variations are few. Mesquita points out that the surface of the canvas is at once a continuous plane of color and an accumulation of small, unrelated optical phenomena. “A continuous color stretching itself out and countless elements coming together in a more or less chaotic way. Although the color keeps it all together, the plane takes on added complexity – it might be a mosaic, with shards seeking some unity. There are fractures, more so than a synthetic image. These fractures or intervals are perhaps what the artist is interested in the most.”