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janeiro 18, 2017
Alair Gomes na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Exposição conta com 293 imagens realizadas, entre 1960 e 1980, pelo fotógrafo notabilizado pelas séries de conteúdo homoerótico e voyeurista. Abertura no dia 13 de dezembro, às 18h
A Caixa Cultural Rio de Janeiro exibe de 13 de dezembro de 2016 a 19 de fevereiro de 2017 a mostra Alair Gomes – Percursos. Organizada pelo pesquisador e curador de fotografia Eder Chiodetto, a individual do fotógrafo Alair Gomes traz a público uma seleção de 293 ampliações de pequenos formatos das séries “Sonatinas, Four Feet”, “Symphony of Erotic Icons”, “The Course of the Sun”, “Beach Triptych” e “A New Sentimental Journey”. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.
A exposição, que esteve na CAIXA Cultural São Paulo em 2015 e gerou recorde de visitantes, também traz série inédita de fotografias de atletas do surf, futebol, canoagem e natação no Rio de Janeiro, além da realizada na Praça da República, em 1969, na cidade de São Paulo. Haverá programação especial em duas datas: visita guiada com Eder Chiodetto na abertura, em 13 de dezembro, às 19h30, e lançamento do catálogo da exposição e palestra, também com o curador, no dia 21 de janeiro, às 16h.
Considerado um dos precursores da fotografia homoerótica no Brasil, Alair Gomes notabilizou-se a partir dos anos 1960 pelas fotografias que enfocam o corpo do homem belo e jovem, seguindo a tradição da história da arte, notadamente das esculturas greco-romanas. Com forte acento voyeurista, muitas de suas fotografias, realizadas entre 1960 e 1992, foram feitas a partir da janela e também no perímetro de seu apartamento na orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Desde então, sua produção tem sido estudada por críticos brasileiros e estrangeiros, e vem ganhando espaço em livros, revistas, galerias e museus.
Séries e temas
“Alair Gomes – Percursos” é aberta com uma série inédita de 32 fotografias da Praça da República, em São Paulo, em 1969, auge do movimento hippie no Brasil. Chiodetto se surpreendeu ao encontrar essa série em sua pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional: “essas imagens ajudam a entender a pulsão da obra de Alair como um desdobramento da revolução comportamental ocorrida após maio de 1968, é uma ode ao hedonismo, aos prazeres sem culpa possibilitado pelo sexo livre e pela regressão de certos dogmas”, diz o curador.
Em “Sonatinas, Four Feet” (1970-1980), o artista alude à composição musical para criar sequências com imagens de uma ação que ocorre num tempo-espaço bem definido, em geral com dois rapazes se exercitando na praia.
”Essa narrativa fraturada nos dá a percepção de uma coreografia ritmada e sensual. Por meio dessa estratégia, Alair extrai da cena um erotismo muitas vezes imperceptível para quem a vê no contínuo do tempo”, escreve Eder Chiodetto. Entre as séries sequenciais que tornaram a obra de Gomes conhecida mundo afora, a curadoria selecionou treze “Beach Triptych”, série de trípticos focada em jovens que se exercitam na praia flagrados do calçadão de Ipanema nos anos 1980.
Realizada entre 1967 e 1974, a série “The Course of the Sun” apresenta 25 fotografias feitas a partir do apartamento à beira-mar em Ipanema, onde Alair morava. Usando lentes de longo alcance, ele fotografava rapazes indo e vindo da praia de sunga. A sombra dos corpos se alonga no chão criando uma tensão entre a figura e sua projeção.
Em “Esportes” (1967-1969), Alair fotografa atletas de diversas modalidades esportivas. Esses registros, porém, são muitos diferentes daqueles que normalmente vemos na cobertura esportiva realizada por fotojornalistas. Alheio à competição, o olhar de Alair perscruta os corpos dos rapazes com foco na musculatura, no contorno, no movimento por meio do qual esses corpos bem torneados revelam a perfeição da forma. “Bem-aventurado sou eu, por ter tantas vezes adorado a elevação e a manifestação da via sagrada do mundo na carne dos jovens rapazes”, escreveu Alair em seu diário.
Na sala anexa ao espaço expositivo, por sua vez, estão fragmentos da série “Symphony of Erotic Icons” (1966-1978), realizada no estúdio caseiro do fotógrafo. Não raro, Alair mostrava aos garotos da praia as fotos que realizava furtivamente e os convidava para seu estúdio, onde promovia sessões fotográficas mais íntimas, explorando diferentes ângulos e sombras de seus corpos nus. Chiodetto complementa a série com outra, intitulada “A New Sentimental Journey”, espécie de diário textual-imagético que trata da viagem do artista para a Inglaterra, França, Suíça e Itália em 1969, onde Alair revela seu apreço pela estatuária clássica greco-romana.
Alair de Oliveira Gomes (Valença, RJ 1921 – Rio de Janeiro, RJ 1992)
Nascido em Valença (RJ), Alair de Oliveira Gomes (1921-1992) formou-se em Engenharia Civil e Eletrônica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A partir de 1965, dedicou-se a Fotografia e, ao longo de 26 anos, produziu mais de 170 mil negativos de um trabalho inédito e único com o qual obteve reconhecimento internacional após sua morte.
Alair Gomes também foi criador e coordenador do setor de Fotografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1970, e foi retratado por Luiz Carlos Lacerda no filme “A morte de Narciso” (2003). Um conjunto de suas fotografias foi selecionado para a Bienal de São Paulo, em 2012, e recentemente teve obras incorporadas ao acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA)