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março 15, 2017
Retratos, curadoria de Rafael Vogt, na Millan, São Paulo
A Galeria Millan apresenta, entre 11/3 e 8/4, a exposição Retratos, com curadoria do crítico de arte e pesquisador Rafael Vogt Maia Rosa. A coletiva reúne 30 obras de artistas brasileiros que, a partir da década de 1960, tomaram o retrato como campo de investigação estética.
“Esse gênero permitiu aproximações de processos e realidades culturais diversas, tais como a fotografia e a pintura, o universo da arte conceitual e a moda”, afirma o curador. “Foram muitos os artistas nacionais que incursionaram pelo retrato; a seleção realizada valoriza o diálogo entre as obras, incluindo desde trabalhos inéditos de artistas representados pela Galeria Millan até itens raros de acervos particulares, que dificilmente são expostos ao público.”
A lista de participantes traz Wesley Duke Lee, Tunga, Mario Cravo Neto, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo, Claudio Tozzi, Regina Parra, Lenora de Barros, Maya Dikstein, Vik Muniz, Sergio Romagnolo, Boi, Rodrigo Andrade, Ana Prata, Gilda Vogt, Otavio Schipper, Tatiana Blass, José Resende, Fernando Zarif, Bob Wolfenson e Janaina Tschäpe.
“Questionamentos levantados por Wesley Duke Lee desde os anos 1960 - sobre a ritualização do processo do retrato, produção de arte comissionada e a reprodução em série, entre outras - serviram de inspiração para essa mostra, assim como conversas mantidas com Tunga entre 2014 e 2016’”, revela Rafael Vogt. Em um desses encontros, Tunga, instigado pela curador, estabeleceu paralelos entre sua obra e a de Mario Cravo Neto, ambos reunidos nesta exposição: “Mario Cravo estava em uma posição de olhar e incorporar aquele mundo arcaico que é presente no Brasil, onde todo mundo é animista, queira ou não. Isso está latente, por mais racional que seja o discurso, na construção da subjetividade que a gente experimenta culturalmente não por ser brasileiro, mas porque vive num contato ainda fresco com arcaísmos que são constitutivos dessa sociedade.”
Estão representadas na mostra celebridades e figuras anônimas. As técnicas e os suportes utilizados são diversos, das impressões digitais A mulher que não é BB (1971), de Waldemar Cordeiro, realizada a partir da icônica imagem do rosto de uma garota vietnamita, e da Kate (2011), de Vik Muniz sobre retrato de Kate Moss; até a transposição de uma memória familiar para o espaço da arte contemporânea, contrapondo o público e o privado, em Retrato de meu pai (1965), de José Resende (fotografia e caixa de acrílico em suporte metálico) ou a escultura em plástico Menina com toalha na cabeça (2000), de Sergio Romagnolo, que teve como molde a filha do artista.
Há ainda um autorretrato (1983/87) do pintor José Carlos Cezar Ferreira, o “Boi”, famoso personagem do cenário artístico brasileiro nos anos 1980, atualmente pouco conhecido do público. “A curadoria procurou evidenciar as experimentações realizadas no país através do gênero do retrato, abrindo campo para a experiência dos visitantes, sem impor nenhum tipo de cronologia ou leitura. Celebramos nesta mostra as múltiplas expressões da arte contemporânea brasileira, tendo em perspectiva a formação de público e a percepção do ‘primitivo tecnisado’ em nossa cultura”, conclui Rafael Vogt.
Sobre Rafael Vogt Maia Rosa
Graduado em linguística, mestre e doutor em literatura comparada pela USP, crítico, pesquisador e dramaturgo, Rafael Vogt Maia Rosa realizou a curadoria de mostras como H.O.N.Y Heliotapes (2015), na Casa das Rosas, A Zona: Duke Lee, Baravelli, Fajardo, Nasser, Resende (2009) e O espaço Onomatopáico, sobre Marcello Nitsche (2008), ambas no Centro Universitário Mariantonia. Foi pesquisador convidado, entre 2013 e 2015, no departamento de estudos teatrais da Yale University, nos EUA. Vem apresentando, desde 2001, ciclo de palestras em instituições como MAM/SP, Instituto Tomie Ohtake, Pinacoteca do Estado de São Paulo e SESC e foi professor de teoria no bacharelado em Artes Visuais da Faculdade Santa Marcelina (2002 a 2006).
Escreveu seu primeiro texto crítico para o catálogo da 23a Bienal Internacional de São Paulo, em 1996, sobre a artista Flavia Ribeiro, e é autor de ensaios e textos sobre os artistas Lucas Arruda, Alberto Simon, Tunga, Nuno Ramos, Camila Sposati, Artur Lescher, Carlos Fajardo, Cláudio Tozzi, Guto Lacaz, Hector Zamora, Janaina Tschäpe, Laura Belém, Rochelle Costi, Sergio Romagnolo, Paulo Whitaker, entre outros; publicou também entrevistas dispersas com escritores e artistas como Ronald Golias, Alan Pauls, José Resende, Nelson Leirner, Regina Silveira, Robert Storr e K.J. Holmes. Dentre suas publicações destacam-se Ilhas de Fato e Ficção (Cosac Naify, 2013), Planos Gerais de Mônica Nador (Pinacoteca do Estado, 2013), Até onde se pode ir muito longe (Ars, 2007), Banhistas (SESC, 2005). Atualmente, é pós-doutorando no Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP, onde realiza pesquisa sobre a biografia e obra de Wesley Duke Lee.