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fevereiro 20, 2017
Alberto Bitar no Banco da Amazônia, Belém
Vazio impregnado de sentido, memória e lembrança
Cenários esvaziados de pessoas e objetos. Ambientes preenchidos apenas pela subjetividade da imaginação, da recordação e da memória. Estas são características de alguns trabalhos que compõem a série Sobre o Vazio, do fotógrafo paraense Alberto Bitar, vencedora do Prêmio Banco da Amazônia de Artes Visuais 2017. A exposição vencedora vai reunir pela primeira vez no mesmo espaço a partir do dia 21 de fevereiro as séries que a compõe: Qualquer Vazio, Todo o Vazio, Completude, sem título e Breve Vazio, constituídas ao longo de seis anos dos vinte e cinco anos da carreira do fotógrafo.
Além das questões existenciais que rondam a obra do artista, a série também traz outro elemento quem de sua pesquisa, o diálogo entre a fotografia e o vídeo. Nelas, as imagens capturadas pela câmera fotográfica se dilatam e se esgaçam rompendo fronteiras entre o movimento e o estático. “A partir do interesse pelo movimento apreendido na imagem fixa passei a desenvolver trabalhos com o auxilio do suporte do vídeo, mas quase sempre utilizando como base imagens estáticas. São trabalhos que nos fazem pensar nos primórdios do cinema, mas não deixam de ter em sua essência aspectos da linguagem fotográfica”.
Levado pela sensação de solidão provocada pelos vestígios de memórias deixados em ambientes como o apartamento onde viveu com a família por mais de vinte anos, Alberto Bitar mergulhou nesta busca como um caçador de lembranças. Primeiro, fotografando a série Todo Vazio, recolhendo imagens do lar onde teve importantes momentos da vida antes de ser repassado para outros moradores. Depois foi fotografando quartos de hotéis recém abandonados por seus hóspedes, que ele recolheu imagens para o Qualquer Vazio.
As duas séries produzidas de forma e em tempos distintos foram reunidas lado a lado em 2011 na exposição resultante do XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia. Se por um lado, o apartamento revela um vazio provocado pela pessoalidade do ambiente familiar, por outro, a impessoalidade reverbera e provoca a imaginação de quem vê. “Fico pensando sobre o quão pessoal ou impessoal podem ser esses dois ambientes, aparentemente diferentes, mas que, independente do tempo de permanência dos seus habitantes, podem guardar, nas memórias dessas pessoas, lembranças e saudades de momentos importantes nas suas histórias”, explica.
Temporal
Depois de contemplados pelo XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, da Fundação Nacional de Artes – Funarte, órgão nacional responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo, a série ganhou outros elementos, com obras produzidas ao longo dos últimos anos.
Em 2010, o autor continuou a pesquisa fotografando ambientes da casa que seria sua próxima morada e registrou as possíveis memórias que ali existiam e ficcionou as que um dia poderia ter ali. Surgiu então Completude, que passou a integrar a série. Em 2013, o fotógrafo incluiu mais uma série em Sobre o Vazio. Breve Vazio retrata o cenário de fora, de uma janela, que dá conta da breve solidão deixada por alguém que não estava no lugar certo, na hora certa. Este trabalho foi selecionado pelo Arte Pará do mesmo ano.
“Sobre o Vazio foi sendo concebida aos poucos, ao longo do tempo, porém nunca foi apresentada de forma única. Por isso, essa exposição é tão importante, pela primeira vez o público poderá conhece-la de forma integral, de como foi sendo construída, como um quebra-cabeças que ganhou forma e sentido”, declara.