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fevereiro 13, 2017
Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli na Funarte, Brasília
Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli realizam intervenção na Funarte de Brasília em uma reflexão a partir da falência das utopias, tendo o automóvel como emblema da modernidade.
Em 15 de fevereiro, os artistas visuais Adriano Guimarães (DF), Fernando Guimarães (DF) e Ismael Monticelli (RS) inauguram a intervenção Monumento na Marquise do Complexo Cultural Funarte – Brasília/DF. Elaborada especialmente para o local, a obra é uma espécie de jardim feito de restos de automóveis, além de elementos que evocam o desenho da paisagem da cidade. A modernidade e seus ideais de progresso, velocidade e dinamismo, bem como a criação de Brasília e o desenvolvimento da indústria automobilística no País são algumas questões que embasam a construção do trabalho. A obra fica em exibição até o dia 2 de abril, com visitação de terça a domingo, das 10h às 21h. O Complexo Cultural Funarte Brasília fica no Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural.
Com acompanhamento crítico das curadoras Daniela Name (RJ) e Marília Panitz (DF), “Monumento” foi concebido pelos três artistas que se encontram regularmente para realizar trabalhos em conjunto. Contemplado no Prêmio de Arte Contemporânea 2015 - Atos Visuais Funarte Brasília, o trabalho apropria-se do significado corriqueiro da palavra monumento – construção com finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade, nação e etc. – e da sua intrínseca relação com Brasília, a cidade dos monumentos. A obra utiliza como matéria prima restos de veículos acidentados, enfocando uma estratégia, ética e estética, recorrente na poética dos três artistas, que diz respeito à valorização do que habitualmente é considerado desimportante ou desprezado pelo senso comum.
Se Brasília é a cidade-síntese de nossa modernidade como uma espécie de ruína de futuro, talvez o carro seja o maior vestígio dessa ruína. A indústria automobilística foi uma das principais plataformas do programa de governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), não apenas no que diz respeito à economia e à política, mas também à imagem de Brasil idealizada durante esse período. O veículo - literal e metafórico - pode nos transportar para a reelaboração dessa história.
Ao utilizar o carro acidentado como escultura do acaso, a intervenção propõe uma reflexão crítica sobre o fluxo que se tornou invisível, por ser tão naturalizado: produção em massa -> distribuição acelerada -> descarte. Talvez, ao relocar esses restos abandonados, repletos de narrativas, estes possam adquirir visibilidade ao revelar o avesso de uma utopia. “Adriano, Fernando e Ismael estão lidando com um anticarro e transformando estes restos de velocidade em jardim. Lampejo de poesia”, afirma a curadora Daniela Name.
Direcionando o olhar para Brasília – lugar onde ideologia, interesses econômicos e arquitetura estão imbricados desde a sua concepção –, “Monumento” é feito dessas inversões e também de muitas condensações – da história de Brasília, da história da arte moderna, da história dos próprios artistas envolvidos. “Eu vejo nessa intervenção lastros de trabalhos que os três fizeram juntos e separados. Ao criarem seu próprio eixo com esses desastres, é como se eles investissem, mais uma vez, na necessidade de paralisia, de silêncio e de contemplação para redesenhar metas e mapas. Menos veloz e mais opaca, essa jornada talvez seja a única cartografia possível em meio aos destroços”, completa Name.
Para Marília Panitz, criar uma intervenção que coloca o carro desincorporado de sua funcionalidade, os artistas fustigam a ideia de retomar um devir que nasceu fadado ao descarte. “Monumento” se organiza no espaço externo, em um jardim, constituindo um desenho de instalação a partir dos jardins japoneses. Estes carregam a ideia de morte, não como saudade ou memória, mas como forma de contemplação sobre a existência. Para Panitz, esta é uma experiência estética de lidar com a ausência, que deve ser observada e sentida. “Não existem detalhes a observar e apreender, e sim outro tempo de visão que se permitir. Essa tensão é o que dá à obra o critério de monumento: Um estar para refletir”, sentencia.
O projeto oferecerá ao público duas oficinas sobre questões relacionadas ao trabalho, além de contar com o lançamento de um catálogo ao fim da exposição, juntamente com uma conversa, seguida de visita à obra, conduzida por Marília Panitz e pelos artistas. “Monumento” conta também com uma página web, página no Facebook e perfil no Instagram, que apresenta parte da pesquisa realizada pelos artistas a partir de imagens e acontecimentos do século XX e XXI.
SOBRE OS ARTISTAS
Adriano e Fernando Guimarães | Brasília/DF - Artistas visuais, diretores e professores. Atuam desde 1989, construindo trabalhos em teatro, performance, artes visuais e dança. Realizaram diversas exposições individuais como: Quase nunca sempre o mesmo (Alfinete Galeria, Brasília/DF, 2014); Cheio/vazio (Künstlerhaus Mousonturm, Frankfurt/Alemanha, 2013); No singular. Nada se move, curadoria de Marília Panitz (Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ; Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; SESC Belenzinho, São Paulo/SP. 2012-2013); Juegos - Performances(MARCO, Museo de Arte Contemporânea de Vigo, Espanha, 2005); Dupla Exposição, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2003); e Felizes Para Sempre, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ; Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; Solar do Barão, Curitiba/PR. 2001-2000).
Participaram de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior como: Frestas – Trienal das Artes, curadoria de Josué Mattos (SESC Sorocaba, São Paulo/SP, 2014); Transperformance, curadoria de Lilian Amaral (Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro/RJ, 2011); Brasília Síntese das Artes, curadoria de Denise Mattar (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2010); HiPer>relações eletro//digitais, curadoria de Vitoria Daniela Bousso (Santander Cultural, Porto Alegre/R, 2004); Panorama da Arte Brasileira 2003 - Desarrumado 19 Desarranjos, curadoria de Gerardo Mosquera (Museu de Arte Moderna, São Paulo/SP; Paço Imperial, Rio de Janeiro/RJ. Museu de Arte Moderna Aloísio de Magalhães, Recife/PE; MARCO, Museo de Arte Contemporânea, Vigo/Espanha; Museo de Arte Del Banco de La República, Bogotá/Colômbia; 2003-2008); A Trajetória da Luz na Arte Brasileira, curadoria de Paulo Herkenhoff (Itaú Cultural, São Paulo/SP, 2001); The Theatre of Installation, curadoria de Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley (Museum of Installation, Londres/Reino Unido, 2000); e 21ª Bienal Internacional de São Paulo, curadoria de João Cândido Galvão (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo/SP, 1991).
Ismael Monticelli | Porto Alegre/RS - Artista visual e pesquisador. Bacharel em Artes Visuais (UFRGS, 2010) e mestre em Artes Visuais (UFPel, 2014). Realizou exposições individuais como: Le Petit Musée – Sala 1, 2 e 3, curadoria de Raphael Fonseca (Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro/RJ, 2016); Todas as coisas, surgidas do opaco, curadoria de Luisa Duarte (Santander Cultural, Porto Alegre/RS, 2014); A Paixão Faz das Pedras Inertes um Drama (Goethe-Institut, Porto Alegre/RS).
Participou de exposições coletivas como: Vértice, Curadoria de Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana (Centro Cultural Correios, São Paulo/SP, 2016; Museu Nacional dos Correios, Brasília/DF, 2015; Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Mensagens de Uma Nova América – A Poeira e o Mundo dos Objetos, 10ª Bienal do Mercosul (Usina do Gasômetro, Porto Alegre/RS, 2015); Ficções, Curadoria de Daniela Name (Caixa Cultural, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Situações Brasília, curadoria de Cristiana Tejo, Evandro Salles e Ricardo Sardenberg (Museu Nacional da República, Brasília/DF, 2014-2015); 4º Prêmio EDP nas Artes (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP, 2014); Da Matéria Sensível, curadoria de Bruna Fetter (Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2014); Homem Cultura Natureza – Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, curadoria de Mariano Klautau Filho (Casa das Onze Janelas, Belém/PA, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013; SESC Belenzinho, São Paulo/SP, 2013; e Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, 2012); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, curadoria de Paulo Miyada (Galeria Leme, São Paulo/SP, 2012), 41º Novíssimos, curadoria de Ivair Reinaldim (Centro Cultural Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2011); e Mostra Coletiva Olheiro da Arte, curadoria de Fernando Cocchiarale (Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro/RJ, 2010). Foi destaque na seleção da Bolsa Iberê Camargo 2011 e premiado no Festival de Fotografia HTTPpix (Instituto Sérgio Motta, São Paulo/SP, 2010).