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novembro 18, 2016
Uma Canção para o Rio na Carpintaria, Rio de Janeiro
Coletiva com curadoria da célebre dupla Fogle e Skerath reúne artistas de vários países e inaugura o espaço da Carpintaria
A escolha de trabalhar a relação entre as artes visuais e a música na exposição inaugural do novo espaço da Carpintaria ocorreu de forma quase natural. Trata-se de uma ideia que já vinha sendo acalentada pelos galeristas e cai como uma luva nos planos arquitetados para o novo espaço carioca, que tem como principal vocação ser um lugar de diálogo entre diferentes meios de expressão artística, entre artistas de diferentes procedências e gerações.
“Talvez a música seja a mais abrangente das expressões artísticas, a coisa mais poderosa, com muitos públicos diferentes; um tipo de expressão livre do excesso de codificação, de auto-referência que vemos nas artes visuais”, analisa Alexandre Gabriel. Alessandra d’Aloia também lembra que no Brasil, e no Rio de maneira ainda mais forte, a questão da musicalidade é muito intensa.
Com o auxílio de Douglas Fogle e Hanneke Skerath, curadores independentes de Los Angeles, foram selecionados trabalhos de mais de 20 artistas ou grupos, que exploram as relações concretas ou simbólicas entre o som e a forma. O leque é amplo e inclui desde nomes muito conhecidos do público brasileiro, como Nuno Ramos, Jac Leirner e Ernesto Neto, a artistas que ainda estão sendo descobertos na cena nacional e internacional.
A exposição não pretende criar uma tese sobre a relação arte e música nem se baseia em regras estritas na seleção dos artistas. O conjunto se constrói pela justaposição de vozes dissonantes. “Cada um desses artistas investiga as conexões entre a música e as maneiras que ela tem de configurar nossas memórias pessoais e coletivas”, explicam Fogle e Skerath no texto de apresentação.
É possível dividir os trabalhos em dois grandes blocos: de um lado estão aquelas produções que pertencem ao campo musical, fazem referência direta ao meio, produzem música e não estão falando sobre ela nem sobre seu universo. É o caso, por exemplo, da obra do galês Cerith Wyn Evans, que expõe uma escultura de vidro que flutua no espaço e remete a uma flauta que toca comandada por um sistema eletroacústico; ou do violão com várias caixas de som inseridas em seu corpo, criado pelo grupo cubano Los Carpinteros, que produz uma verdadeira cacofonia quando ativado.
Em outro grupo estão as obras que trabalham com a memória, com a formação da identidade através da música, como por exemplo a releitura feita por Rivane Neuenswander a partir das capas de discos de Chico Buarque dos anos 1960 e 1970, que apesar da redução de informações visuais realizada pela artista evocam diretamente a memória afetiva do espectador.
Uma das atrações internacionais da mostra é Bruce Conner (1933 – 2008), artista americano que trabalhou com diversas linguagens, tinha uma forte relação com a contracultura e estará presente com um conjunto de fotografias que retratam a cena punk dos anos 1970 nos EUA. Conner também vem sendo redescoberto em seu próprio país: o MoMA acaba de lhe dedicar a primeira retrospectiva completa de sua obra, e a sua primeira em um museu de Nova York. Caso também do britânico Mark Leckey (1964 -), que ganha em outubro, no MoMA PS1, a maior retrospectiva de sua carreira.
A mostra também promove, pelo lado brasileiro, o resgate da obra de Paulo Garcez (1945 - 1989), artista multimídia que aproxima desenho e escrita, bem como toda a representação gráfica da música. E chama ainda a atenção para o trabalho cheio de frescor de duas jovens artistas em ascensão, a brasiliense (residente em Recife) Barbara Wagner e a paulistana (radicada no Rio) Vivian Caccuri, ambas com participações de destaque na atual Bienal de SP.
Uma Canção para o Rio se desdobrará em dois tempos, ficando em cartaz até dia 1o de abril de 2017.