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fevereiro 17, 2017
Paulo Bruscky no Sesc Belenzinho, São Paulo
Composta por quatro exposições, a mostra Estou Cá converge os questionamentos e reflexões reunidos nas etapas anteriores do projeto, com a finalidade de enfatizar as muitas formas de relação entre público e obra de arte. Um dos destaques da mostra é um conjunto inédito do artista pernambucano Paulo Bruscky
Lançado em julho de 2015, o PROJETO [ESTOU CÁ] com curadoria geral de Paulo Miyada, gerou vários questionamentos sobre arte contemporânea. Depois das exposições Potlatch: Trocas de arte, que começou vazia e se desenvolveu por meio de trocas entre o público e a equipe curatorial, e Sempre Algo Entre Nós, que reuniu artistas contemporâneos com obras que enfatizam as relações entre obras e público, o projeto chega em sua última etapa. A exposição Estou Cá, que abre ao público no dia 30 de novembro, no Sesc Belenzinho, testa hipóteses a respeito da arte, seus agentes, processos constitutivos e a relação com o lugar e os públicos da unidade.
Dividida em quatro núcleos, a exposição Estou Cá combina, em tom provocativo, exposições, oficinas e projetos pedagógicos, em que público, artistas, mediadores e curadores se questionam sobre conceitos pré-estabelecidos, promovendo trocas de informações e experiências.
O primeiro núcleo apresenta um conjunto de obras inéditas de Paulo Bruscky chamada Artistas achados e apropriados, em que exibe objetos encontrados em feiras, depósitos e lixeiras e que remetem ao trabalho de artistas brasileiros como Volpi, Hélio Oiticica e Sérgio Camargo. O segundo núcleo, ZL, será composto por trabalhos de artistas que tem essa região de São Paulo como contexto, convidados a partir da pesquisa que se iniciou com a estada dos curadores no Potlatch. Já o terceiro núcleo é o resultado da oficina Refeitos, coordenada por Pedro França em que se exercita a refatura de obras conceituais das décadas de 1960 e 1970 e, por último, o quarto núcleo, Boletim Público, iniciativa experimental que registra os processos de mediação de todo o projeto, além pesquisar perguntas-chave para o debate atual de mediação e educação de arte contemporânea.
Para o curador Paulo Miyada, “A exposição Estou Cá é o ponto de chegada, na qual produção local, exercícios de convívio, processos colaborativos e diálogos acontecem com toda a complexidade que a arte contemporânea consegue promover quando diretamente voltada à esse fim”. Sobre a relação com o lugar, continua: “Ao invés de começar pela eleição de obras e assuntos de interesse peculiar e pensar em como mostrá-las a determinado público, todo o projeto pretende responder diretamente às particularidades dos vários perfis de visitantes e comunidades que atravessam este espaço, procurando implicá-los por noções abertas do que é a arte hoje”.
Paulo Bruscky
O artista de Recife apresenta na mostra Artistas achados e apropriados um conjunto de obras inédito. Durante anos, Paulo Bruscky colecionou objetos que encontrava em feiras, depósitos e lixeiras e que o lembravam diretamente da obra de algum artista contemporâneo: um tapete que remete a pinturas de Volpi, uma colcha bordada que provoca a lembrança do manto de Bispo do Rosário, restos de madeira que se organizam como esculturas de Sérgio Camargo. A reunião desses objetos resultará em uma inusitada coleção de grandes obras da história da arte que é, ao mesmo tempo, uma intrigante mostra de Paulo Bruscky. “Em destaque atualmente no Brasil e em outros países, a obra do Paulo nos dá uma dupla visão sempre com humor e tendo o cotidiano como pano de fundo”, conta Miyada.
Zona Leste
Durante a etapa do Potlatch houve um mapeamento de parte da produção artística nos bairros da Zona Leste paulistana. Após uma pesquisa complementar e alguns encontros nos ateliês e espaços de produção destes artistas, a curadoria convidou sete artistas para expor seus trabalhos. Os artistas convidados são: Caio Carpinelli, Kim Cavalcante, Moisés Patrício, Pedro Seman, Renato Almeida, Rafael Calixto e Vitor Oliveira. São artistas de linguagens e perfis variados, que têm em comum a atenção a processos, culturas, materiais e símbolos do espaço urbano.
“A ideia desse núcleo é mostrar a arte contemporânea deslocada do centro expandido da capital paulista e fazer uma conexão com toda a cidade de São Paulo”, conta o curador.
Refeitos
Resultado de uma oficina coordenada por Pedro França, a mostra Refeitos apresenta exercícios de refatura de obras fundamentais do minimalismo, da arte conceitual e da arte povera dos anos 1960 e 1970, no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. O objetivo da oficina foi discutir obras da história da arte contemporânea que carregam em sua concepção a possibilidade de serem reconstruídas, reelaborando seus processos para refazê-las (sem necessariamente imitar sua forma final) como adverte Paulo Miyada: “Não são releituras, nem cópias ou imitações”.
Boletim Público
Além dos três núcleos, a exposição Estou Cá contará com um espaço dedicado ao educativo, organizado no projeto experimental de mediação Boletim Público, com cocuradoria de Valquíria Prates. Tendo como foco principal os processos e debates discutidos e praticados nas exposições anteriores, os mediadores irão atuar nos espaços do Sesc Belenzinho – não apenas discutindo sobre as obras, mas produzindo provocações, reflexões, pesquisas e notações sobre e com as obras, o público e suas relações com cada módulo da exposição.
Como parte do espaço expositivo, haverá uma sala que funcionará como síntese de toda a pesquisa e discussão já promovida pelo projeto e também do que os mediadores produzirem e coletarem durante a exposição.