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março 3, 2017
Camila Soato na Zipper, São Paulo
Em Caviar é uma ova!, nova individual de Camila Soato que abre no dia sete de março na Zipper Galeria, a artista volta-se novamente para a discussão sobre gênero e questionamento sobre o status da pintura na era da apropriação de imagens. Com curadoria de Paula Borghi, a mostra mantém o tom de sua última exposição na galeria – “Nobre sem Aristocracia: Projeto Vira-Latas Puros nº 51”, 2014 – e reúne cerca de 30 trabalhos inéditos em distintos formatos.
Vencedor do prêmio de Melhor Exposição Prêmio PIPA Voto Popular (2013), o trabalho de Soato é agressivo. A pintura é bruta, com pinceladas carregadas de tinta, blocos de cores acumuladas, limpadas de pinceis e dedos. Ao mesmo tempo, representa elementos figurativos – predominantemente a figura humana no caso desta exposição – sofisticados. A artista força a convivência da abstração e da figuração nas telas com o propósito de romper qualquer hierarquia que possa haver entre elas. O mesmo rompimento é perseguido nas questões de gênero.
A artista faz da pintura sua plataforma política. Em um dos trabalhos, uma figura feminina é retratada se depilando, com a mesma naturalidade que um comercial de TV mostra um homem se barbeando. O desconforto ao ver a primeira imagem, portanto, não diz respeito ao trabalho em si, mas ao ambiente que a sociedade relega às mulheres. A artista apenas escancara. “O feminismo foi se cortando consciente no meu trabalho. O universo da mulher é relegado ao ambiente doméstico, à delicadeza. Minha pintura foca no oposto”, a artista comenta. A individual traça um paralelo entre a produção contemporânea e a história da arte, questionando o lugar da mulher neste espaço em busca da liberdade do corpo feminino.
A apropriação de imagens colhidas da internet (fotografias, memes, gifs) passou a ocupar lugar central no processo de Camila. Ela faz da imagem efêmera e de renovação incessante como referência para produzir a pintura, cujo propósito na história da arte é justamente o oposto, o de eternizar cenas e símbolos. Quando a artista não encontra a cena pretendida, ela mesma realiza performances indoor e fotografa as cenas para referenciar a pintura.
Camila Soato (Brasília, 1985) vive e trabalha em São Paulo. Com uma pesquisa voltada para a apropriação de imagens encontradas na internet e relacionadas a um cotidiano banal, a artista brasiliense usa a pintura para explorar a conexão entre arte e vida, diluindo a imagem mítica que esta técnica carrega em seu histórico. Em sua série mais recente, Soato faz releituras de quadros célebres da história da arte, discutindo questões de gênero e outros discursos predominantes. A artista é doutoranda na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Entre suas principais exposições individuais, destacam-se: "Uma diva, uma louca, uma macumbeira, meu deus ela é demais!". Artur Fidalgo Galeria, Rio de Janeiro, 2015; "Fuleragem Polissistêmica Nº 05", Zipper Galeria, São Paulo; "Vira-Latas Tecnológicos: inserções pictóricas no espaço urbano", Galeria Espaço Piloto, Brasília, em 2013; "O Descuido Vira-Latas, Fuleragem e Bundas", Galeria Espaço Piloto, Brasília, 2011; "Situações", Galeria da América Latina, Brasília, Espaço Cultural UNESC, Criciúma, e Galeria Espaço Piloto, Brasília, em 2011. Participou de exposições coletivas como "Duplo Olhar - Coleção Sérgio Carvalho", Paço das Artes, São Paulo, 2014; "Entre Dois Mundos – Arte Contemporânea Japão-Brasil", Museu Afro Brasil, São Paulo, 2014; "Finalistas do Prêmio Investidores Profissional em Arte (PIPA)", Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2013. Tem obras em instituições como Museu de Arte do Rio (MAR) e ganhou o prêmio de Melhor Exposição Prêmio PIPA Voto Popular, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 2013.
Paula Borghi é gestora cultural do SARACVRA e idealizadora do Projecto MULTIPLO. Foi assistente curatorial da 12# Bienal de La Havana (2015), curadora da Residência Artística do Red Bull Station (20013/2014), integrante do grupo de crítica do Paço das Artes 2012/2013 e do Centro Cultural São Paulo 2011/2012/2013. Em 2016, foi contemplada com o Projecto MULTIPLO pelo Rumos Itaú Cultural.