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março 15, 2017
Gaudí: Barcelona, 1900 no MAM, Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Tomie Ohtake, Arteris, Bradesco e Ministério da Cultura apresentam a exposição Gaudí: Barcelona, 1900, que reúne 46 maquetes, três delas em escala monumental, e 25 peças de design, entre objetos e mobiliário, criados pelo genial arquiteto catalão, conhecido mundialmente por seu estilo único. Completam a mostra cerca de 40 trabalhos de outros artistas e artesãos que compunham a cena avançada de Barcelona da época.
Todas as peças pertencem aos acervos do Museu Nacional de Arte da Catalunha, Museu do Templo Expiatório da Sagrada Família e da Fundação Catalunya-La Pedrera, em Barcelona, que apoiaram a exposição. A idealização e realização do projeto foram do Instituto Tomie Ohtake, com coordenação geral da Chizhi – Organización Proyecto Cultural Internacional. O patrocínio é da Arteris e Bradesco, com Lei Federal de Incentivo à Cultura (MinC). A exposição esteve em cartaz no o Instituto Tomie Ohtake e no MASC, em Florianópolis.
Raimon Ramis e Pepe Serra Villalba, especialistas em Gaudí e curadores da exposição, escolheram maquetes e detalhes arquitetônicos da Sagrada Família bem como do Parque Güell, de modo a que público acompanhe os processos construtivos dos projetos de Gaudí. A incursão de Gaudí pelo design, na criação de móveis e objetos que vão de maçanetas de metal a peças em cerâmica e madeira, mostram como a criação artesanal influenciou a indústria. O conjunto de suas obras testemunha a invenção de uma original geometria, calculada a partir da observação e estudo dos movimentos da natureza. Com este princípio racionalista protagonizado pelo orgânico, Gaudí instaura uma estética moderna única que marcou definitivamente a cidade de Barcelona. “A sua experimentação técnica e formal, sua capacidade de absorver e reelaborar as teorias estéticas e arquitetônicas,fizeram dele um arquiteto de densidade única, difícil de repetir. Em suas obras está condensado o debate artístico da mudança de século junto à depuração de uma linguagem arquitetônica única”, ressaltam os curadores.
MODERNISMO CATALÃO
Entre 1888 e 1929, quando foram realizadas duas exposições universais em torno da passagem do século 19 ao 20, Barcelona viveu uma época dourada, em que se torna um dos centros culturais da Europa, onde a arte catalã passa a fazer parte do debate estético europeu. “Nessa frutífera Barcelona desenvolve-se o modernismo catalão, movimento irmão do Art Nouveau francês, do Modern Style inglês e do Sezessionstil de Viena. Todos eles nascem da idealização da tradição medieval e de um olhar sobre a natureza”, explicam os curadores. “São consequência do Romantismo e de outros movimentos paralelos como o Simbolismo, o Pré-Rafaelismo e o Orientalismo que se desenvolviam na Europa do século 19”. Um fato importante é que o modernismo catalão “tem a singularidade de nascer paralelamente à criação de uma identidade cultural nacional catalã. É a base da Catalunha moderna”, destacam os curadores.
Para ilustrar ainda a pujança de um período em que a capital da Catalunha surge como projeto moderno de cidade, os curadores selecionaram 26 trabalhos entre objetos e elementos decorativos concebidos pelos chamados ensembliers (artesãos de alto nível), além de 16 pinturas. São artistas contemporâneos a Gaudí, que desenvolveram suas obras conforme os preceitos do modernismo catalão. Entre eles destacam-se os pintores Ramón Casas e Santiago Rusiñol, e ensembliers como Gaspar Homar ou Joan Busquets, que decoraram e mobiliaram as casas da burguesia catalã do período.
Foi esta mesma burguesia que colaborou para a inovação e processo de integração entre urbanismo, arquitetura, arte, design e indústria, atuando como mecenas dessa importante geração de artistas e artesãos que configuraram um dos movimentos mais férteis e representativos da cultura catalã. “Um momento em que foram construídos os fundamentos culturais da Catalunha atual, em que o processo industrial, o lado íntimo, o momento, o acaso, a mecanização etc. vão ganhando espaço, e a atividade artística vai se abrindo a novas propostas”, observam Raimon Ramis e Pepe Serra Villalba. Neste panorama, a obra de Gaudí condensa o debate técnico, estético, ideológico e social da virada do século.
SOBRE OS CURADORES
Raimon Ramis (Barcelona 1961) é historiador em arte pela Universidade Autônoma de Barcelona e estudou fotografia no Instituto de Estudos Fotográficos da Catalunha e foi fotógrafo de arquitetura. Trabalhou na Fundação La Caixa, Fundação Antoni Tàpies, entre outras entidades. Foi professor da Escola Superior de Desenho de Barcelona e do Centro de Imagens e Tecnologia Multimídia da FPC/UPC, também na capital catalã, onde criou o departamento de recuperação do patrimônio fotográfico Memoria de la image. Ocupou ainda a subdireção do Museu Bariber-Mueller de Arte Pré-colombiana de Barcelona (2004 a 2007), dirigiu o Acampamento da Paz do Fórum Universal das Culturas (2008 a 2011) e supervisionou o III Fórum Universal das Culturas Valparaíso (2010). Desde 2013, mora em Santiago do Chile, onde é gestor cultural e diretor de Projetos da Fundação MediaBus. Assessora a direção de arquitetura para a construção da capela de Santa María de los Ángeles de Rancagua (Chile), idealizada por Gaudí em 1922, a única obra do arquiteto catalão fora da Espanha. Ramis é ainda curador e colaborador do Centro de Extensão da Pontifícia Universidade Católica do Chile, onde foi curador das exposições Joan Fontcuberta: metabolismos de la imagen (2014) e Gaudí el arquitecto y la forma (2014-2015). Ao longo de sua trajetória participou de diferentes seminários sobre Gaudí, fotografia, arte e educação.
Pepe Serra Villalba (Barcelona, 1969) é diretor do Museu Nacional da Catalunha, desde 2012, depois de ter dirigido o Museu Picasso de Barcelona (2006 a 2012). Focado em patrimônio e gerenciamento de museus de arte, tanto em instituições públicas quanto privadas, Serra ocupou ainda a direção de Museus e Patrimônio Cultural no Departamento de Cultura do Governo da Catalunha (2005 a 2006); foi Coordenador do Programa Públicos e Serviços Culturais da Fundação Caixa Catalunha (2001 a 2005); e coordenador do departamento de exposição do MACBA – Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (1996 a 2000). Entre as exposições com sua curadoria, destacam-se Posters in Catalonia (Tinell Hall, Barcelona, 1995), Eudald Serra Signs of Life (La Virreina, Barcelona, 1999), The Body and the Cosmos (La Pedrera Casa Milà, Barcelona, 2004) e Kees Van Dongen (Museu Picasso, Barcelona, 2009). Na academia, atua como co-diretor e professor na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e professor na Universidade de Barcelona, entre outras atividades.