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março 10, 2017
Luiz Ernesto no Paço Imperial, Rio de Janeiro
Desde 2000, o artista plástico Luiz Ernesto vem desenvolvendo trabalhos que lidam com os sentidos possíveis gerados na relação entre imagem e texto. Para o artista estes campos, quando juntos podem tornar-se fecundos ampliando sua gama de significados. Imprimir uma reflexão e uma visão poética a partir desta convergência, tão comum em nosso cotidiano impregnado de imagens e textos descartáveis e ligeiros é o grande desafio.
As imagens de Luiz Ernesto têm como referência os objetos banais do cotidiano. Os objetos que lhe interessam não são os novos, mas aqueles nos quais o tempo imprimiu-lhes suas marcas. Ao artista, Interessa explorar seus significados afetivos: as lembranças, as ocasiões, os lugares e as pessoas que aqueles suscitam.
Por isto, em 2007, ao esvaziar o grande apartamento onde sua avó morou para vendê-lo, Luiz Ernesto deparou-se com uma enorme quantidade de objetos, móveis e ambientes, repletos de memórias e histórias e resolveu fotografá-los. Revendo este material recentemente, o artista selecionou um conjunto de fotografias que suscitaram pequenos textos. Segundo o artista, ao longo do processo, fotografias e textos tomaram seus próprios rumos libertando-se da obrigação de registrar fielmente a história vivida para gerar uma obra de ficção.
Assim surgiu a exposição Antes de Sair: uma instalação de cerca de 50 fotografias de tamanhos variados, divididas em dez grupos acompanhados de um pequeno texto. O trabalho ocupará a sala "Academia dos Seletos" do Paço Imperial do dia 16 de março à 21 de maio de 2017.
Prelúdio
As coisas, acostumadas aos seus donos, haviam esperado em vão pelo seu retorno. Os quadros escurecidos pela poeira, os abajures com as cúpulas amareladas, as fruteiras de prata enegrecidas, as toalhas de linho com seus bordados redesenhados pelas traças desapareciam pouco a pouco à medida que folhas de jornal velho as embrulhavam. Eram agora fragmentos desmantelados de uma história que terminava e na qual se vivera a ilusão de perenidade. A serenidade melancólica do apartamento augurava seu futuro: seria esvaziado e vendido.