|
março 7, 2017
Fabio Zimbres na Bolsa de Arte, São Paulo
A individual mostra cerca de 20 obras inéditas, nas quais o artista emprega técnicas diversas, como desenho e monotipia, em suportes que vão do papel à chapa de impressão offset
Quadrinista, designer e artista visual, o paulistano radicado no Rio Grande do Sul Fabio Zimbres abre no dia 11 de março, sábado, na Galeria Bolsa de Arte (Mourato Coelho, 790, Pinheiros) a exposição intitulada Fantasma. Em sua primeira individual na Galeria de São Paulo, o artista apresenta cerca de 20 obras inéditas, entre monotipias, desenhos, pinturas e técnica mista em tela, papel sobre tela e chapa de impressão offset.
O ponto de partida do trabalho de Fabio Zimbres é o desenho, sobretudo sobre papel – muitas vezes papel colado sobre tela. Neles, volumes e formas surgem a partir de linhas e tomam os espaços livremente, sem o compromisso de preencher a tela, em um pensamento menos associado à pintura que às artes gráficas. O artista valoriza a concisão em sua cartela de cores, que privilegia o preto e branco e as cores primárias num traço bruto e espontâneo, que bebe no expressionismo e seus discípulos. “Estou muito ligado ao desenho e à gravura, à coisa gráfica”, afirma.
Zimbres é um nome bastante conhecido no universo dos quadrinhos e design gráfico. Colaborador de publicações históricas do gênero quadrinhos, como Animal e Chiclete com Banana, seu trabalho como desenhista foi publicado diariamente entre os anos de 1999 e 2001 no jornal Folha de São Paulo, na tira Vida Boa, selecionada por um concurso promovido pelo jornal. Nele, o personagem Hugo vivia situações cotidianas com uma pegada existencialista, um tanto ácida e surreal. As tiras foram reunidas em 2009 em livro publicado pela editora Zarabatana Books. O artista possui ainda, como desenhista, publicações na Argentina, Bélgica, Estados Unidos, Espanha, França, México e Uruguai.
Nos trabalhos que serão expostos é possível observar muitas das características de seu método como quadrinista, como a ausência de rascunho e o traço cru e pulsante. Outros aspectos de seu trabalho gráfico influenciam a produção como artista visual, que incorpora a surpresa do desenho no trabalho final. Para a mostra na Galeria Bolsa de Arte, há ainda obras que incorporam a palavra e o aspecto modular, com desenhos pequenos que dialogam entre si numa quase narrativa, ou ainda incorporam camadas de significado de seu suporte, como a chapa em offset de alumínio reutilizada, com um conteúdo do que seria impresso em sua função original.
Figuras antropomorfizadas, presentes em seu trabalho gráfico, estarão mais presentes nessa individual do que na exposição apresentada em 2015 na Bolsa de Arte de Porto Alegre. “Nesta exposição mantenho o aspecto abstrato das obras da exposição de Porto Alegre, mas dessa vez há uma presença maior de silhuetas e figuras”, diz o artista. Ainda que tais figuras sejam elas também em alguma medida abstratas, elas podem ser entendidas como inspiração para o título da exposição: Fantasma.
Mas essa não é a única leitura possível para o título: além desses “resíduos de personagens”, silhuetas sem rosto ou incompletas, a palavra eleita por Zimbres remete a uma série de situações transitórias, como sua obra, que migra do concreto para o abstrato – e faz também o caminho inverso, conforme o período criativo. “Fantasma é uma imagem que aponta várias possibilidades, todas elas residuais”, diz. “O desenho tem a instantaneidade do pensamento, mas o que aparece no papel é um resíduo, a ponta do iceberg – ou um fantasma – desse pensamento”, conclui.
Outra faceta importante de seu trabalho como artista gráfico pode ser conferida entre os dias 18 e 19 de maio, na Feira Plana, que acontece dessa vez no prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera. No evento, Zimbres apresenta livros de artista, alguns feitos em parceria com Jaca, com quem desenvolveu em outras edições da feira de publicações independentes o projeto Desenhomatic Ltda. Nele, os desenhistas produziam no próprio espaço da feira, às vistas do público.
Livros de artista são outro destaque entre os trabalhos autorais de Zimbres. Nos últimos meses o artista esteve em cartaz na feira Tokyo Art Book Fair, no Japão; na exposição coletiva Libri Finti Clandestini, na Demetra Gallery, na Itália; e na coletiva See How The Land Lays, em West Den Haag, em Haia (Holanda).
A exposição Fantasmas pode ser visitada na galeria Bolsa de Arte até o dia 29 de abril.
Fabio Zimbres nasceu em São Paulo em 1960. Estudou arquitetura na FAU-USP (não concluído) e no Instituto de Artes da UFRGS.
Colaborador das revistas Animal e Chiclete com Banana, marcos do gênero quadrinhos no Brasil, Zimbres criou em 1997 junto a outros artistas, como Allan Sieber, a Tonto, uma editora independente que publicou nomes brasileiros e latino-americanos como Guazelli, Lourenço Mutarelli e Fido Nesti, entre outros.
Em 2015, Zimbres recebeu o prêmio Homenagem da Feira Miolo(s), na Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo, e, em 2009, o Açorianos de Artes Visuais como Melhor Exposição Coletiva pela “Entre o Traço e o Espaço”. Em 2010 o artista foi indicado ao PIPA (Prêmio Investidor Profissional de Arte).
Em 2016, ganhou o X Prêmio Açorianos de Melhor Exposição Coletiva para “A Casa do Desenho”, no Museu do Trabalho, em Porto Alegre (RS). O nome da coletiva é também o do projeto que integra junto a Eduardo Haesbaert e Gelson Radaelli (casadodesenho.blogspot.com), no qual os três criam obras que sofrem interferências de todos e são assinadas coletivamente.
Animações e outros trabalhos de artes gráficas que vão de fanzines undergrounds a ilustrações de livros, como Panamá ou as aventuras de meus sete tios, de Blaise Cendrars, a ainda livros-CD e arte de discos, como o álbum Casa, da cantora e compositora Gisele de Santi; o livro-CD Além, do músico Vagner Cunha, e o tb livro-CD Música para Antropomorfos, do grupo de rock Mechanics.