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março 1, 2017
Vão e Vazão, intervenções urbanas de Renato Pera em São Paulo
Renato Pera apresenta intervenções urbanas motivadas por investigações e vivências em SP
As obras foram pensadas para provocar experiências inusitadas de espaços arquitetônicos cotidianos da cidade
O projeto “Renato Pera: Vão e Vazão” entra em cartaz a partir de 4 de março de 2017, na estação São Bento do Metrô de São Paulo- Linha 1 Azul e na Unibes Cultural, Oscar Freire 2500 e Rampa de acesso à estação Sumaré do Metrô, com as instalações ‘Vão’ e ‘Vazão’, respectivamente.
O projeto foi aprovado e incentivado pelo ProAC-ICMS / Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, tem apoio da Ação Cultural do Metrô de São Paulo e da Unibes Cultural, produção e captação de recursos realizada pela OitO produções artísticas.
Olhar para a arquitetura
No projeto ’Vão’, seis desenhos de janelas foram escolhidos para relacionar-se com os espaços públicos da Estação São Bento do Metrô de São Paulo. Transformados em luminosos, com tamanho e formato de janelas reais, foram instalados em locais de passagem, como corredores subterrâneos, no alto de escadas, em cantos escuros e inativos, para gerar situações arquitetônicas inusitadas ou mesmo absurdas, capazes de produzir descontinuidades na experiência de trânsito pela estação. Visam acentuar a já exagerada sobreposição de perspectivas que o próprio espaço labiríntico da estação apresenta.
Como uma arqueologia de elementos arquitetônicos da cidade, os desenhos das janelas referem-se a tipologias de diferentes épocas. São, em sua maioria, modelos obsoletos que estão ou já entraram em desuso. A escolha do local deve-se também à sua localização geográfica, pois está em contato com o “triângulo histórico”, local de fundação e desenvolvimento da cidade de São Paulo.
Dando vazão à memória das águas na cidade
No projeto ‘Vazão’, 18 objetos pretos espelhados, em formato de gota, ocupam cerca de 30 metros do muro da Unibes Cultural, localizado na rampa de acesso à estação Sumaré do Metrô de São Paulo. Algo obscuro parece “escorrer” por este muro, uma espécie de “suor” na pele desta arquitetura.
A ação é motivada pela memória das chuvas, das cheias, das inundações e das canalizações de alguns rios, como o Tamanduateí, Tietê, Pinheiros, entre outros. O muro da Unibes Cultural e a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo marcam simbolicamente o local onde nasce o córrego Sumaré, que corre debaixo da avenida de mesmo nome. Testemunha-se aí o modo como o urbanismo em São Paulo foi muitas vezes organizado, com o aproveitamento dos fundos de vale para a construção de extensas avenidas, como é ainda o caso da Vinte e Três de Maio, Nove de Julho e Pacaembú, para citar alguns exemplos. Em todas elas oculta-se um rio subterrâneo.
Existe a vontade de promover uma reflexão sobre as relações entre os meios naturais hídricos e a apropriação feita pelos processos de desenvolvimento urbano, muitas vezes capturados por interesses privados, assim como o comprometimento da relação direta e afetiva do habitante com esses mesmos recursos.
“Gosto de operar em lugares da cidade com os quais me relaciono em minha experiência cotidiana. São lugares ou situações que provocam a minha percepção por revelarem algum tipo de tensão. Eventualmente, podem solicitar uma resposta que se traduz em intervenção efetiva, em obra efêmera no espaço público. Imagino que consigam provocar outras pessoas a perceber e estranhar esses mesmos lugares ou situações”, afirma Pera, que tem um grande interesse pelos espaços públicos.
Renato Pera - Artista multimídia. Mestre e bacharel em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo (USP), onde realiza atualmente o seu Doutorado. Interessa-se pelo cruzamento de linguagens e disciplinas.
Foi contemplado com o Prêmio Visualidade Nascente (2016), Prêmio Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais (2012), e Destaque do Júri no VI Encontro de Artes de Atibaia, SP (2007). Participou das residências artísticas Red Bull House of Art, São Paulo, SP (2011), e do Programa de Residencias Artísticas Para Creadores de Iberoamérica y Haití en México (2010).
É propositor inquieto de obras realizadas em espaços públicos, como o Projeto “Vitrinas MASP / Metrô de São Paulo”, concebendo e inaugurando o programa, e então atuando como co-curador e coordenador para a exposição do trabalho de trinta outros artistas (2011 a 2015). Além de intervenções na cidade do Rio de Janeiro ("Vazão", 2015, Galeria A Gentil Carioca), e São Paulo (“Volteador-de-Salão”, 2014, "Cosmogonia", 2012, Ateliê 2e1, e intervenções no Campus Butantã da USP, 2006, 2007 e 2008).
Realizou exposições individuais, das quais destacam-se: “Sangue” (Sesc Santana, São Paulo, SP, 2014), “Reminiscências” (Galeria Tato, São Paulo, SP, 2015), “O Muro”, (Sesc Ipiranga, São Paulo, SP, 2014). Entre as coletivas, “Metáforas Construidas”, (Bogotá, Colômbia, 2016), “Abre Alas”, (Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ, 2015), Red Bull Station (São Paulo, SP, 2014), Bienal de Ural (Rússia, 2012), “La Otra” (Bogotá, Colômbia, 2011), “Aluga-se” (São Paulo, SP, 2010) e “Justapostos” (Paço das Artes, São Paulo, SP, 2009). Seu trabalho integra coleções do Município de Atibaia, SP, e do Museo Diego Rivera – Anahuacalli, Cidade do México. Ministra atividade docente em palestras, cursos e oficinas de arte. Publica obras e textos em diversos meios.