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março 5, 2017
Leonardo Tepedino no MAC, Niteroi
Esculturas em madeiras dialogam com a arquitetura e a paisagem do local
O artista Leonardo Tepedino abre a exposição Varanda Circular, com curadoria de Guilherme Vergara, no dia 11 de março, sábado, às 10h, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. A mostra traz esculturas em madeira que vão ocupar toda a varanda do Museu, se relacionando com a arquitetura do lugar e levando o público a percorrer caminhos abertos pela obra de arte, que se articula com o espaço, de forma física e simbólica. A instalação se insere no local abrindo um campo de forças espacial e temporal para ser vivido pelo observador, trabalhando a escala singular da varanda mirante do MAC Niterói.
A escultura se desenvolve no espaço em linhas de madeira compensada com transparência, o que deixa a varanda ventilar e permite o diálogo com a paisagem exuberante, ao mesmo tempo em que – com suas linhas curvas e delicadas – se coloca e transforma o ambiente num convívio harmônico entre obra, arquitetura, observador e paisagem. O dado importante e singular é a realidade física da constituição da escultura, criando desvios neste circular do espaço. Contemplada pela 6ª Edição do Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, da FUNARTE do ano de 2013, a mostra é a primeira do ano no museu.
‘Varanda Circular’ promove um rito de passagem importante para a entrada das esculturas que vão integrar o acervo do Museu. A mostra trabalha, portanto, a escultura como possibilidade de conhecimento urgente nos dias atuais, pelas características de resistência baseada na fisicalidade que a tradição escultórica mantém como possibilidade de enfrentamento da realidade, como corpo tridimensional e como volume e materialidade, que vai contra a onda de imaterialidade proposta pela lógica operacional da técnica atual que desmaterializa a realidade corpórea de que somos constituídos.
Para o autor, Leonardo Tepedino, o visitante vai poder entrar na obra, que circunda a varanda do museu, criando seus percursos a partir dos desvios colocados pela escultura.
“A exposição, a partir da instalação de uma nova realidade construída com o meu material, abre um campo escultórico para ser vivenciado pelo observador. Esta realidade escultórica é um corpo acomodado pela realidade do corpo arquitetônico, na escala de confronto com o corpo humano, disponível para ser experimentado pelo observador, circulando por este novo espaço e por este novo tempo tornado físico, constituindo-se no ato de circular entorno da escultura. Hoje, tudo parece estar desmaterializado. E a questão de a pessoa poder entrar, participar, desviar, tocar... é propiciada pela escultura”, explica o artista.
As esculturas, com suas delicadas curvas, vão produzir um novo espaço – complementado pela arquitetura, observador e paisagem. Tal encontro promove discussões sobre modos de operar completamente diferentes entre a escultura moderna e a contemporânea. O trabalho representa, portanto, a presença física, a potência material, a harmonia das relações, ligadas a uma fatura artesanal, colocando questionamentos sobre o corpo, a forma, o lugar, a experiência de circular em torno e através da instalação.
A escultura de Leonardo Tepedino comunga com uma constelação de escultores que mantém suas poéticas abertas à possibilidade de uma experiência física surpreendente, utilizando a matéria para abrir fissuras na realidade, alimentando os sentidos, o prazer corpóreo, o processo, a relação com a história da arte, sempre valorizando a atualização do espaço/tempo vivido.
Leonardo Tepedino é escultor. Em sua primeira exposição, em 1990, já trabalhava questões da escultura como a materialidade, o equilíbrio e a gravidade, elementos que permanecem fundamentais em seu trabalho. Na época, usava o material necessário para resolver um trabalho específico, então, trabalhava com uma pluralidade de materiais e meios que não se fixavam a um estilo, mas na particularidade de se chegar a uma síntese visual no espaço tridimensional. Em 2005, depois de uma experiência de quebrar uma cadeira tipo Thonet em vários fragmentos, percebeu, ao juntar precariamente estes fragmentos (com o intuito de purificar as linhas daquela tipo Thonet muito rebuscada), o torque mecânico que informava aquela materialidade. O DNA da mentalidade mecânica estava evidente. Neste momento, reduziu sua pesquisa à escolha de um material – a madeira –, trabalhando questões ligadas à tradição escultórica e à tradição arquitetônica e criando relações entre uma estrutura linear e uma possível membrana que forma o volume.
Tepedino já trabalhou no ateliê do também escultor Luciano Fabro, artista italiano expoente da chamada Arte Povera. Possui formação em arquitetura e mestrado em História da Arte – Área de Linguagens Visuais, na Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Participou de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. No ano de 2012, apresentou, nas Cavalariças da EAV Parque Lage, a exposição “Tempo-Vero”, com curadoria de Marisa Flórido, onde desenvolveu duas obras em madeira que se complementavam. Em 2014, abriu “Projeto Desenho Específico”, no mezanino do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de janeiro, com curadoria de Marisa Flórido,onde usou o Modulor de Le Corbusier para ajudar a organizar o espaço. Para essa mostra, utilizou a escala humana e a matemática como sistema único singular e universal de medidas. Sua última exposição foi em 2015, quando apresentou “Projeto Marquise Brasília”, no Complexo Cultural Funarte Brasília, no gramado do eixo monumental, momento em que fez a junção entre arquitetura, urbanismo e escultura num jogo no campo do sensível.