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fevereiro 17, 2017

Flávia Bertinato na Marilia Razuk, São Paulo

Em sua segunda exposição individual na Galeria Marília Razuk, a artista Flávia Bertinato apresenta Sublimação, uma série de fotografias. E, também, uma configuração de sua recente instalação Rapunzel, contemplada pelo prêmio CCBB Contemporâneo, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Trata-se de dois trabalhos distintos, que foram produzidos simultaneamente nos últimos anos.

Na série Sublimação, que empresta o nome à exposição, mulheres e homens foram convocados por suas lembranças afetivas, ao posarem para as sessões fotográficas. Anônimos, e com o pouco de suas aparências a ser mostrado, os participantes atuaram com gestos que potencializam descrições de intentos eróticos. As repetições de gestos, contudo, são notáveis no decorrer do processo de realização de uma fotografia para a outra. Elementos da esfera individual parecem constituir uma espécie de repertório construído e compartilhado da linguagem corporal.

Rapunzel, ao remeter ao famoso conto adaptado pelos Irmãos Grimm, grande repercussão no século XIX, também lida diretamente com uma imagem popularmente decantada. No entanto, diferente da literatura, a instalação Rapunzel atribui maior atenção ao momento de violência da narrativa, e não o desdobramento da relação amorosa da protagonista com o príncipe. A instalação reportar-se ao corte das tranças de Rapunzel – que, na literatura, é praticamente um crime contra a felicidade de uma mulher. Como, amplamente conhecido, o corte das tranças é o momento de maior sofrimento e sentimentos de tristeza de Rapunzel. Na instalação Rapunzel, informações sobre uma suposta arma do crime (a tesoura), a protagonista, a violência e o encantamento são todos embaralhados, levando-nos à reflexão sobre paradigmas morais e fatos recentes de agressão contra a mulher.

A montagem de Rapunzel na Galeria Marília Razuk é formada por carretéis no centro do espaço expositivo, objetos de parede e fotografia. Algumas das tranças de fibra de sisal dos carretéis, feitas manualmente, são espetadas por tesouras douradas cirúrgicas. Dadas as suas dimensões e formas, estas assumem diferentes funcionalidades nas práticas hospitalares, como o acesso a órgãos e retirada de pontos. Em Rapunzel, a localização das tesouras é um recurso para diferenciar características dos carretéis, mas também carrega esta informação simbólica de perfuração do interior e da superfície corporais. Outra propriedade das tesouras em Rapunzel, assim como a manivela e as rodas nos carretéis, consiste na memória do deslocamento. Contudo, o público é interditado, sendo estimulado à elaboração mental desses exercícios - seja a movimentação das manivelas, o deslocamento dos carretéis ou o uso das tesouras.

Outras obras da artista também lidam alegoricamente com noções de suspense e de potência de uma dada ação.São exemplos, Bandida, uma alegoria do personagem do filme O Bandido da luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, apresentada na Galeria Marília Razuk em 2013, ou as fotografias de Boa Noite, Cinderela. Questões tão diluídas no convívio social, como as relações amorosas, a clandestinidade e o comércio/circulação de objetos ocultos são de interesse da artista, que, a partir dessa abordagem temática, reflete sobre a própria relação cambiante entre as noções de público, testemunha e voyeur.

Sobre a artista

Bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (2002) e mestra pela Escola de Comunicação e Artes da USP (2013). Atua em diversas linguagens, principalmente pintura, instalação e fotografia.

A artista realizou exposições individuais no Centro Cultural São Paulo (2004), Centro Universitário Maria Antônia (2005), Galeria Virgílio (2008 e 2010) e Galeria Marília Razuk (2013), em São Paulo, e na Galeria Celma Albuquerque (2014), em Belo Horizonte.

Integrou as exposições coletivas Uma coleção particular: acervo de arte contemporânea na Pinacoteca (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo, sob a curadoria de José Augusto, e Paralela de perto e de longe (2008), no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob a curadoria de Rodrigo Moura, entre outras. Também participou dos principais salões de arte nacionais, sendo contemplada pelos prêmios aquisitivos 28° Salão de Arte Contemporânea do Museu de Arte de Ribeirão Preto (2004) e 23° Salão de Arte Jovem de Santos (2001).

Em 2014, Flávia Bertinato foi selecionada pelos programas Mergulho Artístico: Bolsas de Investigação, da Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo), e Bolsa Pampulha de Exposição e Residência Artística, do Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte).

Posted by Patricia Canetti at 1:11 PM