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novembro 16, 2016
Marcos Chaves na Nara Roesler, São Paulo
A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Perambulante, quarta exposição individual de Marcos Chaves em seu espaço paulistano, com curadoria de Luisa Duarte. A mostra reúne 27 fotos feitas entre 1996 e 2016, além de três vídeos produzidos em 2016.
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O título descreve uma caminhada tranquila e sem rumo pelas cidades, crônicas fotográficas da vida cotidiana vista pelas lentes do artista, que retira objetos banais do contexto lógico, substituindo-o por associações mentais relacionadas ao humor e ao acaso. As obras de Marcos Chaves se revelam por dimensões distintas. Pela objetividade explícita, como fonte primária de trabalho estético, que posteriormente sofre uma metamorfose e torna-se mais implícito, pelo contexto puro e simples ou pelo contexto fornecido pelas palavras aliadas a imagens, objetos e fotos. Os objetos escolhidos são sempre familiares, ocultos em alianças incomuns, e o autor utiliza o mundo cotidiano como contraponto aos clichês discursivos sobre vida e arte para que o público possa criar uma narrativa original.
Marcos usa também o humor como catalisador de seu trabalho, recorrendo a registros visuais diversos para criticar a cegueira com que se veem as coisas corriqueiras sob a influência das convenções socioculturais. Para ele, o processo de criação de uma obra de arte pode consistir em retirar um objeto comum de seu ambiente funcional, combiná-lo com outros objetos, contextos ou referências e então apresentá-lo com legendas diferentes das que se esperaria para ele.
Segundo Luisa Duarte, pode-se afirmar que a bussola da obra do artista é o desvio, e através da apropriação ou da intervenção, Marcos Chaves desloca significados correntes, banais, gerando a aparição de sentidos antes inauditos. “Trata-se do olhar agudo que se descola do habitual, reflete e produz o novo na linguagem, tendo como motor um misto contundente de humor e ironia. A escolha por estes recursos não é casual, e sim consistente, pois os mesmos são portadores de um alto grau de potência desviante: o humor e a ironia são dispositivos que acertam o alvo pelo caminho menos óbvio”.
Em Perambulante a curadora lembra também uma passagem de Drummond, segundo a qual as palavras estariam todas, em um primeiro momento, em “estado de dicionário”. O que o poeta faz é retirá-las desse estado primeiro, mudo, e combiná-las de tal forma que, juntas, se tornem poesia. “Perambulante pode ser vista como um só e grande movimento de articulação que retira os entes mais prosaicos da vida urbana de seu ‘estado de dicionário’. O trabalho de Marcos Chaves nos recorda assim o gesto singular do olhar, cada vez mais obliterado pelo excesso de imagens e informações. Contra o embotamento causado pelo hábito sua obra constitui-se em um poderoso antídoto”.
Esta mostra se desdobrará em outra que ocorrerá na sede da galeria em Nova York, a partir do dia 29 de fevereiro de 2017.
Marcos Chaves (n. 1961, Rio de Janeiro, Brasil) vive no Rio de Janeiro. Chaves começou sua carreira artística no início de 1960 e como um artista conceitual, suas fotografias, videos, assemblages e instalações de grande escala, transformam experiencias e materiais cotidianas negligenciados em objetos de arte. Seus trabalhos paródicos e espirituosos usam o humor para obscurecer uma sensibilidade trágica e poética. “O humor abre caminhos. Às vezes você pode rir de alguma coisa, mas pode não ser algo tão engraçado. O humor pode nos fazer parar e pensar”. Chaves sobrepõe o texto a fotografias, documenta suas próprias intervenções artísticas em fotografias e vídeos, e instala objetos “não-arte” pré-existentes em contextos artísticos de uma maneira que lembra Marcel Duchamp. Em seu trabalho Academia, o artista criou uma academia a céu aberto onde pessoas da cidade do Rio de Janeiro podiam usar os objetos da exposição para se exercitar. A instalação incluía cimento, tubos de ferro, madeira e varas. O próprio título é um trocadilho com a importância do samba e das academias na vida cotidiana dos Cariocas. Exposições recentes incluem: ARBOLABOR (Centro de Arte de la Caja de Burgos, Espanha, 2015); Academia (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brasil, 2014); Narciso (Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); I only have eyes for you (Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Pieces (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2011).Participou da 1a e da 5a edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (1997 e 2005), todas no Brasil. Da 17a Bienal de Cerveira, em Portugal (2013), e da 54a Bienal de Veneza, Itália (2011), entre outras.
Galeria Nara Roesler | São Paulo is pleased to present Perambulante, Marcos Chaves’ fourth solo show in the São Paulo venue, curated by Luisa Duarte. The exhibition features 27 photographs taken between 1996 and 2016, and three videos from 2016.
The show’s title describes an aimless, idle stroll through the city, photo chronicles of everyday life seen through the lenses of the artist’s camera, from which he extracts common objects from their logical context and replaces them with mental associations of humor and chance. Marcos Chaves’ works reveal themselves in different dimensions. Through explicit objectivity, as a first source of aesthetic work, afterwards metamorphosed, then made more implicit, through context or the given context of words that he allies to images, objects, and photographs. His object choices are always familiar, concealed in unusual alliances, and he uses the everyday world as a counterpoint to the trite discourses about life and art for the audience to create a unique narrative.
Chaves also employs humor as a catalyst for his works, drawing from a variety of visual registers to criticize the blindness with which ordinary things are seen with the influence of social-cultural conventions. The process of creating a work of art for him may be to take a common object out of its functional environment, combine it with other objects or context or references and then present it with captions different from what the object would usually appear with.
According to Luisa Duarte, one could claim that the guiding compass to the artist’s work is deviation, and through appropriation or intervention, Marcos Chaves dislocates current, commonplace significance, causing previously-unheard-of meanings to surface. “It is about the sharp gaze that departs from the habitual, reflects and produces the new in language, driven by a piercing mix of humor and irony. That choice of resources is not casual, but consistent, since they carry a high degree of deviant potency: humor and irony are devices that hit the target through the least obvious path.”
In discussing Perambulante, the curator also recalls an excerpt from Drummond, according to whom all words are, at first, in their “dictionary state.” What the poet does is withdraw them from that mute initial status and combine them in such a way that, together, they become poetry. “Perambulante can be seen as one big movement of articulation that pulls the more prosaic entities of urban living out of their ‘dictionary state.’ In doing so, Marcos Chaves’ work reminds us of the unique gesture of the eye, more and more obliterated by the image and information overload. Against the dulling caused by habit, his oeuvre constitutes a powerful antidote.”
The exhibition will unfold into another one, at the gallery’s New York venue, opening on February 29, 2017.