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janeiro 23, 2017
Guilherme Ginane na Millan, São Paulo
Em Que dia feliz hoje ainda vai ser, a primeira exposição individual do pintor Guilherme Ginane (1980) na Galeria Millan, o artista carioca radicado em São Paulo apresenta um conjunto de dez trabalhos no espaço térreo da galeria, divididos entre cinco telas e cinco papéis.
A individual, que marca a entrada de Guilherme Ginane para o grupo de artistas representados pela Galeria Millan, conta com um belo texto crítico assinado pelo escritor carioca Bernardo Carvalho.
Nas palavras de Bernardo Carvalho, “os objetos sobre os tampos das mesas de Guilherme Ginane também têm uma existência autônoma e estranhamente inconciliável. Os cigarros, os fósforos, os vasos de flores, os livros etc. se sobrepõem à mesa, que oscila entre fundo e superfície; eles escorrem como tinta pela tela, flutuam sobre a mesa, mais do que descansam nela; disputam com a mesa a prevalência de planos paralelos e perspectivas incompatíveis. Há aí uma luta com a pintura, que tem muito pouco a ver com o repouso.
(...) A mudança de perspectiva do plano, sua aparente mobilidade, resulta numa metamorfose das coisas: o olhar que antes fixava faixas de tapete nas bordas das mesas agora vê paredes; o que era xícara vai se transformando em lâmpada, no alto do quadro. Ou seja, o plano vai girando, se inclinando sem se inclinar, se inclinando como se fosse ganhar tridimensionalidade, ainda que permaneça plano, e nesse estranho movimento inerte (o plano que gira sem girar) os objetos também vão se transformando. O quadro incorpora mais de uma perspectiva, por vezes perspectivas incompatíveis no mesmo plano, de modo que os objetos se tornam outros, sem deixar de ser os mesmos. Na pintura de Ginane, essa coabitação de planos representa um arco, uma mudança na perspectiva do sujeito que olha (artista e espectador), ela remete a uma experiência no mundo.
(...) A dificuldade de um fundo que é ao mesmo tempo infinito e superfície, representada pela evidência tátil da pincelada, das camadas de tinta sobrepostas, já tinha uma função assertiva e desestabilizadora nos trabalhos anteriores: as figuras em primeiro plano – cadeiras, cigarros, xícaras etc. –, perdidas no espaço, tinham sua perspectiva, sua autonomia tridimensional, contrariada pelo fundo sem profundidade, bidimensional e opaco, no qual acabavam se fundindo. Mesmo depois, quando surgem os tampos de mesa e os tapetes embaixo das mesas, ainda assim os dois planos se confundem, por um efeito telescópico, na mesma superfície. Há uma tensão e uma viscosidade entre as coisas e os planos, simultaneamente diversos e um só.”
Guilherme Ginane (Rio de Janeiro / SP, 1980) É artista plástico, formado em Comunicação pela Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro) e em Artes pela Escola de Artes Visuais Parque Laje (Rio de Janeiro). Nos últimos anos participou de exposições coletivas na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro), 2016; Galeria Estação (São Paulo), 2016; Pivô (São Paulo), 2016 e 2015; MARP (Ribeirão Preto), 2015; e Galeria Marcelo Guarnieri (São Paulo), 2015. Participou do Salão de Arte de Ribeirão Preto, 2014 e 2013; e do Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos, 2013. Realizou residencia artística no Pivô (São Paulo), entre 2015 e 2016. Realizou acompanhamento artístico com o pintor Paulo Pasta entre 2011 e 2013.