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fevereiro 17, 2017

Uma Canção para o Rio (2a parte) na Carpintaria, Rio de Janeiro

Noite de abertura terá performance de Arto Lindsay e exibição de curtas de Los Carpinteros e Bruce Conner

A Carpintaria inicia no dia 18 de fevereiro a segunda etapa da mostra Uma Canção para o Rio, que marcou a inauguração do seu espaço no terreno do Jockey Club carioca, em novembro passado.Com a colaboração da célebre dupla de curadores independentes de Los Angeles Douglas Fogle e Hanneke Skerath, a nova fase, assim como a anterior, explora a relação entre as artes visuais e a música através de um conjunto de obras assinadas por renomados artistas brasileiros e do exterior.O dia da abertura contará com uma performance de Arto Lindsay, e a exibição dos filmes Conga Irreversible, de Los Carpinteros, e Breakaway, de Bruce Conner.

A escolha de trabalhar a relação entre as artes visuais e a música na exposição inaugural da Carpintaria ocorreu de forma quase natural. Trata-se de uma ideia que já vinha sendo acalentada pelos galeristas Marcia Fortes, Alessandra D`Aloia e Alexandre Gabriel – sócios da Fortes D’Aloia & Gabriel (ex-Fortes Vilaça) - e se afina com os planos arquitetados para o novo espaço carioca, que tem como principal vocação ser um lugar de diálogo entre diferentes meios de expressão artística e entre artistas de diferentes procedências e gerações.

“Talvez a música seja a mais abrangente das expressões artísticas, a coisa mais poderosa, com muitos públicos diferentes; um tipo de expressão livre do excesso de codificação, de auto-referência que vemos nas artes visuais”, analisa Alexandre Gabriel. Alessandra D’Aloia também lembra que no Brasil, e no Rio de maneira ainda mais forte, a questão da musicalidade é muito intensa.

Com o auxílio de Douglas Fogle e Hanneke Skerath, foram selecionados trabalhos de mais de 20 artistas, que exploram as relações concretas ou simbólicas entre o som e a forma. O leque é amplo e inclui desde nomes muito conhecidos do público, como Martin Creed, Hélio Oiticica, Nuno Ramos, Barrão e Rivane Neuenschwander, a artistas que ainda estão sendo descobertos na cena nacional e internacional.

A exposição não pretende criar uma tese sobre a relação arte e música nem se baseia em regras estritas na seleção dos artistas. O conjunto se constrói pela justaposição de vozes dissonantes. “Cada um desses artistas investiga as conexões entre a música e as maneiras que ela tem de configurar nossas memórias pessoais e coletivas”, explicam Fogle e Skerath no texto de apresentação.

É possível dividir os trabalhos em dois grandes blocos: de um lado estão aquelas produções que pertencem ao campo musical, fazem referência direta ao meio, produzem música e não estão falando sobre ela nem sobre seu universo. É o caso, por exemplo, do violão com várias caixas de som inseridas em seu corpo, criado pela dupla cubana Los Carpinteros, que produz uma verdadeira cacofonia quando ativado.

Em outro grupo estão as obras que trabalham com a memória, com a formação da identidade através da música, como por exemplo a releitura feita por Rivane Neuenswander a partir das capas de discos de Chico Buarque dos anos 1960 e 1970, que apesar da redução de informações visuais evocam diretamente a memória afetiva do espectador.

Também fazem parte da exposição frames da série Cosmococa Programa-in-progress, de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida. Criado em 1973 originalmente como uma experiência sensorial com a projeção de 163 slides, este é,segundo muitos críticos, o trabalho mais transgressivo em toda a obra de Hélio. Nas imagens, uma trilha de cocaína subverte cenas icônicas de personalidades da cultura pop, como as capas dos LPs War Heroes, de Jimi Hendrix, e Grapefruit, de Yoko Ono.

Já o trabalho do carioca Barrão aparece tanto com o coletivo Chelpa Ferro quanto em sua produção individual, como a serie de esculturas que participou da exposição Paleotoca (Galpão Fortes Vilaça, em 2016), feitas em resina monocromáticas (todas na cor branca). As peças agrupam objetos do uso cotidiano, como fitas-cassete, em composições aleatórias e inusitadas, adquirindo assim novo significado.
Uma das atrações internacionais desta segunda etapa da mostra é a obra do peruano Armando Andrade Tudela,feita especialmente para a exposição. O trabalho traz um berimbau, instrumento muito comum no Brasil,onde se lê: This Machine Kills Fascists, em referência à mensagem que o músico americano Woody Guthrie estampou em sua guitarra, em 1941.

A mostra também promove, pelo lado brasileiro, o resgate da obra de Paulo Garcez (1945 - 1989), artista multimídia que aproxima desenho e escrita, bem como toda a representação gráfica da música. E chama ainda a atenção para o trabalho cheio de frescor de duas jovens artistas em ascensão, a brasiliense (residente em Recife) Barbara Wagner e a paulistana (radicada no Rio) Vivian Caccuri, ambas com participações de destaque na última Bienal de SP. O curta-metragem Estás vendo coisas, de Bárbara Wagner & Benjamin de Búrca, retrata o universo da cena brega pernambucana através da indústria de videoclipes. O filme também será exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano.

NOVA FASE

Abertura da Carpintaria inaugura nova fase para Fortes Vilaça, que passou a incorporar o sobrenome dos três sócios

A abertura da galeria Carpintaria, no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, inaugurou também uma nova fase para a Fortes Vilaça, agora Fortes & D`Aloia& Gabriel. Em seu aniversário de 15 anos, a data também marcou a transformação da identidade societária da galeria paulistana. A alteração atualiza o sobrenome de Alessandra D’Aloia, anteriormente Vilaça e conclui a incorporação societária de Alexandre Gabriel, atuante na galeria desde o seu início. “Tudo confluiu para um único momento. Queremos reafirmar o que existe há 15 anos, porém com uma nova proposta”, sintetiza Marcia Fortes, o outro vértice do trio. Esta mudança marca um ponto de transformação e diversificação das atividades da sociedade.

Representando 42 artistas brasileiros e estrangeiros, que lidam com os mais diferentes meios e poéticas, a galeria é uma das mais dinâmicas do país. Só no mês de outubro, tinha artistas presentes em mais de 20 exposições espalhadas pelo mundo.

Essa confluência de novidades foi, segundo os sócios, uma feliz sincronia. O projeto de ter um espaço no Rio é acalentado há tempos. Alessandra e Marcia começaram a trocar ideias sobre o assunto ainda na década passada, mas as dificuldades em implementá-la levou ao adiamento dos planos até que, há cerca de dois anos, receberam um convite para participar de um novo polo cultural e gastronômico a ser instalado dentro do espaço do Jockey Clube. As condições de ocupação eram bem mais vantajosas do que as encontradas no valorizado mercado imobiliário carioca, tendo como contrapartida a reforma da área, que estava em precárias condições, e o comprometimento com o projeto. A aceitação foi imediata. De forma que a Carpintaria¬¬- assim chamada porque a casa escolhida teve essa função no passado – foi a primeira atividade a ser inaugurada no novo complexo, intitulado Vila Portugal. O espaço de 300 metros quadrados com vista para a pista de corrida e as montanhas da cidade foi cuidadosamente reformado para abrigar as atividades do grupo na cidade.

“Nossos vizinhos – restaurantes, livrarias e outras galerias – serão abertos cada um no seu ritmo”, explica Alessandra D’Aloia, que se mudou há alguns meses para o Rio para supervisionar de perto a reforma do espaço, feita pela dupla Pedro Évora e Pedro Rivera, do escritório Rua Arquitetos. A confirmação de Gabriel como novo sócio também só ocorreu agora, mas as tratativas começaram três anos atrás, já que esses processos costumam ser vagarosos. Apesar da crise, que os forçou a participar mais ativamente de feiras internacionais, o ânimo é grande. “É nosso atestado de teimosia”, brinca Marcia.

Houve, por parte dos galeristas, uma grande preocupação em manter o espaço da Carpintaria o mais preservado possível. A única mudança mais radical foi a elevação do pé direito, de 2,8 para 4 metros, mas foram mantidas as tesouras de madeira bem como as telhas originais. Trata-se de um espaço amplo, versátil, pensado para viabilizar os projetos do trio para o Rio de Janeiro. O foco da ação na cidade carioca foi o desejo de criar um novo espaço de experimentação, que permitisse ampliar as ações do grupo para outros modelos expositivos e outras vertentes da arte. “Trata-se de um lugar para ventilar nossas ideias, abrir um pouco a abrangência de nossas práticas”, explica Marcia Fortes.

Não por acaso a mostra inaugural é uma grande coletiva que explora a relação entre as artes visuais e a música. Alessandra destaca ainda que o Rio de Janeiro passa por um momento de grande dinamismo, com a criação recente de várias instituições. “Mas sempre há mais o que fazer. Nosso trabalho é de formiguinha”, conclui.

Alexandre Gabriel considera que há uma certa complementariedade e uma desejada diversidade entre os três espaços comandados pelo trio: a Galeria da rua Fradique Coutinho, o Galpão no Bom Retiro – ambos em São Paulo - e agora a Carpintaria, cada um com uma vocação bem nítida. “Queríamos fugir um pouco dessa ideia de galeria que abre filiais; cada espaço tem sua identidade própria”, complementa.

No caso da Carpintaria, a vocação é de diálogo com outras expressões artísticas para além das artes plásticas,bem como de abertura para novos artistas, que exploram diferentes linguagens e pertencem a várias culturas. O tempo também será mais lento, com mostras e eventos de duração mais longa. A ideia é realizar não mais do que cinco eventos anuais, com duração mínima de seis semanas, combinando mostras coletivas, grandes individuais (apenas uma por ano), cessão esporádica do espaço para terceiros que tenham projetos pontuais interessantes e a realização de encontros férteis, em duplas e trios de artistas, com afinidades especiais. Um desses duetos – ou duelos – já está definido e deverá colocar lado a lado Adriana Varejão e a portuguesa Paula Rego, cujas obras se encontram em questões como a violência, o universo feminino e os comentários sobre imperialismo e colonialismo, além da união,em uma exposição coletiva, da artista paulistana Erika Verzutti com o inglês Jesse Wine e a americana Lynda Benglis

Posted by Patricia Canetti at 11:14 AM