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novembro 24, 2016

Impressões na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro

A Mul.ti.plo Espaço Arte exibe trabalhos criados no laboratório de gravuras da Uerj por Cristina Salgado, Inês Araújo, Malu Fatorelli e Regina de Paula

Impressões é o nome da exposição das artistas Cristina Salgado, Inês de Araújo, Malu Fatorelli e Regina de Paula que a Múltiplo Espaço Arte promove, de 23 de novembro a 10 de dezembro. Impressões é também um desdobramento de propostas desenvolvidas no laboratório de gravura da mesma instituição. O projeto, concebido por Inês de Araujo, recebeu o apoio da Faperj e teve como desafio, para além da reabilitação dos aspectos físicos e materiais do atelier de gravura, criar condições para a prática experimental da pesquisa em arte na universidade pública.

“Este trabalho é voltado para a poesia e não para o mercado. Resolvemos abrir o nosso espaço para que possa ter outro tipo de leitura, ser visitado por outros olhares, ganhando uma escala pública”, diz Maneco Muller, consultor da Mul.ti.plo.

São ao todo 26 obras, incluindo gravuras, cadernos, objetos, desenhos, vídeo e colagem. As artistas - professoras do Instituto de Artes da Uerj - desenvolveram suas pesquisas artísticas no laboratório de gravura. O trabalho de Malu Fatorelli ativa conexões entre arte e arquitetura e remete a sua sólida experiência com esse meio que pratica desde os anos oitenta, quando frequentou a Scuola Internacional de Gráfica de Veneza. Para Inês Araújo a questão gráfica também é tema de destaque em suas séries de trabalhos com desenhos e videos. Cristina Salgado e Regina de Paula lidam com questões da imagem e o uso que fazem dos procedimentos de gravura, atualizando aspectos próprios a suas poéticas. Enquanto Cristina Salgado e Malu Fatorelli agregam objetos a suas impressões, Regina de Paula realiza matrizes com areia, material presente em muitas de suas obras e Inês Araújo explora o traço em repetições e deslocamentos de gestos e seus intervalos.

Além das gravuras, todas apresentam trabalhos em técnicas diversas que dialogam com esta produção. O conjunto abrange obras com processos de impressão e outras que oferecem o substrato poético e conceitual desses trabalhos. Ao todo a exposição reúne cerca de 26 obras das quarto artistas, incluindo gravuras, cadernos, objetos, desenhos, vídeo e colagem.

“A gravura envolve duração, um labor processual que pode ser pensado como uma quase-metáfora de resistência à efemeridade e aceleração de nosso tempo”, diz Regina de Paula. “O trabalho na Múltiplo atravessa os limites do espaço do ateliê universitário e afirma a vitalidade e a heterogeneidade da produção contemporânea, partilhada por quatro artistas com sólida trajetória e exposições no Brasil e no exterior”, complementa.

TRABALHOS

Inês Araújo trabalha a partir da ideia de escrituras do cotidiano, e apresentará seis gravuras em ponta seca da "série rolo, 1, 2013/2016", o video Caderno sem desenho, 2’00, 2016, e aproximadamente seis trabalhos da série Cadernos de desenho, que desenvolve desde 2011 e que foram o ponto de partida para as gravuras.

Regina de Paula realizou no início do ano uma grande individual no Paço Imperial protagonizada por fotografias e vídeos de performances em que a Bíblia Sagrada é manipulada. Ao problematizar questões religiosas, especificamente a evangelização, trouxe a paisagem bíblica para o Rio de Janeiro. As gravuras apresentadas, da série Divido está, são um desdobramentos desta exposição. Serão cerca de oito gravuras em relevo seco, uma bíblia (Dividido), colagem com recortes de uma Bíblia sobre linho (série Marajoara) e fotografia de uma ação realizada numa praia do Rio de Janeiro.

Malu Fatorelli mostra uma série de monogravuras construídas a partir da imagem litográfica de uma cadeira. Um objeto de memória afetiva que habita seu atelier e nesta série de trabalhos constitui uma referência para pensar relações com a arte. O título das obras como Cadeira para Francis Bacon evidencia as questões. São imagens litográficas com interferências de têmperas e outros materiais, alé, de desenhos com fios de cobre e relevo seco.

Cristina Salgado apresenta quatro trabalhos da série Eus e mins. O uso dos recortes de cartão paraná utilizados na série Multidões (1992), que foram entintados para produzir as impressões – e em alguns casos, literalmente presos aos trabalhos – está na origem da imagem desse trabalho. Os tecidos emborrachados e pelúcias, presentes em sua produção desde Mulheres em dobras (2006), e os parafusos, utilizados desde as obras em ferro Meninas (1993) e Humanoinumano (1995), estão em Eus e mins, agregados ao papel de modo quase escultórico, reafirmando um campo simbólico e um antropomorfismo que expande seus recursos de dessemelhança das realidades imediatas. Serão mostradas também duas obras da série Multidões (1992) e duas obras de Mulheres em dobras(2004).

BIOGRAFIAS

Cristina Salgado expõe desde 1980. Entre as principais coletivas estão Situações Brasília 2014 (Prêmio de Arte Contemporânea, Prêmio de Aquisição), Museu Nacional do Conjunto Cultural da República-Brasília; O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, Itaú Cultural, São Paulo, 2005. As individuais, mais recentes são No interior do tempo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2015/2016; A mãe contempla o mar, Galeria Marsiaj Tempo, Rio de Janeiro, 2014 e Ver para olhar, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2012. Publicou com Glória Ferreira Cristina Salgado, Rio de Janeiro: Barléu, 2015. Estudos na EAV/Parque Lage-RJ, 1977-78. Doutora em artes visuais pela EBA/UFRJ. É professora no Instituto de Artes/Uerj.

Inês de Araujo desenvolve experiências com desenho e com vídeo pontuando marcas e intervalos de uma escritura do cotidiano. Doutora em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ é professora adjunta do departamento de Linguagens Artísticas do Instituto de Artes da Uerj. Desde os anos oitenta participa de mostras no Brasil e no Exterior. Expôs individualmente na Galerie Gauche, École Nationale de Beaux Arts, Paris; Centro Cultural São Paulo; Museu da Republica, Rio de Janeiro; RioArte, Rio de Janeiro. Recentemente participou das exposições coletivas Contato, Galeria Cândido Portinari, 2015, e Videodiverso, Galeria Gustavo Schnoor, 2016. Alguns de seus trabalhos podem ser vistos no site “Pesquisas Artísticas Recentes”, Projeto Subsolo, Secretaria da Cultura do Rio de Janeiro.

Malu Fatorelli estabelece conexões entre arte e arquitetura tornando evidente um campo conceitual que habita imagens estrategicamente construídas em diferentes meios. Expôs no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Sprengel Museum de Hanover, Alemanha; Galeria Segno Gráfico, Itália; na Casa de Cultura Laura Alvim, RJ entre outros. Figura em coleções públicas como o Gabinete de Gravura da Biblioteca Nacional de Paris; o Museu Nacional de Belas Artes, RJ; o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Doutora em artes visuais pela EBA/UFRJ. É professora no Instituto de Artes/Uerj. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Regina de Paula realizou sua primeira individual em 1990, na Columbia University, enquanto fazia mestrado na mesma instituição. Suas individuais mais recentes são Diante dos olhos, os gestos, que ocupou todo o primeiro andar do Paço Imperial (2016), E fiquei de pé sobre a areia (2014) e Tratado elementar de arquitetura (2012), ambas na Galeria Mercedes Viegas. Foi artista residente do Centre d’Art Passerelle em Brest, França (2005), e indicada para o Prêmio Pipa (2011). Recentemente participou das coletivas Coleção Joaquim Paiva, no MAM do Rio de Janeiro e Ao amor do público, no MAR Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro. Em 2015 participou da Bienal do Mercosul e recentemente lançou o livro Regina de Paula: Sobre a areia com Marcelo Campos. Doutora em artes visuais pela EBA/UFRJ. É professora no Instituto de Artes/Uerj.

Posted by Patricia Canetti at 12:10 PM