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janeiro 18, 2017
Cristina Canale na Nara Roesler, New York
A Galeria Nara Roesler tem o prazer apresentar a primeira exposição de Cristina Canale em sua sede em Nova York, artista que faz parte de seu elenco desde 2003. Em Things and Beings, as 12 pinturas e 10 aquarelas reunidas, concebidas de 1990 a 2016, oferecem um panorama resumido da produção de uma das mais importantes pintoras contemporâneas brasileiras.
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Egressa de uma emblemática geração no Brasil que retomou a pintura no início da década de 1980, Cristina Canale manteve-se ao longo de toda sua carreira coerente à sua essência de pintora, mesmo vivendo na Alemanha desde 1993, quando a força de outros suportes como instalação vídeo e fotos predominavam no ambiente artístico.
Estes trabalhos, indicadores de mais de duas décadas de produção, revelam o virtuosismo de uma pintura sublinhada por complexas composições, ora com planos inchados e variáveis espessuras de camadas de tinta, ora com soluções liquefeitas. Em suas telas e desenhos, narrativas aparentemente triviais, construídas a partir de particular figuração, estão sempre prestes a se dissolver em abstração.
Segundo a artista, alguns aspectos influenciaram a sua obra: a paisagem sinuosa e de grande profundidade do Rio de Janeiro, o convívio com as curvas modernistas de Oscar Niemeyer na cidade carioca, o contato com a natureza (paisagem tropical) e o confronto do geometrismo presente na arquitetura, na programação visual e na arte no Brasil, em especial no Rio de Janeiro. “Este coquetel de visualidade tem muito a ver com o meu trabalho, enquanto a minha presença na Alemanha se explica dentro do meu interesse pela tradição da pintura e no contexto de sua retoma na década de 80”, afirma Canale.
Com imagens reveladas, ou veladas, pois, como disse certa vez o crítico Tiago Mesquita, “as suas figuras parecem imagens encontradas nos movimentos das nuvens ou nos contornos das ondas deixadas a beira mar”, Canale encontra seu arsenal poético em cenas cotidianas, domésticas, compostas por pessoas, mulheres, bichos, coisas e natureza. Em Things and Beings (Ser e as coisas), ao trazer seu variado vocabulário pictórico, é possível perceber uma afetividade latente a percorrer a materialidade dos objetos, os pequenos gestos, as paisagens, os seres retratados, as atmosferas cênicas.
Conforme a crítica Luisa Duarte, passados trinta anos do início da trajetória da artista, essa tensão que visa desconstruir uma vontade de ordem e perenidade - ou melhor, escolhe habitar um espaço ‘entre’, que transita pela abstração, as linhas e a evocação de figuras, tudo isso em grandes manchas de cor - é vista em cada uma das obras de Things and Beings (Ser e as Coisas), doando uma coesão aguda para a exposição como um todo. “Suas casas são triângulos, as flores são linhas, um chapéu desmancha-se até tornar-se pura massa de cor, o cabelo torna-se círculos e cones. É assim, deixando que um vocabulário prosaico da vida comezinha apareça erigido sob formas abstratas que essas pinturas se infiltram na cesura entre Ser e coisa, entre o que é perene e o que é transitivo. Essa obra escolhe entrelaçar de maneira conflituosa, pois é justamente no curto-circuito que reside a sua potência, o que é do mundo, o que passa, o que é próximo e o que é pura abstração.”, completa a crítica brasileira.
Galeria Nara Roesler is pleased to present the premier exhibition of Cristina Canale in our New York venue, an artist who’s been part of our program since 2003. Things and Beings features 12 paintings and 10 watercolors, dating from 1990 through 2016, and providing a summarized overview of the output of one of Brazil’s foremost contemporary painters.
Coming up in an emblematic Brazilian painting revivalist generation in the early 1980’s, Cristina Canale remained true to her painter roots throughout her career, despite the fact that she lived in Germany from 1993 onwards, in a time when the power of other mediums, such as installation, video, and photograph dominated the art scene.
Spanning over two decades, these artworks reveal the virtuosity of a style underpinned by complex compositions, at times featuring swollen planes and paint layers of varying thicknesses, and at others liquefied solutions. In her canvases and drawings, deceptively trivial narratives built upon a unique figuration, are invariably a step away from melting down into abstraction.
According to the artist, a number of elements have informed her work: Rio de Janeiro’s curvy, depth-filled landscape and Oscar Niemeyer’s modernist curves, contact with nature (the tropical landscape), and the confrontation of the geometrism featured in Brazil’s – and especially Rio’s – architecture, visual program, and art. “This amalgamation of visuality has a lot to do with my work, whereas my presence in Germany is explained through my interest in the tradition of painting, and the context of its revival in the 80s,” says Canale.
With images revealed, or overexposed – for as critic Tiago Mesquita once put it, “her pictures look like images found in the motion of clouds or in the outlines left by waves in the sand” – Canale culls her poetic arsenal from day-to-day, domestic scenes composed of people, women, animals, things, and nature. Things and Beings showcases her wide-ranging pictorial vocabulary, revealing a latent affectivity that underlies the materiality of the objects, the little gestures, the landscapes, the beings that are portrayed, the scenic atmospheres.
According to the critic Luisa Duarte, 30 years into the artist’s career, this tension that sets out to deconstruct a will for order and perenniality – or better yet chooses to inhabit an ‘”in between” space that straddles abstraction, lines, and the evocation of figures, all interspersed with big blots of color – is seen in each and every one of the artworks in Things and Beings, rendering the entire show utterly cohesive throughout. “Her houses are triangles, her flowers are lines, a hat dissolves into a pure mass of color, hair turns to circles and cones. And thus, by allowing an unglamorous vocabulary from run-of-the-mill living to stand tall amid abstract shapes, these paintings infiltrate the gap between Being and thing, between what’s perennial and what’s transient. This oeuvre chooses to conflictingly intertwine – for it is exactly in the short-circuit that its potency resides, what’s worldly – what’s fleeting, what’s near, and what’s sheer abstraction”, the Brazilian critic argues.