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fevereiro 13, 2017
Eduardo Frota + Manoel Ricardo de Lima na Sem Título Arte, Fortaleza
O artista visual lança o programa Rotatórias com exposição individual (13 fev) e o poeta fará uma fala com caráter de intervenção política (15 fev)
Sobre o quadrado / da inconstância física à desobediência incorporada
Exposição individual do artista visual Eduardo Frota inaugura na Sem Título Arte o Programa Rotatórias. Abertura: Segunda-feira (13 de fevereiro), às 19 horas
Pensar um conceito para a inserção na cidade de um espaço de arte autônomo, é pensar um lugar voltado à produção e ao pensamento crítico da arte contemporânea experimental. O artista Eduardo Frota torna possível este desenho ao intervir no espaço expositivo da Sem Título Arte, inaugurando o Programa de Exposições Rotatórias. Uma intervenção que indica a posição de atuação deste espaço de arte em Fortaleza.
Rotatórias é um programa de exposições e proposições estéticas de artes visuais, intercaladas por performances de dança, música, literatura e artes cênicas. A cada 40 dias, um artista visual é convidado a ocupar o espaço da galeria propondo livremente intervenções críticas contemporâneas para a cidade. Eduardo vem atuando nesse sentido por meio de seus trabalhos que extrapolam as questões da própria arte e avançam na dimensão política ampliando o debate sobre o lugar do sujeito na contemporaneidade.
O artista discute o próprio estatuto do cubo branco, muda a topologia do espaço, instaura um quadrado geométrico que provoca um movimento de torção na estrutura física historicamente rígida e esgarça a dinâmica de funcionamento da programação da Sem Título Arte. Os 4 troncos de eucalipto reflorestado, medindo cada lado aproximadamente seis metros, formam um quadrado inclinado, com alturas entre 0,80m a 1,50m que atravessa os três espaços expositivos, complementado pelo piso coberto de brita que dá volume e sensorialidade à obra instalada.
Com SOBRE O QUADRADO, o artista reitera o seu interesse de pensar o espaço nos seus aspectos de significado e significante, a partir dos conceitos de espaço expositivo de que conhecemos na História da Arte e da inflexibilidade institucional. Desloca ainda o visitante para a experiência do corpo que adentra a obra e a percorre pelos três ambientes, mas ao mesmo tempo não consegue vê-la na sua totalidade. Nas palavras de Frota “é não apreender retinianamente, o que propõe uma experiência sensorial de deslocamento do corpo”. Dado recorrente nos seus trabalhos interventivos. Mas será mesmo um quadrado?
Se o quadrado é uma forma geométrica idealmente perfeita e abstrata, Eduardo o constrói com o embate dos materiais e sua condição de imperfeição física. Daí a sua ação política de sujeito no mundo, escavando uma utopia possível através da arte. Sem ser um matemático, o artista usa o elemento da geometria como disparador da primeira de uma série de quatro projetos de observação das figuras geométricas.
Jacqueline Medeiros, que divide com Elizabeth Guabiraba a concepção da Sem Título Arte, observa na obra as relações com a geometria. “Sabemos que o conhecimento geométrico surgiu de forma intuitiva, a partir da observação humana ou, em outras palavras, a partir da consciência de que o homem apresenta um senso geométrico inato, adquirido na observação à natureza. Assim surgiram os primeiros polígonos: o quadrado e o retângulo. Esse tipo de acontecimento que deu origem à geometria, denominado de Geometria do Subconsciente, é utilizado por Eduardo Frota para criar a ficção de um quadrado como uma ocupação que cria um problema de sintaxe entre forma e conteúdo. É um quadrado circular que leva o visitante na direção de uma outra percepção: a de fazer a quebra da perfeição dos ângulos retos e criar uma figura geométrica perceptiva. Um quadrado que é um círculo, como resultado do movimento que atravessa todo o espaço. Ângulos retos criam a ilusão de um círculo que desconsidera as paredes, as amarras do cubo branco, sua rigidez física e conceitual. A imperfeição dos ângulos retos que recusam as amarras da perfeição.
Eduardo Frota - Escultor e professor. Chega ao Rio de Janeiro em 1978. Nos dois anos seguintes, assiste ao Curso Intensivo de Arte/Educação (Ciae), na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), no Rio de Janeiro. Em 1986, licencia-se em educação artística pelas Faculdades Integradas Bennet, na mesma cidade. Mostra trabalhos no Salão Carioca de Arte em 1982 e 1986.
Em 1983, participa da Oficina do Corpo da Escola de Artes Visuais (EAV/Parque Lage), Rio de Janeiro. Em 1984 e 1985, estuda no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) com Gastão Manuel Henrique (1933), faz o curso Volume/Espaço; com Eduardo Sued (1925), participa do curso Diálogo; e, com Ronaldo Brito (1949), lê O Olho e o Espírito, do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Sua primeira individual acontece na Fundação Nacional de Arte (Funarte), em 1988. Em 1996, recebe a bolsa do Projeto Uniarte 96, da Faperj/UFRJ. Um ano depois, ganha o grande prêmio do salão Arte Pará.
Em 2001, é curador adjunto do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural 2001-2003, para o qual realiza um mapeamento das artes nas regiões Norte e Nordeste e uma curadoria da exposição com jovens artistas. Nessa época, é coordenador do Núcleo de Artes Plásticas do Alpendre, em Fortaleza. A partir dos anos 2000, começa a mostrar grandes instalações com peças em madeira, como faz na 25ª Bienal de São Paulo (2002). Exposições individuais: Espaço e Sentido (2002 : Recife, PE), Eduardo Frota (2003 : Natal, RN), Paisagens no Espaço (2003 : São Paulo, SP), Espaço e Sentido: intervenções extensivas VII (2003 : Rio de Janeiro, RJ, Intervenções Extensivas x Vila Velha ES (2005 : Vila Velha, ES), A Intervenção em Trânsito (2006 : Rio de Janeiro, RJ)
Geografias imateriais + Cingapura
Programa Na Lona, com o poeta e professor Manoel Ricardo de Lima. Quarta-feira (15 de fevereiro), às 19h, na Sem Título Arte.
O Programa Na Lona ganha, neste mês de fevereiro, a presença poética de Manoel Ricardo. Ele que é um querido da cidade, que viveu durante anos em Fortaleza e deixou permanências, invenções afetivas ao modo do Alpendre – a casa de arte, cultura e pensamento, que integrou como um dos fundadores.
Em Geografias Imateriais + Cingapura, Manoel fará uma fala com caráter de intervenção política, dividida em duas pequenas partes: “A primeira trata um pouco do meu trabalho perseguindo uma proposição de Maria Gabriela Llansol, a das "geografias imateriais", para esboçar algumas perguntas em torno daquilo que pode ser produzido por uma vagabundagem do pensamento em direção a uma partilha da terra e a uns mundos e que pode também, de algum modo, como forma de coragem, problematizar ainda o ser das coisas: quais textos, imagens, memórias inaparentes.”
Na segunda parte, leitura de dois fragmentos de uma narrativa de pesadelo, ainda não publicada pelo autor, intitulada Cingapura, que tenta tocar a proposição apresentada na primeira parte da fala.
Na Lona são encontros com artistas, teóricos, pesquisadores, poetas e escritores, que acontecem gratuitamente na Sem Titulo Arte. Se, por um lado, o nome dado ao programa nos remete à precariedade do cenário de arte no país, por outro, nos lança à liberdade inventiva de criar a partir dos encontros, tal como os artistas de circo mambembe.
Manoel Ricardo de Lima - Poeta, professor da Escola de Letras e do PPGMS na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO. Publicou "Falas Inacabadas" [um livro-transparência com a artista visual Elida Tessler]; "Embrulho"; "Quando todos os acidentes acontecem"; "Geografia Aérea" e "Um tiro lento atingiu meu coração"[poemas]; "Entre Percurso e Vanguarda - alguma poesia de P. Leminski"; "Fazer, Lugar - a poesia", de Ruy Belo" e "A forma-formante: ensaios com Joaquim Cardozo" [Ensaios]; "As Mãos" [romance]; "Jogo de Varetas" [narrativas] e "Maria quer o mundo" [para crianças].
Organizou "Edifício Rogério - Textos críticos de Rogério Sganzerla" [com Sérgio Medeiros];
"A visita" [narrativas, com Isabella Marcatti] e A nossos pés – poemas para Ana Cristina Cesar. Co-roteirista do documentário “Só tenho um norte:” e do longa-ficção “LINZ – quando todos os acidentes acontecem” [ambos dirigidos por Alexandre Veras]. Coordena as coleções "Poesia de Ruy Belo", para a editora 7Letras, RJ e "Móbile de mini-ensaios" para a Lumme Editor, SP.
Sobre a obra
Sobre poesia, ainda: Manoel Ricardo de Lima
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