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novembro 11, 2016
Elyeser Szturm no CCBB, Brasília
Exposição revela ao público series inéditas de monotipias e esculturas de Elyeser Szturm
Após nove anos sem realizar exposições individuais em Brasília, o artista Elyeser Szturm apresenta ao público um recorte inédito de sua pesquisa mais recente. São monotipias em silicone e esculturas em pedra-sabão, resultado de anos de investigação poética e de uso de novas técnicas. A exposição Céus e Nós ocupa a Galeria 3 do CCBB Brasília, de 15 de novembro de 2016 a 8 de janeiro de 2017. A programação em torno da mostra conta com visitas orientadas pelo artista, assim como com monitores para estudantes e conversas com artistas, curadores, críticos, historiadores de arte, galeristas e produtores, em datas que ainda serão divulgadas. Além disso, estarão disponíveis aos visitantes recursos de acessibilidade, como visitas guiadas por intérprete de libras e audiodescrição de obras da exposição.
Com mais de 40 anos de carreira, marcada pela experimentação poética de suportes e procedimentos artísticos, nas séries “Céus e Nós” Elyeser questiona os limites da pintura e da escultura. “O artista deve estar atento à técnica, mas esta deve estar submetida aos ditames da linguagem, da expressão poética”, afirma. Formada por mais de 20 peças, entre obras pictóricas e tridimensionais, a exposição lança ao público a pergunta: é possível ser lírico ainda hoje?
A série Céus apresenta monotipias em silicone criadas a partir de 2013 que exploram o lirismo da cor azul e foram inspiradas nos tetos estrelados das capelas italianas góticas e pré-renascentistas, como as pintadas por Giotto na capela Scrovegni, por exemplo. São películas de silicone produzidas por um método criado por Elyeser a partir de suas investigações pictóricas. O artista prepara uma parede, com reboco feito de cal e pigmentos azuis. Depois de talhar o reboco e fazer as incisões que remetem a estrelas e nuvens, ele aplica uma camada de silicone que ao ser retirada traz impressas as texturas, relevos e cores da superfície parietal.
“Desde 1997 venho realizando trabalhos que giram em torno destas interrogações. Essas películas de silicone são espalhadas sobre superfícies porosas o suficiente para que se possa arrancá-las”, conta o artista. “Um dia, passei silicone em cima de um cupinzeiro para preparar um molde. Quando retirei, vi que saiu uma pele, a textura do cupinzeiro inteiro e achei interessante”. A partir de então, Elyeser passou a produzir suas peles de silicone aplicando o material em muros de casas antigas, de cidades como Goiás Velho e Pirenópolis.
Na produção das obras da série Céus, o artista passou a ter mais controle sobre o resultado do processo, preparando ele mesmo o reboco da parede e utilizando procedimentos da técnica de afresco. O resultado traz ao público esse diálogo que “remete a uma tradição muito forte na História da Pintura, que é o estudo de céus e nuvens” explica Elyeser, citando artistas como Giotto, J.M.W. Turner, John Constable, Courbet e os impressionistas, entre outros.
Já a série Nós aponta para um outro caminho na carreira de Elyeser, a escultura. “Já havia produzido objetos tridimensionais, mas é a primeira vez que apresento obras talhadas”, explica. O material escolhido, pedra-sabão, remete também à religiosidade, e tem como referência a arte colonial brasileira, o barroco mineiro e a obra de Aleijadinho.
Enquanto a série Céus aponta para a verticalidade e a ascensão, as esculturas da série Nós, talhadas em pesadas pedras-sabão, fazem o público olhar para o chão. Segundo o artista, “são peças sem pedestal, que a contrário da escultura pré-moderna, não tem a pretensão de vencer a gravidade”. Querem ser uma intervenção na paisagem. Agrupadas em 6 núcleos de peças, as esculturas muitas vezes sugerem a forma de nuvens, estabelecendo relações com as monotipias e criando um jogo lírico entre pesado e leve, alto e baixo, céu e chão. Entre o que está no céus e o que está no chão. Céus e nós.
Elyeser Szturm participa de salões e exposições desde 1974. Nasceu em Goiânia e vive em Brasília desde 1994, onde leciona no Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Viveu em Paris de 1989 a 1994, onde fez doutorado em Artes Visuais na Université de Paris VIII a Saint Denis e participou de salões como o Jeune Peinture, realizando individual na Galerie du Haut Pavé em 1992. Ganhou o Prêmio de Viagem ao Exterior do XVI Salão Nacional da Funarte em 1998 e o VII Salão da Bahia em 2000. Participou da Bienal 50 Anos, Brasília, Ruína e Utopia, Território Expandido 3 e Faxinal das Artes, entre outras. Foi pesquisador do CNPq de 1998 a 2010. Experiência poética e existencial do lugar talvez pudessem sintetizar sua busca.