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setembro 7, 2016
Luiz Braga no MEP, Belém
Luiz Braga apresenta recorte inédito de sua produção em curadoria de Diógenes Moura
Com mais de 100 imagens inéditas, o fotógrafo Luiz Braga apresenta a partir do próximo dia 10 de setembro a exposição Retumbante Natureza Humanizada, com curadoria de Diógenes Moura, no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém. São fotografias selecionadas de seu arquivo, realizadas entre 1976 e 2014, e que mostram a unidade e a essência da sua produção, a partir de retratos do homem da Amazônia. A abertura ocorrerá às 10h, com entrada gratuita, e terá visita guiada com artista e curador. A mostra é uma realização do Governo do Estado do Pará e da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e se estenderá até 17 de novembro com palestras, jantar, um passeio pela Cidade Velha, leitura de portfolio, exibição de filmes e lançamento de catálogo.
Não se trata de uma retrospectiva da carreira de Braga, mas da seleção de obras que apresentam no espectro do tempo o percurso do olhar do artista, sejam elas em preto e branco, como a maioria do início de sua trajetória; sejam as coloridas, com as quais se tornou conhecido, ou mesmo as feitas pela técnica nigthvision, com imagens sobretudo esverdeadas. “O mais interessante dessa exposição é que as pessoas vão poder verificar um jogo em que as fotografias parecem ter sido realizadas no mesmo dia, mas por vezes têm diferença de 30 anos. Isso revela uma característica da minha obra, que se expande e retorna. São ciclos dentro do mesmo território criativo e afetivo e é o homem amazônico que se destaca, seja pela forma como modifica o lugar ou como protagoniza a imagem”, analisa Luiz Braga.
A exposição já foi montada em 2014, no Sesc Pinheiros, e recebeu o prêmio de melhor exposição de fotografia daquele ano pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte. Para esta mostra, o curador destaca que a montagem vai dialogar com o próprio espaço expositivo, de forma simples e sofisticada. “Pequenas aglomerações de retratos e cenas da vida cotidiana, onde estarão o corpo e a alma do povo paraense, a luz flutuante que está em todas as imagens”, ressalta Diógenes Moura, informando ainda que um espaço apresentará a obra do artista com documentos, livros, catálogos, cartas, fotografias de época, contatos.
Em outra sala especial, ocorrerá a exibição de filmes e livros que inspiraram o fotógrafo em sua trajetória, numa maneira didática de apresentar o artista para um público mais jovem - no ano em que ele completa 40 de carreira e 60 de vida. O nome da mostra é uma referência a um texto do professor e poeta João de Jesus Paes Loureiro e que reflete a sua trajetória por meio das imagens realizadas ao longo de sua carreira.
A recente imersão na Ilha de Marajó, após o fotógrafo não sentir-se mais seguro na capital paraense para fotografar como um flâneur, também terá destaque. As andanças pela Estrada Nova, atual Bernardo Sayão, onde costumava fotografar frequentemente, por exemplo, foram substituídas pelas cidades do arquipelágo – o qual Luiz Braga considera um novo território de afeto. E é afeto também que sua obra fala, quando relembra da sua relação com as pessoas as quais fotografou e sobre os processos de produção fotográfica.
“Sempre fui uma pessoa muito de andar pela cidade e observar, o meu trabalho é fruto dessa observação e tem tanto a cidade e o centro histórico, quanto a paisagem ribeirinha. Eu tenho chamego pela cidade cabocla, enxergo neste cenário muita sabedoria, que não depende de cânones europeus e vem da vivência do caboclo. Cedo aprendi a valorizar isso, o caboclo, a caboquice, que não é juízo de valor, mas o que nos diferencia do resto do mundo globalizado. Enxerguei isso muito tempo atrás, nos anos 1980”, revela.
Programação
Setembro
10/09 - Abertura, 10h, com visita guiada de Luiz e Diógenes
14/09 - Programa Roda da Memória, 19h30, no MEP
16/09 - Jantar Harmonizado no Remanso do Bosque, com Thiago Castanho
18/09 - Visita guiada pela Cidade Velha, com Michel Pinho
Outubro
13/10 - Palestra Ernani Chaves, 19h30, sobre Retrato.
20/10 - Leitura Poética de João de Jeus Paes Loureiro e música de Salomão Habib, às 10h30, na Capela do MEP. (35 pessoas)
23/10 - Leitura de Portfólio, com Luiz Braga e Paula Sampaio – Programação do Circular Campina - Cidade Velha
27/10 - Palestra de Alexandre Sequeira, 19h30, no MEP
Novembro
11/11- Lançamento do catálogo e fala do Luiz e Rosely Nakagawa, no MEP.
16/11- Palestra de Tereza Siza e lançamento do livro, no MEP.
Luiz Braga nasceu em 1956, em Belém (Pará), onde vive e trabalha. O seu primeiro contato com a fotografia foi aos 11 anos. Em 1975, montou seu primeiro estúdio para trabalhar com retratos, ao mesmo tempo em que ingressava na Faculdade de Arquitetura da UFPA, onde se graduou em 1983, embora nunca tenha trabalhado como arquiteto. Até 1981, fotografava principalmente em preto e branco. Suas primeiras exposições, em 1979 e 1980, eram compostas de cenas de dança, nus, arquitetura e retratos. Após essa fase, descobriu as cores vibrantes da visualidade popular amazônica e, convidado pela Funarte, viajou pela região aprofundando o ensaio que seria exibido sob o título “No Olho da Rua” (Centro Cultural São Paulo, 1984), considerado o primeiro passo de seu amadurecimento autoral.
Em “A Margem do Olhar” (1985 a 1987) retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando com dignidade o caboclo amazônico em seu ambiente. Exibido nacionalmente em 1988, esse ensaio rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez conferido pelo Instituto Nacional da Fotografia. O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades pictóricas extraídas do confronto entre a luz natural e as múltiplas fontes de luz dos barcos, parques e bares populares resultam no ensaio “Anos Luz”, premiado em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da Boston University e exibido no Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 1992. Uma de suas características é o enfoque, que passa ao largo das visões estereotipadas e superficiais sobre a Amazônia. A outra é o domínio da cor, com a qual passou a ser referência na fotografia brasileira contemporânea.
Realizou mais de 200 exposições entre individuais e coletivas no Brasil e no exterior, e suas fotografias compõem coleções públicas e privadas importantes, como a do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Centro Português de Fotografia, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. Em 2005, comemorou 30 anos de carreira abordando os diversos segmentos de sua obra na mostra Retratos Amazônicos, no MAM/SP, e na exposição Arraial da Luz, a maior de sua carreira, montada ao ar livre num parque de diversões em sua cidade natal, a qual recebeu mais de 35 mil visitantes. Em 2009, foi um dos representantes do Brasil na 53ª Bienal de Veneza.
Diógenes Moura nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Passou a infância entre os quintais, os pés de abiu e a linha do trem no arrabalde de Tejipió. Depois viveu 17 anos em Salvador, na Bahia, no bairro negro da Liberdade, quando a cidade ainda não havia perdido a memória. Vive em São Paulo desde 1989. É escritor, curador de fotografia e editor independente. Entre 1998 e maio de 2013 foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo onde realizou exposições e reflexões sobre o pensamento fotográfico e possibilitou o reconhecimento do acervo do museu – hoje com cerca de 700 imagens de fotógrafos brasileiros – como um dos mais importantes da América Latina. Premiado no Brasil e no exterior, só entende fotografia vendo-a como literatura. Em 2009 foi eleito o Melhor Curador de Fotografia do Brasil pelo Sixpix/Fotosite. No ano seguinte recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor livro de contos/crônicas com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Com o mesmo título foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2011. Acaba de finalizar seu novo livro, Fulana Despedaçou o Verso (Ed.TerraVirgem). Mesmo sem ter nenhuma expectativa em relação ao futuro da humanidade, atualmente trabalha na sua primeira novela, A Placa Mãe.