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março 8, 2017
Luiz Zerbini no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Em sua nova exposição no Galpão da Fortes D’Aloia& Gabriel, Luiz Zerbini expõe gravuras pela primeira vez em sua longa carreira. Monotipias é o resultado da imersão do artista nesse universo com o impressor João Sánchez. Os dois saíram do Rio de Janeiro rumo a Inhotim em um caminhão levando uma prensa. Chegando lá, foram em busca das espécies raras do Jardim Botânico que serviriam de matrizes para estas obras.
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Em incursões passadas pela gravura, Zerbini nunca se satisfazia com os trabalhos. As gravuras lhe pareciam adaptações de suas de pinturas e essa falta de uma autonomia o incomodava. Durante o desenvolvimento do livro de artista Minhas Impressões (UQ! Editions, 2016), porém, sua relação com a técnica mudou. As monotipias com plantas apareceram como uma subversão da técnica, uma impressão direta em que as espécies são utilizadas como matrizes para as próprias imagens.
As composições privilegiam contornos e texturas de cada espécie em uma paleta reduzida de marrons, verdes e pretos. As espécies ocupam o papel – sempre do mesmo formato vertical – em movimentos distintos. A singular Costela de Adão se mostra inteira, frontal, como num retrato em close-up. Já o Ipê é desfeito em fragmentos positivos e negativos que se sobrepõem numa nuvem cinza. Outros trabalhos flertam com imagens da história da arte. A Embaúba, em corte seco e alto contraste, nos faz pensar nas flores de Andy Warhol, assim como o Jardim Japonês, que aspira a outras épocas e também a outros estados de contemplação. Se a técnica aparece como uma novidade, a flora tropical largamente conhecida de suas pinturas reaparece como a musa central. Os trabalhos revelam um tipo simplicidade que só um longo tempo de observação proporciona. Há uma troca evidente e incessante entre o olhar do artista e essas plantas.
Luiz Zerbini nasceu em 1959, em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1982. Entre suas exposições recentes, destacam-se as individuais: amor lugar comum, Inhotim (Brumadinho, 2013 – atual); Pinturas, Casa Daros (Rio de Janeiro, 2014); Amor, MAM (Rio de Janeiro, 2012). Sua obra está presente em diversas coleções públicas, como: Inhotim (Brumadinho), Instituto Itaú Cultural (São Paulo), MAM Rio de Janeiro, MAM São Paulo, entre outras.
Estrelas Escolhidas*Luiz Zerbini
Estou com a mesma calça há três dias. Estava andando no mato ainda há pouco, antes de entrar neste avião de volta para o Rio. Estava atrás dos destaques botânicos que me foram apresentados como estrelas. Estrelas botânicas. Agora, para mim, apenas estrelas.
Pensando sobre as cores concluí que o verde é uma espécie de cinza. A mata quando cobre a terra de verde espalha uma neutralidade cromática morna, onde animais, flores e frutos pipocam cintilantes como estrelas numa noite sem lua.
João e eu partimos para o Inhotim com a prensa nova no caminhão, capaz de imprimir um papel de 106 x 81 cm. Seguimos à procura das maiores e mais belas folhas do Jardim Botânico de lá. Durante uma semana trabalhamos exaustivamente felizes nas monotipias que ilustram este livro. Colhíamos as folhas e flores com a ajuda dos jardineiros de manhã bem cedo, enchíamos o carrinho e seguíamos para o almoxarifado onde instalamos a prensa. Por mim, eu passaria o mundo todo pela prensa. O João me dizia o que era possível passar e como faríamos isso. As matrizes eram folhas, frutas, cascas e espinhos. Foram impressas por nós diretamente no papel.
* Texto originalmente publicado no livro
“Artenatureza: Inhotim espaço tempo”. Instituto Inhotim, 2016.
Luiz Zerbini´s new exhibition at Fortes D’Aloia& Gabriel | Galpão features prints for the first time in his long career. Monotypes is the result of the artist’s immersion in such universe together with the printer João Sánchez. They left Rio de Janeiro in a truck towards Inhotim carrying a printing press. Once there, they searched for rare species that would serve as matrices for these pieces at the Botanical Gardens.
In his past ventures into printing, Zerbini never felt satisfied with the result. The pieces seemed adaptations of his paintings and this lack of autonomy bothered him. However, while developing his book Minhas Impressões (UQ! Editions, 2016) his relationship with the technique changed. The monotypes with plants come across as a subversion of such technique: a direct printing in which the plant species are used as matrices to the very images.
The compositions favor the contours and textures of each species in a reduced palette of browns, greens and blacks. The species fill up the paper – always vertically – in different movements. The distinctive Costela de Adão[Swiss cheese plant] is shown whole, frontally, as if in a close-up portrait. Ipê [Ipe] in turn, is deconstructed in positive and negative fragments that overlap in a grey cloud. Other pieces refer to images from the history of art. Embaúba [Cecropia] with a dry cut and high contrast, reminds us of Andy Warhol´s flowers and JardimJaponês[Japanese Garden] aspires to different times and states of contemplation. If this technique emerges as a novelty, the tropical flora highly popular in his paintings reemerges as a central theme. The pieces reveal a sort of simplicity that only a long time of observation can provide. There is an evident and incessant exchange between the artist’s eye and these plants.
LuizZerbini was born in 1959, in São Paulo, but has been living and working in Rio de Janeiro since 1982. Among his recent exhibitions, the following solo shows stand out: amorlugarcomum, Inhotim (Brumadinho, 2013 – present); Pinturas, Casa Daros (Rio de Janeiro, 2014); Amor, MAM (Rio de Janeiro, 2012). His work can be seen in different public collections, such as Inhotim (Brumadinho), InstitutoItaú Cultural (São Paulo), MAM Rio de Janeiro, MAM São Paulo, among others.
Selected Stars* LuizZerbiniI've been wearing the same pants for three days. I was walking in the woods moments ago, before boarding this plane back to Rio. I was behind the botanical highlights that were introduced to me as stars. Botanical stars. Now just stars for me.
Thinking about the colors, I concluded that green is a kind of gray. When the forest covers the earth with green, it spreads a warm chromatic neutrality where animals, flowers, and fruits pop up shimmering as stars on a moonless night.
João and I left for Inhotim with the new press in the truck. Capable of printing on 42" x32" paper. We went on looking for the largest and most beautiful leaves in the Botanical Garden. For a week we worked with exhaustive bliss in the linotypes that illustrate this book. We harvested the leaves and flowers with the help of gardeners in the early morning, we filled the cart and headed to the warehouse where we installed the press. If it were for me, I would subject the whole world to the press. João would tell me what was achievable and how we would do it. The matrices were leaves, fruits, barks, and thorns. They were printed by us directly on paper.
* Text originallypublishedon the book“Artenatureza: Inhotimespaço tempo”. InstitutoInhotim, 2016.