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novembro 18, 2016
Bel Barcellos + Rodrigo Mogiz no Arte k2o, Brasília
As duas mostras individuais que inauguram simultaneamente abordam a delicadeza do desenho bordado em diálogo com a subjetividade das relações humanas. Ambas com curadoria de Isabel Sanson Portella, curadora do Museu da República no Rio de Janeiro.
Como somos, da artista carioca Bel Barcellos e Seres significantes, do artista mineiro Rodrigo Mogiz, apresentam produção recente destes dois artistas em ascensão, que tem em comum o uso da técnica do bordado em diferentes tipos de tecido e outras superfícies, explorando diversas possibilidades conceituais e estéticas da tradição da costura.
Integrando o evento no Gabinete de Arte k2o, os projetos MURO e VITRINE apresentam o artista candango Julio Cesar Lopes, que apresentará um grande painel a ser concluído em interatividade com o público.
A curadora carioca Isabel Sanson Portella destaca que Bel Barcellos traz em sua obra as delicadezas da vida, as entre linhas das relações. No desenho bordado, o olhar para o outro, a percepção das igualdades e diferenças, as palavras ditas e as guardadas. O confronto do silencio eloquente e da imobilidade repleta de gestos, cria a vontade de interferir e, nas entre linhas, escrever nosso próprio texto. Como num jogo de tabuleiro, as escolhas se impõem, e os momentos de escuridão se alternam com a leveza e a paz da claridade.
"Bel Barcellos reuniu obras que são bem mais do que divagações sobre a condição humana. Em todas há uma reflexão silenciosa sobre o cotidiano do ser moderno que enfrenta o difícil relacionamento com o outro. Abrigado ou aprisionado numa sociedade individualista, o homem tenta expressar suas aspirações e anseios em pequenos gestos de forma a não submergir na imensa multidão que o cerca. Foram esses momentos, tão reveladores do humano em nossos dias, que Bel captou com sua sensibilidade, transformou em arte e sempre irá emocionar a quem quiser seguir os pontos de seus bordados”.
Sobre a poética de Rodrigo Mogiz, ela comenta que “Como as imagens dos sonhos que precisam ser decifradas e não decodificadas, também a arte de Rodrigo Mogiz precisa de um olhar mais profundo para que se apreenda tudo, ou quase tudo, o que o artista nos oferece. A associação do bordado com a tatuagem, utilizada com intensidade em seus últimos trabalhos, insere-se no discurso da beleza e da dor. A dor de perfurar o tecido e a pele buscando a beleza, procurando deixar uma marca que signifique a individualidade. Os desenhos de Mogiz, criados com linhas, miçangas, pérolas e tintas, nasceram do desejo de discutir o artesanal e o erudito, desvendar signos procurando novos significados pessoais para os símbolos. São tantas as figuras e as possíveis associações que o expectador poderia ficar um tempo infinito diante dos trabalhos que encantam pela delicadeza do bordado e prendem a atenção pela diversidade, intensidade e ousadia dos temas.”
Bel Barcellos nasceu em Boston, formou-se artes cênicas no Rio de Janeiro e tornou-se Mestra artes cênicas, com louvor, pela University of Hull, Inglaterra. A obra de Bel Barcellos tem a figura humana e suas dualidades como o ponto de partida de suas pesquisas, porém, não é somente este o cerne do seu trabalho. Seu universo remete à um complexo território particular onde, através das linhas bordadas, surgem os limites, as escolhas, a divisão dos afetos, as nuances das relações humanas, o limiar entre sonho e realidade. Participa de mostras em museus e centros culturais e de feiras de arte no Brasil e no exterior, tem obras em várias coleções privadas e públicas, nacionais e internacionais, inclusive no MAR- Museu de Arte do Rio e na CIFO - Fundação Ella Cisneros, em Miami.
Rodrigo Mogiz vive e trabalha em BH. Bacharel em Pintura e Desenho pela Escola de Belas-Artes da UFMG, também realiza curadorias, performances e trabalhos comunitários. Sua obra autoral aborda poéticas que transitam entre o desenho, a pintura e o bordado, utilizando também aplicação de miçangas, rendas e alfinetes.Suas obras criam narrativas muito poéticas e delicadas, que exalam grande força e um extremo rigor criativo. Desde 2000, participa de exposições individuais e coletivas, salões e festivais em todo o Brasil, em instituições públicas e privadas. Entre os prêmios recebidos, destacam-se: I Salão Cataguases-Usiminas de Artes Visuais – (2004), Prêmio CNI-SESI Marcantônio Vilaça para Artes-Plásticas (2009/2010) e Prêmio TRANSARTE (2015).